Por Paula Vicente, integrantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB/Londrina

Nesta semana em que se marca o Dia Internacional da Mulher, peço licença ao meu parceiro Rafael para escrever, do alto do meu local de fala, sobre o que é ser mulher e, principalmente, o que significa o 8M.

Escolhi como título desta coluna o nome de mulheres fortes, que, com suas lutas, mudaram suas realidades e possibilitaram que eu pudesse escrever livremente sobre o que eu bem entendo aqui, e que eu possa falar abertamente por aí (e olha que falar é das coisas que eu mais gosto de fazer).

Nossa história, por ter sido escrita e perpetrada por homens, pouco fala da luta das mulheres, mesmo a luta tendo sido árdua e constante. Lutaram para serem reconhecidas como seres humanos e não propriedades, lutaram para poderem recusar a maternidade, lutaram para poderem trabalhar e sustentar a si e sua família, lutaram para poderem votar e escolher seus governantes, lutaram, sobretudo, por liberdade.

Dito isso, enfrentemos a dura realidade que se prostra diante de nossos olhos.

No ano passado o número de casos de feminicídio no Brasil aumentou 7,3%, 1.314 mulheres foram mortas apenas pelo fato de serem mulheres, é quase uma vítima a cada 7 horas. Uma mulher a cada 7 horas perdeu a vida por ter nascido mulher. 

Isso significa que somos mortas pelo ódio impregnado na sociedade, pelo fato de que somos, ainda hoje, consideradas propriedades dos homens, pais, maridos, irmãos, namorados, vizinhos, amigos, tios, colegas de trabalho, desconhecidos. Não somos, ainda, vistas como totalmente capazes de nos guiarmos, auto-centrarmos, decidirmos sobre nossas vidas.

Para mim, o caso mais recente e mais emblemático foi o assassinato de Larissa Aurélia da Costa Silva, que tinha 17 anos e foi decapitada pelo ex-namorado, que caminhou pelas ruas da cidade com sua cabeça nas mãos e a abandonou na porta da casa de sua mãe.

Ele não aceitava o fim do relacionamento.

Esse crime é o mais perfeito exemplo do ódio que nós enfrentamos todos os dias. Por não aceitar que “sua propriedade” não quisesse mais ocupar esse papel, o assassino de Larissa decidiu que ela não merecia mais viver e, além disso, que deveria ser exposta como objeto descartável. Foi mais a fundo e resolveu causar ainda mais dor, depositando a cabeça da menina no portão da casa de sua mãe, outra mulher, que merece sofrer, afinal, é a culpada por não ter sabido “educar” sua filha.

Mas a misoginia não está apenas nos crimes bárbaros que cometem contra nós, ela está do dia a dia, e vem de onde menos imaginamos. A misoginia está no seu amigo querido que interrompe o que você está falando para te explicar o assunto, inclusive se o assunto diz respeito à saúde feminina, o que, com certeza, você sabe mais do que ele; está no seu colega de trabalho que toma os créditos por projeto ou conquista sua; está no assobio do cara estranho na esquina. Tudo isso é o famoso, e já falado, machismo estrutural, é ódio impregnado, tão bem disfarçado que nem imaginamos ser ódio.

Pois bem, nossas heroínas citadas, com exceção de Maria da Penha, todas perderam a vida lutando para que nós possamos continuar lutando, nossos direitos foram conquistados com muito sangue derramado e são os primeiros a serem ameaçados em tempos sombrios como os que enfrentamos. 

Nossa luta é perene, por isso, devemos permanecer aguerridas, unidas e fortes, para que não percamos os direitos conquistados e, sobretudo, para que conquistemos a tão sonhada liberdade plena, o que implica dizer: igualdade. 

Quando esse dia chegar, quando alcançarmos a liberdade e igualdade plenas, abarcando todas as mulheres do globo, com suas peculiaridades e necessidades, teremos, enfim, honrado a luta de Tereza de Benguela, Dandara dos Palmares, Zuzu Angel, Maria da Penha Maia Fernandes, Marielle Franco, e todas as outras mulheres que deram suas vidas, voluntária ou involuntariamente, para que possamos seguir lutando.

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