Jorge Alceu Bueno Mariano foi morto por policiais junto com outros três jovens em local onde receptavam produtos roubados

Jorge Alceu Bueno Mariano tinha 27 anos
Nelson Bortolin
Há dez meses, a professora Lúcia Solange Bueno perdeu o filho Jorge Alceu Bueno Mariano, de 27 anos. Ele e mais três jovens foram mortos por policiais no dia 19 de fevereiro, num galpão da Vila Casoni. Segundo a professora, todos estavam desarmados.
Somente no primeiro semestre, de acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate do Crime Organizado (Gaeco), foram 25 mortes em confronto com agentes de seguranças em Londrina.
Solange não reivindica a inocência do filho. “Mas ele não merecia morrer assim. Era um menino bom. Que fosse processado e julgado como manda a lei”, reclama. Ela acredita que Jorge foi morto como queima de arquivo.
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A professora é uma das representantes de 13 famílias londrinenses que viajaram a Curitiba dia 10 de dezembro. Elas reclamam que as autoridades locais não informam as circunstâncias das mortes e se os casos foram ou estão sendo investigados. E que, quando investigações são abertas, elas demoram demais.
Acompanhadas por Carlos Enrique Santana, representante do Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH), os familiares foram ouvidos na capital pelo Conselho Permanente de Direitos Humanos do Estado do Paraná. E também pelo coordenador do Gaeco, Leonir Batisti.
Em entrevista à Lume, o promotor explicou que é função do grupo investigar as mortes ocorridas em confronto com a Polícia. “Recebemos a comunicação dessas mortes e já mandamos imediatamente para o promotor do local onde aconteceu o caso.”
Os processos demoram “invariavelmente”, admite ele. “Eu expliquei que esse tipo de processo envolve júri e é mais complicado porque tem três fases, ao contrário do processo comum que tem só duas fases.”
Batisti também alega que a defesa dos policiais, assim como de qualquer réu, busca postegar os prazos o máximo possível. “Expliquei que a defesa tem todo o interesse de produzir a maior parte de provas para atrasar o processo. Que a Justiça tem que seguir os trâmites, falei da complexidade também do nosso sistema das nossas leis.”
Questionado se falta transparência por parte das autoridades locais, já que as famílias tiveram de ir até Curitiba, ele respondeu: “Se eu soubesse, teria feito um contato com o promotor do caso (em Londrina) pedindo que recebesse as famílias.”
Os familiares tinham audiência agendada com a promotora Suzana de Lacerda, na cidade, dia 19 de novembro, mas, por motivo de saúde, ela cancelou o encontro. “As famílias têm aquela angústia compreensível, mas que precisam entender que um processo pode passar três meses sem que aconteça nada nele. Eu gostaria que as coisas acontecessem no prazo razoável, mas não é assim.”
O integrante do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Carlos Enrique Santana, enviou neste segunda-feira (16) uma lista de 24 mortes a Leonir Batisti. O promotor se comprometeu a buscar informações sobre os casos para repassar às famílias.
A reportagem aguarda posicionamento da Polícia Militar a respeito das ocorrências.
Já a Secretaria da Segurança Pública do Paraná enviou uma nota dizendo que “tem como premissa determinar investigação de todo e qualquer caso que chegue oficialmente (canais oficiais) a conhecimento das instituições policiais, pois não compactua com condutas irregulares de nenhum integrante das forças, ou qualquer órgão ligado à Pasta. Sobre os casos em específico, sugerimos à reportagem a procurar as instituições supostamente envolvidas para saber sobre os andamentos.”
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