Artigo do Professor Reginaldo Moreira, aprovado para o evento, retrata o processo de construção do filme “Meu Amor, Londrina é Trans e Travesti”

Cecília França

Quando o desejo de Christiane Lemes de resgatar e registrar a história de luta da comunidade trans e travesti de Londrina encontrou a capacidade de criação do jornalista e professor Reginaldo Moreira, começou a nascer o documentário “Meu amor, Londrina é trans e travesti”. Lançado em 2019, após três anos de trabalho multidisciplinar com estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e participação direta do Coletivo Elitytrans, o filme agora chega ao V Congresso Internacional de Direitos Humanos de Coimbra.

O processo de construção do documentário se tornou base para o artigo “A reparação histórica e social das protagonistas travestis brasileiras do Norte Pioneiro do Estado do Paraná: o documentário como direito à construção de novas narrativas na cidade de Londrina“, inscrito por Moreira e aprovado para apresentação no evento, que acontece de maneira remota de 13 a 15 de outubro.

Moreira é graduado em jornalismo, Mestre em Gerontologia e Doutor em Ciências da Comunicação. Desde 2013, quando chegou a Londrina, atua como docente da UEL. Com uma trajetória profissional focada em comunicação popular e comunitária, aproximou-se da comunidade LGBTQIA+ local, mais especificamente do público transexual e travesti. Foi dele a produção do programa de rádio “É Babado Kirida”, veiculado pela Alma Londrina.

Com a produção do artigo científico para o congresso de direitos humanos Moreira busca continuar jogando luz sobre o público T. “Há necessidade de se refletir sobre essa reparação histórica, essa invisibilização que a sociedade faz com as travestis e as transexuais, as colocando em lugares pré-determinados pelo estigma social que elas sofrem, como a prostituição e a marginalidade. É preciso mostrar outros lados, outras facetas”, destaca o professor.

Cartaz de divulgação do documentário

O processo de criação do documentário demorou três anos e envolveu vários estudantes de pós-graduação e de graduação em jornalismo, relações públicas, entre outros cursos. O Coletivo Elitytrans, que tem Christiane Lemes e Melissa Campus como fundadoras, teve participação ativa na produção.

“O diferencial é que foi uma narrativa que elas criaram no documentário, protagonizada por elas mesmas, por quem vivenciou isso. Este documentário joga essa luz a uma população que, historicamente, tem sido morta nos seus direitos, desconsiderada na sua saúde integral, nos direitos ao trabalho, à moradia, a uma vida digna e cidadã”, destaca Moreira.

Além de Christiane e Melissa, foram ouvidos para o documentário Edison Bezerra, Vanessa Murça e Marla Rocha. O filme completo pode ser assistido no Youtube.

Equipe envolvida na produção no dia do lançamento do documentário. Da esq. para a dir.: Gabriela Lupianhe, Jair Segundo, Gabrieli Chanthe, Herbert Proneça, Christiane Lemes, Reginaldo Moreira, Melissa Campus, Maria Caroline Monteiro e Bruna Melo

Mídia excludente

O processo de invisibilização e patologização de trans e travestis se reflete em como a mídia as representou, na avaliação de Moreira. A esmagadora maioria das referências a estas populações em jornais e outros veículos ainda se restringe às páginas policiais.

“Essa representação midiática vem se constituindo na imprensa e, quando chega na Ditadura Militar, na fundação do primeiro jornal LGBTQIA+, o Lampião da Esquina, é a primeira vez que a população gay cria suas próprias narrativas na imprensa alternativa. Mesmo aí, nessa primeira conquista da comunidade gay, no conselho editorial nós não vamos encontrar nenhuma travesti ou transexual fazendo parte”, reflete o professor.

Desconstruir essas narrativas hegemônicas está entre as intenções de Moreira com a apresentação do artigo no Congresso de Direitos Humanos.

O Congresso

Apesar de acontecer este ano de forma remota, em função da pandemia do novo Coronavírus, é preciso fazer uma inscrição para participar do V Congresso Internacional de Direitos Humanos de Coimbra. Os interessados devem acessar o site www.cidhcoimbra.com

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