Cecília França
colaborou Nelson Bortolin
Foto em destaque: Facebook do Flores do Campo
Moradores da ocupação Flores do Campo, em Londrina, relatam dias de tensão ao longo desta semana, após o assassinato brutal de um policial militar na Zona Norte, na noite da última segunda-feira. Segundo eles, policias têm realizado abordagens violentas no local. “O pessoal não dormiu. A noite toda a polícia lá, já começou as agressões. O pessoal que saiu cedo pra trabalhar…nossa, ninguém merece isso: sair pra trabalhar e apanhar”.
Este foi o relato enviado por uma moradora a uma amiga no dia seguinte à execução do soldado Bruno Felipe Monteiro do Prado. Ele estava em uma moto quando foi acuado por dois veículos e atingido por cerca de 15 disparos. Um dos carros utilizados pelos criminosos foi encontrado em chamas próximo ao ‘Flores’. A investigação do caso está em andamento.
Nenhum dos moradores quis dar entrevistas. O padre Dirceu Fumagali, Vigário Social da Arquidiocese, esteve na ocupação na tarde de ontem e conta o que ouviu: “O relato foi de que as coisas ficaram muito tensas na noite de terça. Na madrugada um policial abordou um rapaz de bicicleta e acabaram usando da violência física contra ele. Outro relato foi que ontem, durante o dia, teve outra intervenção usando de truculência, em uma casa. Tem um clima não só de tensão, mas atos mesmo pontuais (acontecendo)”.
Para Fumagali, existe uma tendência de criminalização dos pobres periféricos e certas comunidades são “eleitas” como criminosas. “Já foi São Jorge, João Turquino, União da Vitória…há algum tempo Londrina tem elegido o Flores. Normalmente são essas comunidades com sinais de resistência, de não aceitar facilmente a situação de exclusão. A polícia cumpre esse papel de criminalizar e a sociedade acha que é isso mesmo. É o que está ocorrendo e não é nada de novidade”, analisa.
O padre afirma que “não são as pessoas que supostamente cometeram crimes que estão amedrontadas, mas a comunidade como um todo se sente ameaçada, se sente pressionada”. E acrescenta que o clima de tensão em razão da ação policial neste momento atinge toda a periferia.
“Ontem era para eu fazer uma visita em outra comunidade na Zona Norte e fui aconselhado a não ir. O clima espraia nessa realidade periférica. Essa capacidade de amedrontar e acuar os pobres eles (policiais) têm”.
Não é de hoje que moradores do Flores do Campo relatam ações violentas da polícia. No ano passado, a Comissão de Direitos Humanos da OAB presenciou um dos momentos de tensão entre a população quando estavam no local justamente para averiguar essas denúncias.
O que diz a PM
A assessoria da 4a Companhia Independente da Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento da Zona Norte, diz que o policiamento está reforçado em toda a área e não há indícios de que os criminosos que assassinaram o soldado Prado sejam daquela área. Sobre ações violentas, diz:
“Estamos acompanhando o patrulhamento nas ruas e não temos tomado conhecimento de tais atos. Se houve qualquer caso de abuso as pessoas devem procurar a Corregedoria da PM”.
De acordo com a assessoria, o trabalho principal em respeito ao assassinato do policial está sendo feito pelo serviço de inteligência.
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