Morte de Lucas Hendrik Riedlinger dos Santos, em julho do ano passado, teria sido por vingança

Nelson Bortolin

O Ministério Público do Estado do Paraná denunciou os policiais militares Ederson Aparecido Dias, Nelcindo Zanchi Júnior, Victor Hugo de Mattos Bocate e Fábio José da Rocha, de Londrina, pelo homicídio do jovem Lucas Hendrik Riedlinger dos Santos, 22 anos, ocorrido dia 12 de julho de 2019, no Conjunto Mister Thomas (zona norte de Londrina).

Segundo os autos, a vítima foi alvo de dois tiros de submetralhadora feitos pelo PM Dias e três de uma carabina, por Zanchi Júnior. No entanto, “todos os denunciados concorreram para o crime, pois agiram previamente ajustados entre si, em comunhão de esforços e vontades, um aderindo à conduta delituosa do outro, com a finalidade de matarem” o jovem.

Ainda de acordo com o MP, o crime foi cometido por motivo torpe, pois foi praticado em retaliação a uma denúncia que o pai da vítima havia feito horas antes à 4ª Companhia Independente da Polícia Militar. Durante uma abordagem, os mesmos policiais teriam tomado o dinheiro referente ao benefício do INSS que o pai de Lucas acabara de receber e não devolvido a ele.

Segundo a denúncia, o crime foi cometido “mediante recurso” que dificultou a defesa do ofendido, pois, além de estarem em “vantagem numérica e bélica” em relação à vítima, os “denunciados efetuaram os disparos contra Lucas Hendrik Riedlinger dos Santos de inopino, sem lhe darem voz de abordagem, enquanto ele estava na direção” de uma motocicleta.

A versão dos policiais que consta do relatório de indiciamento feito pela Polícia Civil é de que abordaram o jovem pelo fato de ele estar sem capacete. E que, durante a abordagem, Santos teria descido da motocicleta e sacado uma arma de fogo, “não obedeceu a voz de abordagem e apontou a arma para a equipe policial”, que então efetuou os disparos para “cessar a ameaça”.

Mas o Ministério Público acusa os PMs de fraude processual. Eles teriam “inovado” o “estado de lugar, coisa e pessoa” da cena do crime ao retirarem o capacete da cabeça do jovem e jogado o equipamento rua abaixo.

Vice-coordenador da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da OAB Londrina, Rafael Colli disse à reportagem da Lume: “Infelizmente, essa situação não é raridade em nossa cidade. Vejo muitos casos de violência policial em que há execução sumária de pessoas e alteração da cena do crime para criar uma narrativa de resistência ou reação da vítima”.

Segundo ele, “no imaginário da PM, toda pessoa preta e favelada é um potencial criminoso e uma ameaça perigosa à sociedade”. “Ainda pior, eles são levados a acreditar, pelo sistema opressor da militarização, que o trabalho da polícia é neutralizar, a qualquer custo, pessoas que possam, naquele momento, ou algum dia, serem ameaças à sociedade. Mesmo que isso seja feito através de abordagens violentas e assassinatos de pessoas que sequer são efetivamente perigosas ou ligadas à criminalidade.”

O que diz a defesa

Para o advogado dos quatro policiais, Eduardo Miléo, a denúncia do Ministério Público é um “ato precipitado”. Miléo diz que a vítima integra família de narcotráfico no bairro onde mora. “E em investigação defensiva, se sabe que o capacete foi entregue pelo grupo criminoso, sem que se investigasse a possibilidade de manipulação dessa prova pelo narcotráfico.”

De acordo com a defesa, os quatro PMs seguem trabalhando normalmente. A assessoria de imprensa da Polícia Militar disse que a instituição não vai se manifestar.

A Lume não conseguiu localizar a família da vítima.

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