Com celebrações restritas ou canceladas por causa da pandemia, resgatamos as belezas das festas em honra a Nossa Senhora Aparecida e de Nazaré

Olga Leiria, especial para a Lume

Acreditar em algo que não se vê, somente se sente. Podemos definir assim as romarias. Sentimento de fé e agradecimento ficam no ar e transparecem em cada romeiro que se vê, ou nas histórias de milagres que se escuta. São doenças que somem sem nenhuma explicação médica, a conquista da tão sonhada casa própria, um diploma, o sonhado casamento, o desejo realizado de um filho. São tantos os milagres que as igrejas católicas separam um local apenas para demonstrar o quão grande é o poder de sua mãezinha, Nossa Senhora.

Assim é em Belém, Pará, e em Aparecida, São Paulo, onde acontecem as maiores romarias do país: o Círio de Nazaré e a de Nossa Senhora Aparecida, respectivamente. Este ano, no entanto, as duas celebrações foram abaladas pela pandemia. Em Belém não ouve a tradicional procissão; em Aparecida as igrejas tiveram sua capacidade reduzida. O momento atípico nos leva a rememorar o que já vivemos nessas duas grandes demonstrações de fé.

As duas santas possuem histórias parecidas. A de Nazaré, uma santa portuguesa, foi encontrada pelo caboclo Plácido em um igarapé, em 1700. Já Aparecida foi achada por três pescadores no rio Paraíba, em 1717. Há 300 anos essas santas de traços brasileiros – uma negra e outra com características indígenas – atendem aos pedidos e habitam os corações dos tupiniquins.

A princesa Isabel foi até Aparecida para pedir a graça de um filho. Ao conseguir, retornou ao santuário e deu como agradecimento da gestação a coroa e o manto que hoje a estátua original usa. Em Belém, desde o dia primeiro de outubro, tudo muda. A cidade tem sua atmosfera mudada, um sensação de bem paira no ar, talvez seja a  manifestação da fé do povo unido. No segundo domingo de outubro, 2 milhões de filhos agradecem a Nossa Senhora de Nazaré por suas graças alcançadas. Luzes são colocadas pela ruas, camisetas da santa enchem as barracas de camelôs. Caixas de som são colocadas nos postes e músicas religiosas são tocadas o dia todo. O Círio está chegando.

Romarias de bicicletas, motos, barcos, carros, dos Corredores de Rua, das crianças e depois de 15 dias do domingo do Círio, existe o Recírio para encerrar, quando a imagem peregrina da santa volta para o colégio Gentil, onde fica o ano todo. Uma imagem peregrina de 62 centímetros deixa os corações do fiéis inflados de alegria ao vê-la de perto (a original mede 28 cm). Braços estendidos na direção da berlinda, o choro não é contido ao ver “Nazinha” de perto. Por alguns instantes a impressão é que o tempo para.

Já a pequena cidade de Aparecida, de apenas 49 mil habitantes, fica grandiosa no dia 12 de outubro. São milhares de romeiros vindos de diversas partes do país, afinal, estamos chegando na casa da padroeira do Brasil. O estacionamento fica tomado pelas cores dos ônibus que chegam. Na estrada também avistamos romeiros vindo a pé para agradecer pelos milagres atendidos pela mãezinha. A basílica é tomada pelos peregrinos que ultrapassam 230 mil em apenas um dia.

Uma enorme fila se forma ao corredor onde dá acesso a imagem original de Aparecida. Fotos, rosários, velas e flores são estendidos em direção da mãe para serem benzidos. Olhos brilhantes fixados na direção da imagem, alguns funcionários pedem para a fila andar, mas diante do ícone é impossível passar rápido.

Nazaré e Aparecida, santas que conhecem como ninguém a fé e a força do povo brasileiro. Viva nossas santas com belezas ímpares!

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