Artistas formados pela Escola de Circo de Londrina contam como a diversão se tornou profissão e mudou suas vidas
Cecília França
A arte encanta, questiona, mobiliza. A arte assusta, surpreende, emociona. A arte tem o potencial de mudar vidas. Foi por meio da arte circense que Luiz Gustavo Moreira, 30, Karol Queisada, 32, Alisson Almeida, 26, e Nicole Feliz Rodrigues, 28, descobriram uma nova forma de viver. Cada um deles desbravou o próprio caminho, aqui ou no exterior. Em comum, têm a formação pela Escola de Circo de Londrina, por onde já passaram cerca de mil alunos somente no curso profissionalizante.
O que começou como uma diversão de crianças e adolescentes, terminou como carreiras e projetos de vida. Luiz e Karol permaneceram em Londrina, onde atuam como artistas e educadores sociais. Luiz relembra que teve contato com técnicas de circo por meio de um projeto social, na Zona Norte da cidade. Encantado, ele passou a levar a arte a sério e, em 2004, aos 14 anos, foi convidado a frequentar a recém fundada Escola de Circo, na época na Avenida Higienópolis.
“As aulas aconteciam todos os dias. Foi uma época de bastante esforço. Eu tinha, às vezes, que sair aqui da Zona Norte até a região Central a pé. Foram passando os anos, a formação foi ficando mais intensa e, em 2006, com 16 anos, eu já comecei a fazer uns pequenos trabalhos, que, inclusive, ajudavam a bancar o passe para eu ir treinar”, relembra.
No ano seguinte, surgiu o primeiro trabalho internacional, em festivais da Argentina e Paraguai, um marco na vida do jovem. “Foi uma experiência incrível porque, nunca na minha vida eu tive a oportunidade, por exemplo, de ficar hospedado em um hotel. Foi muito gratificante no final da adolescência poder mostrar para a minha família que aquela atividade que eu fazia poderia se tornar meu sustento”.
Luiz aprendeu capoeira, ginástica artística, circo e dança de rua. Em 2013, ingressou no curso de Educação Física na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e seguiu na qualificação como arte educador e formador de educadores, participando de cursos em instituições de referência, como Rede Circo Mundo Brasil e Cirque Du Soleil.
Atualmente, o artista atua como arte educador também em projetos vinculados à Secretaria de Assistência Social, trabalhando em acolhimentos, casas lares e abrigos. “Uma experiência incrível que venho tendo de 2019 pra cá”, define.

Artista circense, artesã, mãe. A adolescente Karol Queisada, então moradora da Zona Norte de Londrina, iniciou sua caminhada no circo aos 16 anos sem imaginar que poderia se tornar uma profissão.
“Entrei na Escola de Circo no ano de 2004, logo quando inaugurou, cursei os quatro anos e fui da primeira turma de alunos formados pela escola”, relembra. “O que me motivou foi que sempre gostei dos movimentos de plasticidade e elegância das ginastas e vi que no circo eu poderia aprender um pouco disso como artista circense”.
O que aprendeu Karol mostra nas apresentações da Troupe Aerocircus e também ensina como educadora da Escola de Circo.
“O circo certamente me abriu várias possibilidades e me mostrou um mundo mágico que eu não conhecia. Aprendi muito, não só tecnicamente, mas como pessoa também”, afirma. “Hoje vivo de circo com muito orgulho e amo o que faço”, garante.

Artista do Circo dos Sonhos e residente no Rio de Janeiro, o londrinense Alisson Almeida teve seu primeiro contato com o circo ainda menino, aos 11 anos, em um projeto social na Zona Norte. No início era uma brincadeira, um passatempo com amigos, mas o tempo foi passando e o interesse dele aumentando. Depois de dois anos, foi chamado para a Escola de Circo.
“Eu iria treinar duas vezes por semana, logo me interessei e fui. A evolução das aulas foram tão rápidas que já fui chamado para fazer parte do curso profissionalizante da escola, onde eu fiquei por três anos e meio”, relembra. A primeira oportunidade profissional – e, consequentemente, o primeiro salário – veio com a Troupe Aerocircus.
“Assim pude ajudar minha família que no início achou que era apenas uma brincadeira de criança. Foi muito bom porque eu pude comprar meu primeiro celular e com meu próprio dinheiro”, conta. Quando completou 18 anos Alisson recebeu uma bolsa de estudos de circo de quatro anos no Rio de Janeiro. Depois dessa experiência – afirma- viu que o circo era realmente seu sustento e sua arte.
“E não podendo esquecer onde tudo começou em minha vida circense que foi na Escola de Circo de Londrina. A escola foi realmente uma escola para mim, tanto como profissional quanto pessoal. Cada momento e aprendizado vivido ali foi válido para ser o artista e pessoa que sou hoje. Só tenho a agradecer a Deus e depois todos os responsáveis que fizeram parte disso e mudaram a minha e outras vidas”, emociona-se o artista.

“Começar a fazer circo foi como fazer terapia. Aprendi a me aceitar como pessoa, aumentou a minha autoestima e, em consequência, até o meu andamento escolar melhorou. Aprendi a me relacionar com as outras pessoas, fiz novos amigos, e isso para uma criança ou adolescente são coisas muito importantes”.
O relato é da artista Nicole Felix Rodrigues, formada pela Escola de Circo de Londrina em 2012 e residente hoje na Itália, onde trabalha com três companhias independentes. “Falo cinco línguas, já viajei para muitos lugares no mundo, e vivo do circo desde quando comecei na escola em Londrina”, relembra.
Nicole diz ter dificuldade para expressar em palavras a gratidão que sente pelo período vivido na escola de circo. “Minha vida mudou de verdade completamente depois que passei por ali”. Ela foi uma das participantes do Cabaré dos Ex-alunos, realizado nesta quarta-feira (28) dentro da programação do Festival de Circo de Londrina. “É muita emoção e nostalgia”, declara.
A artista nunca duvidou que era possível viver do circo, mas conta que enfrentou resistência da família. “Hoje entendo que era somente falta de informação. O ‘mercado’ circense é enorme e você pode trabalhar em muitas áreas. É todo um mundo a descobrir”, explica.
Quem se aventura?

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