Com saúde debilitada, reação deles à Covid-19 preocupa; Movimento avalia como positiva estratégia de abrigo do município

Cecília França

Levando-se em conta apenas o fator idade, pessoas em situação de rua em Londrina não seriam consideradas de risco para a Covid-19. A maioria tem entre 25 e 50 anos, de acordo com a pesquisa Pop Rua, divulgada no fim do ano passado, que identificou 930 pessoas nesta situação na cidade. No entanto, as condições de vida e de saúde a que estão submetidas preocupa órgãos públicos e representantes. Por isso, o município ampliou o número de vagas para isolamento, em parceria com a Arquidiocese, como forma de protegê-los.

A estratégia é considerada positiva por André Luís Barbosa, coordenador municipal do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). “Se a nossa sociedade se precaver o vírus vai chegar menor à população de rua. Agora, se um ou dois tiverem contato, a gente não sabe como vai ser, porque eles não se alimentam bem, muitos fazem uso de drogas, têm problemas de bronquite, então, o sistema imunológico está debilitado. Com a sociedade se isolando, e eles também, um protege o outro”, avalia.

Josiani Nogueira, diretora da Proteção Social Especial da Secretaria de Assistência Social, revela a mesma preocupação. “Como vai ser a reação do organismo dos moradores de rua – que não se alimentam tão bem, que fazem uso abusivo de álcool e drogas – ao Covid, a gente não sabe. É uma incógnita para nós e para a ciência”, afirma.
Ainda não há casos oficiais de Coronavírus entre a população de rua de Londrina, no entanto, a morte de uma mulher na última semana, no Hospital Zona Sul, deixou suspeitas. Ela não realizou o teste e entrou em óbito, oficialmente, por insuficiência respiratória. Barbosa diz a possibilidade de um surto entre eles está monitorada diariamente.

Desafio
Em parceria com a Arquidiocese, Londrina ampliou em 150 o número de vagas em abrigos para receber a população de rua durante a crise do Coronavírus. Os espaços já existentes para pernoite também vão passar a atender 24 horas e, com isso, existe a possibilidade de ofertar até 305 vagas. A ida para os abrigos deve ocorrer por vontade própria do morador e depende de uma avaliação prévia de saúde. A ideia é que eles permaneçam nos locais até que as recomendações oficiais para isolamento diminuam.

Josiani Nogueira diz que a meta é receber todos que queiram estar isolados. Ela explica, no entanto, que este isolamento traz consigo inúmeros desafios, já que muitos se recusam a ir, outros não aceitam permanecer e há, para muitos, a dificuldade de superar dependências químicas. “Tem um público na rua que não quer acolhimento, que é muito dependente de álcool e drogas, que não consegue ficar. Para quem permanecer na rua será feito um plano de atendimento em parceria com a saúde”, explica.

André Barbosa acredita que as vagas ofertadas serão preenchidas. Mas não há vagas para todos, esta é uma realidade. Ele aposta também na reintegração de muitos moradores às suas famílias. “Pessoas que vivem em situação de rua têm família também. Estão na rua porque quebraram os vínculos familiares, mas a gente acredita que nesse momento muitas famílias se sensibilizem e agreguem de volta essas pessoas”.

Barbosa rende elogios ao programa desenvolvido pelo município e parceiros. De acordo com ele, a cidade está à frente de capitais como Curitiba, que não ofereceram opções à população de rua. “Queria parabenizar a comunidade de Londrina que está ajudando, o fator solidário aqui, em comparação com outras cidades, é muito forte. Os isolamentos estão de parabéns”, elogia.

Barbosa enxerga no isolamento uma oportunidade de mudar o futuro de parte da população de rua por meio da ressocialização. “Um morador de rua que é socializado o Estado economiza, porque ele volta a dar valor aos princípios morais e éticos e a se manter com seu próprio trabalho”, ressalta.

Doações
A alimentação para os abrigados é provida pela Prefeitura e por doações da comunidade, que estão sendo recebidas pela Arquidiocese no Espaço Dom Bosco da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora (Rua Dom Bosco, 55). Até a última semana, mais de quatro toneladas de alimentos já haviam sido arrecadados e a campanha continuará aberta por tempo indeterminado. Alimentos excedentes serão doados a famílias em situação de vulnerabilidade.

Quem preferir pode fazer sua doação em dinheiro na conta abaixo*:

Mitra Diocesana de Londrina

CNPJ: 75.228.825/0001-67

Sicoob

Ag: 4355

Conta Corrente: 67.124-0

*conta aberta somente para este fim

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