Paranaense teve seu trabalho como faxineira totalmente afetado pela pandemia e manda recado aos brasileiros: “Esqueçam beijos e abraços”

Cecília França

A Alemanha foi apontada como um exemplo de sucesso para o mundo na contenção do novo Coronavírus. Em grande parte, a estratégia da chanceler Ângela Merkel funcionou devido ao comprometimento do povo alemão, na visão da brasileira Maria Aparecida de Andrade, 53, que vive em Frankfurt há 17 anos. Apesar de grupos terem realizado manifestações contrárias ao prolongamento das restrições, pouco antes do início da reabertura, 15 dias atrás, Andrade vê esses movimentos como isolados.

“Os alemães trabalham muito com sistema de prevenção e são muito disciplinados. Quando a senhora Merkel, nossa Chanceler, vem em rede nacional citar as medidas a serem tomadas, todos seguem à risca, não há essa distorção, como no Brasil. Nada de carreatas para abrir ou fechar lojas. Todos se uniram e, mesmo com medidas radicais, todos obedecem, mesmo que discordem”, opina.

O relaxamento das regras de isolamento no País começou com a reabertura de bares, cafés e restaurantes e, agora, o governo teme uma nova onda de contaminações por Covid-19, mesmo com as normas de distanciamento social.

A brasileira, natural de Jandaia do Sul (PR), conversou com a Lume poucos dias antes do início da reabertura gradual sobre como a pandemia afetou sua vida social e seu trabalho como faxineira.

“Foram quase dois meses de agenda bem vazia. Teve semana de trabalhar poucas horas, mantendo sempre dois metros de distância, para aquelas famílias que aceitavam que eu fosse trabalhar”, relata.

Andrade se preocupa com a situação do Brasil, que acompanha pela internet e pelo contato com a família, e manda um recado para os compatriotas: “Que usem máscaras ao sair de casa; que não mantenham o hábito de aperto de mão; que esqueçam beijos e abraços”.

Até ontem a Alemanha contabiliza 183.294 casos de Covid-19 e 8.600 óbitos.

Leia o depoimento completo:

“Passei a trabalhar bem menos que o normal desde que entramos no distanciamento social, em meados de março, quando fecharam as escolas no Estado de Hessen, onde moro. Muitas famílias passaram a fazer home office e a cancelar meu trabalho de faxineira, então, foram quase dois meses de agenda bem vazia. Teve semana de trabalhar poucas horas, mantendo sempre dois metros de distância, para aquelas famílias que aceitavam que eu fosse trabalhar. Quanto à rotina social e de lazer, foi totalmente extinta. Ida a supermercados ainda tenho traumas, pois é controlado o número de pessoas que entram e ainda não me acostumei.

Como sou adulta e sozinha já estou voltando a trabalhar para algumas pessoas que eu não ia há seis, sete semanas, usando luvas, máscara e álcool em geral ou líquido. Desde domingo 10 de maio já podemos encontrar pessoas de outra família, sempre mantendo distância de dois metros sem beijos e apertos de mão. Não conheço ninguém que tenha sido infectado, graças a Deus.

Como tinha férias programadas para o Brasil em 29 de março, e havia algumas economias para a viagem, consegui sobreviver com isso, aprendendo a economizar ainda mais. Mas se (a quarentena) durasse mais tempo, com certeza seria mais difícil. Sou autônoma e sempre fui muito responsável em relação a contas, isso pode ter ajudado.

Os alemães trabalham muito com sistema de prevenção e são muito disciplinados. Quando a senhora (Angela) Merkel, nossa Chanceler, vem em rede nacional citar as medidas a serem tomadas, todos seguem à risca, não há essa distorção como no Brasil, de ir contra ou a favor, nada de carreatas para abrir ou fechar lojas. Todos se uniram e, mesmo com medidas radicais, todos obedecem, mesmo que discordem. Então funciona. O isolamento começou com proibição até para não termos contatos com os motoristas dos ônibus (aqui não há cobradores). Não havia controle sobre vendas de bilhetes, andei várias vezes sem pagar, pois não se podia chegar perto do motorista. Nas farmácias, mercados e padarias foi controlado o número de pessoas que entravam, parques foram isolados com fitas, proibindo o acesso e, como disse, a disciplina e respeito fez com que ficássemos muito isolados e realmente ninguém se visitava. Assim o vírus pode ser literalmente contido.

A situação do Brasil é noticiada sempre em criticas ao presidente Bolsonaro. Eles o comparam com o presidente Donald Trump, sempre o criticando, que ele é muito estranho. Passou também um especial sobre Manaus (as mortes). Eu me informo pelas redes sociais, pela família, ouço rádios de Londrina (onde morei) e, apesar de ter acesso a canais de televisão não vejo os jornais em decorrência do fuso horário.

O recado que eu daria para os brasileiros é que todos aqueles que podem ficar em casa, que fiquem. Que usem máscaras ao sair de casa; que não mantenham o hábito de aperto de mão; que esqueçam beijos e abraços; que comprem só o necessário, pois a parte da economia pode trazer o desemprego; e que higienizem em exagero mesmo, pois vai dar resultado positivo. Que sejam todos disciplinados que isso vai passar.”

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