Programa Mães da Favela ON nasceu da necessidade de superar o isolamento digital em comunidades mais vulneráveis de todo o país

Cecília França

Foto em destaque: Assessoria CUFA/PR

A Central Única das Favelas (CUFA), a Comunidade Door e o Alô Social estão implantando o maior programa de inclusão digital do país e Londrina vai fazer parte desta grande ação. O Mães da Favela ON vai atender mil mulheres em 20 localidades da região com chips de internet gratuita por seis meses. O objetivo do programa, que tem a parceria de mais de dez empresas, é democratizar o acesso à web e dar ferramentas para que essas comunidades retomem suas atividades, superando o isolamento digital.

José Antonio Campos Jardim, presidente estadual da CUFA e coordenador do Mães da Favela no Paraná conta que a iniciativa nasceu a partir de relatos de mães atendidas pela entidade que, além das dificuldades diárias e as impostas pela pandemia, enfrentam obstáculos para garantir o acesso dos filhos ao ensino remoto por não possuírem os equipamentos necessários ou a internet disponível para as aulas.

“É claro que nós pensamos na alimentação das famílias ao fazer com que alimentos e transferência de renda chegassem às famílias, mas muito nos incomodou na educação das crianças. Quem conhece esta realidade de perto sabe que, muitas vezes, enquanto a mãe do asfalto está preocupada com o reinício das aulas, as mães da favela estão tentando salvar a vida dos filhos naquele dia. Manter as famílias conectadas é uma necessidade de sobrevivência”, afirma Jardim.

Em todo o Paraná vão ser distribuídos 10 mil chips, com internet grátis por seis meses, às mães previamente cadastradas no programa. Londrina vai receber mil unidades. “Elas, as mães receberão durante 6 meses internet 24 horas, WhatsApp 24 horas, e ligação para o país inteiro durante 24 horas. No entanto, essas mães poderão empreender, seus filhos usar para estudar e para as mais diversas iniciativas e ações que elas desejam”, diz Luana Oliveira, integrante da CUFA em Londrina.

Muitas das mães atendidas na cidade não têm sequer endereço, pois vivem em ocupações ou invasões não regularizadas pelo município. Nesses casos, ainda que tenham como pagar, o acesso a um serviço de internet fica impossibilitado, destaca Luana. A ativista se diz emocionada por poder proporcionar inclusão digital a essas mães, grande parte trabalhadoras do mercado informal.

“A condição do trabalho informal no Brasil aumentou muito, representa quase metade da economia brasileira (42%), então, quando você entrega um chip para uma mulher que vai poder fazer um serviço de manicure, um bolo de pote, um chinelo bordado e divulgar nas redes sociais, que não vai precisar sair de casa pra criar filho de playboy, vai poder cuidar do filho dela, você pode mudar a relação delas com a informação e a visão de mundo”, opina.

Luana destaca que 14 milhões de pessoas vivem em favelas em todo o país e movimentam R$ 13,2 trilhões por ano. Uma economia do tamanho da Suíça. “O único braço do Estado que está nas favelas é a polícia. Hoje (sexta) estou fazendo cadastramento da Bratac e tem muita gente que mora e não tem nem endereço, então o Estado falha em tudo”, lamenta.

De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC), divulgada em abril, um em cada quatro brasileiros não têm acesso à internet. Isso representa cerca de 46 milhões de pessoas.

Em todo o Brasil, o programa Mães da Favela ON pretende conectar 2 milhões de pessoas até julho de 2021. Para que a plataforma seja aproveitada como uma ferramenta de retomada econômica e educacional nesses territórios, o projeto vai enfocar o acesso aos conteúdos voltados à educação e ao empreendedorismo. Vão ser disponibilizados pontos de internet em 150 complexos de favelas nos 26 estados do país mais o Distrito Federal, além da distribuição de 500 mil chips para mães cadastradas nas bases da CUFA em quase cinco mil favelas.

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