Brasileira relata rotina de distanciamento social na universidade Kaust, uma pequena comunidade de 7 mil pessoas à beira do Mar Vermelho

Cecília França

O Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, terminou no último domingo de uma forma diferente na Arábia Saudita. Para evitar aglomerações e conter a proliferação do novo Coronavírus a monarquia saudita determinou lockdown de 24 horas no feriado, conhecido como Eid al-Fitr. A brasileira Yona Ribeiro, 36, acompanha tudo de Thuwal, cidade próxima a Jeddah, onde vive há pouco mais de um ano com o marido e a filha de quatro anos.

“O Ramadã é um momento de muita festividade para eles. Apesar de ter o jejum ao longo do dia, quando o Sol se põe eles se juntam com amigos e familiares. Neste ano não teve nada disso por causa do toque de recolher”, relata. Ribeiro e a família vivem em um ambiente muito particular, dentro de uma universidade particular chamada Kaust (King Abdullah University os Science and Technology), à beira do Mar Vermelho, onde ela e o esposo trabalham. A universidade funciona como uma pequena cidade, onde vivem 7 mil pessoas das mais diferentes nacionalidades.

Além das regras nacionais de distanciamento social, a direção da Kaust também determinou normas próprias. Os impactos imediatos na rotina da brasileira foram semelhantes aos vistos na maioria dos países: escolas fechadas e pais trabalhando em casa. Ribeiro conta, no entanto, que houve diferentes momentos de restrições na região.

“Hoje podemos sair entre as 6 e as 17h e das 22h à meia-noite. No Ramadã houve maior flexibilização dos horários, no entanto, não podemos nos encontrar com ninguém”, relata. Quem ousar infringir as regras pode arcar com uma multa altíssima, equivalente a R$ 14,8 mil.

Campus da Kaust. Foto: Divulgação

Via Whatsapp, a brasileira, natural do Rio de Janeiro, conversou com a Lume. Segundo ela, um plano de relaxamento das medidas foi divulgado ontem e prevê o fim do toque de recolher até o dia 21 de junho. Mas tudo pode mudar conforme o avanço da pandemia.

Até hoje a Arábia Saudita registrava 76.726 casos de Covid-19 e 411 óbitos, um dos menores índices de mortalidade do mundo.

Leia o depoimento completo.

“Desde o início de março houve o fechamento da escola e eu e meu marido passamos a trabalhar em casa. Houve diferentes momentos de restrições e isso também depende da região do País. Atualmente podemos sair entre as 6 e as 17h e das 22h à meia-noite. No Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos (neste ano teve início em 23 de abril), houve maior flexibilização dos horários. No entanto, não podemos nos encontrar com ninguém. Quem infringe a regra, está suscetível a multa de 10.000 Saudi riyal (cerca de R$ 14,8 mil). O uso de máscaras é obrigatório apenas em ambientes fechados.

A gente mora em um ambiente muito particular, em uma universidade que se chama Kaust. É como se fosse uma cidade, com 7 mil habitantes. Como a gente está nesse microambiente, a universidade estabeleceu um grupo de ação de crise para a pandemia. Aqui não é permitido sair da universidade, nem entrar de fora. Quem sai e entra já fica em quarentena. Nenhum encontro é permitido. Nós tivemos, até então, 16 casos ativos, sendo que uma pessoa ainda está em tratamento.

Aqui dentro a gente tem o básico: supermercado, farmácia e tem autorização para sair no horário do toque de recolher. Os restaurantes estão fechados, (funcionando) apenas para retirada e entrega. A gente pode ir ao ar livre, o que tem sido muito bom para a gente, respeitando o distanciamento social. Recebemos hoje o plano de ação e, a partir do dia 28 o toque será estendido até cinco 5 da tarde, depois até as oito e, a partir de 21 de junho, teoricamente, acaba o toque de recolher.

A gente tem acompanhado o que está acontecendo no Brasil e visto que o cenário está triste, há uma falta de liderança, uma incoerência de posicionamento entre governos estaduais e federal, a população se sente muito mais perdida. Acho que aqui a situação estava mais clara desde o início.”

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