A psicóloga londrinense Renata Bonicontro usa a leitura das cartas do tarô como ferramenta para fazer do autoconhecimento um estilo de vida
Por Mariana Guerin, jornalista e confeiteira em Londrina. Adoça a vida com quitutes e palavras
A pandemia ressignificou muita coisa para muita gente. Já estamos parcialmente isolados há oito meses, num mundo que não deverá ser o mesmo quando pudermos encontrar os amigos na mesa do bar com a segurança de uma vacina. Para muitos, as redes sociais tornaram-se companhia em horas de solidão, referência de notícias do mundo lá fora; para outros, renda que paga as contas no fim do mês. Mas muita gente já apostava no poder da conexão virtual antes mesmo de a rotina mudar por conta do novo coronavírus. A psicóloga e taróloga londrinense Renata Fernandes Bonicontro, 37 anos, é uma dessas pessoas.
Há três anos, ela mantém a página @imagensdoinsconsciente no Instagram, onde aborda diversos temas ligados ao autoconhecimento, aliando psicoterapia e tarô. “Meu intuito era desmistificar e passar para as pessoas como o tarô acessa a nossa energia psíquica, o nosso inconsciente. A página foi tomando proporções muito grandes e quando eu vi, já tinha milhares de seguidores e começou a tomar muito tempo de trabalho, ao mesmo tempo em que as consultas começaram a aumentar”, recorda Renata, que trocou seu emprego de psicóloga num órgão público da cidade para atuar em consultas particulares.

“Meu público é muito interessado em autoconhecimento. É um público que tem o interesse sobre o tarô e as cartas, mas o foco maior é a ideia do tarô como ferramenta terapêutica entre outras ferramentas terapêuticas que eu compartilho no meu perfil. Lá eu falo de um estilo de vida direcionado ao autoconhecimento.”
Segundo Renata, a internet facilitou muito seu trabalho: “Fez com que eu assumisse a minha atuação enquanto taróloga”, confessa. “No começo, eu não aparecia na página. Não tinha stories, era um conteúdo mais voltado para o funcionamento e significado das cartas do tarô. Com o tempo, o público foi pedindo para eu aparecer e quanto mais eu aparecia mais aumentavam as interações e o público”, comemora.
Hoje, a demanda por atendimentos é alta por conta das questões emocionais que afloraram durante a pandemia e Renata tem realizado cada vez mais atendimentos online. “Não vejo diferença entre atendimento online e presencial, até porque quando a gente fala de acesso ao conteúdo psíquico, a gente sai da ideia de espaço e tempo que a gente tem na consciência, que é justamente uma das dinâmicas do tarô. Esse acesso à energia psíquica não tem limitação”, opina a taróloga, que usa o reiki para potencializar seus atendimentos à distância.
“Todas as terapias que ajudam a gente a olhar para dentro, para nossa maneira de ser, nossa atuação como ser humano, todas as ferramentas que a gente tem disponíveis para isso são muito importantes, mas a gente precisa encontrar aquilo com o que a gente se identifica”, observa Renata, que começou a se interessar pelo tarô aos 17 anos.
“Minha mãe comprou um tarô e fez um jogo para mim. Tudo que ela falou naquele jogo aconteceu e eu fiquei muito intrigada porque eu não sou uma pessoa que acredita facilmente nas coisas. E eu me questionei muito como um jogo de cartas poderia, de alguma forma, prever o meu futuro, o que ia acontecer na minha vida”, lembra.
“Então fui atrás de estudar e compreendi como é a dinâmica de um jogo de tarô, o que é um oráculo, como ele consegue acessar nosso futuro, e me apaixonei. Por isso, nunca parei de estudar”, diz a taróloga, atentando que o estudo envolve tanto a teoria como a prática. “Eu jogava para muitas pessoas, principalmente para as mais próximas, e elas sempre voltavam com feedbacks positivos.”
Renata aproveitou o ambiente universitário da UEL (Universidade Estadual de Londrina), onde cursou psicologia, para explorar seu dom como taróloga. “Eu levava o tarô e acabava tirando para muita gente que via e pedia e depois de muito tempo voltava para me dar feedbacks positivos. As minhas amigas também sempre traziam outras pessoas, que sempre voltavam e me pediam para que eu fizesse disso um trabalho. Ao mesmo tempo, eu estava me formando psicóloga e a ideia era atuar como psicóloga”, rememora. “Eu costumava brincar que se nada desse certo na minha vida, eu poderia ser taróloga porque ainda teria uma clientela fiel.”

O preconceito com o tarô, na opinião de Renata, está ligado ao fato de as pessoas terem medo de olhar para dentro de si. “E o ceticismo é uma das maneiras de se esconder atrás desse medo. Também tem muito charlatão nesse meio.”
“Tem muita gente que faz um trabalho sério, mas tem muita gente que se aproveita”, destaca a taróloga. Segundo ela, muitos que buscam o autoconhecimento estão vivendo um momento de fragilidade. “É preciso abrir a intimidade e às vezes quando a pessoa vai buscar ajuda, encontra alguém mal intencionado e isso aumenta ainda mais o preconceito e dificulta a procura por terapias, psicoterapia ou qualquer ferramenta que possa auxiliar no processo de autoconhecimento”, avalia.
Criada no Jardim Araxá, Renata teve uma infância muito feliz ao lado dos pais e dois dois irmãos, “um cinco anos mais novo e o outro cinco anos mais velho” que ela. “Cresci feliz, brincando na rua, no bairro onde nasci. Tinha muitos amigos, a vizinhança toda tinha muitas crianças e adolescentes. Os adultos também se reuniam para fazer churrasco, festa junina na rua. Era tudo muito gostoso”, recorda a psicóloga, que viu sua vida tomar um rumo inesperado na adolescência, por conta de uma mudança brusca no padrão de vida da família.
“Minha adolescência foi um pouco difícil, a gente passou por uma dificuldade financeira grande, num período que já é de mudanças e transformações. Isso fez com que eu me fechasse. Eu sempre fui muito tímida e nessa época realmente me isolei. Cheguei a um estado depressivo do qual só fui começar a sair com uns 19 anos.”
“Ao mesmo tempo, foi uma lição para a minha vida. Aprendi a encarar as situações sob um novo ângulo. Nossa vida era bem tranquila em termos financeiros e ali eu aprendi a lidar com a realidade de maneira mais concreta. Aprendi a dar valor às coisas que têm valor, aprendi a ser resiliente”, analisa.
Como sempre gostou de estudar e de ler, sua natureza curiosa a levou a uma graduação em psicologia, com especialização em saúde mental. Paralelamente, ela tem uma formação técnica em massoterapia e atua com aplicação de reiki, além da interpretação das cartas do tarô.
Entre os sonhos já realizados, ter seu próprio escritório e realizar o atendimento com o tarô são alguns deles. “Hoje eu consigo ter uma rotina de trabalho diferente da que eu tive nos anos em que atuei na saúde pública, que era uma rotina de bater ponto. Com o tempo, aquilo foi me cansando demais, eu queria muito sair dali. E quando consegui ser exonerada, que é uma coisa que as pessoas têm tanto medo, para mim foi uma superação”, comenta a psicóloga, que também se diz realizada com a aquisição de um carro próprio, sonho da adolescência.
“Trabalhar com a minha profissão, com psicologia. Ter trabalhado com saúde mental, especificamente numa instituição de saúde mental, também foi um sonho realizado. Eu acho que já realizei muitos sonhos, mas o principal deles é ser mãe. Foi um sonho que eu demorei para ter, mas chegou um momento em que passou a ser uma prioridade. Foi bastante sonhada a minha maternidade.”
Acumulando as funções de mãe, esposa, psicóloga, taróloga, influenciadora digital e empreendedora, Renata aproveita suas horas vagas para estudar. “Eu gosto muito de ver filme, de ler, de estudar, de me aprofundar nas coisas que eu já estudo no tarô, por exemplo. Gosto de sair com os amigos, de conversar, de ouvir música”, cita a psicóloga, que costuma associar a teoria de Carl Jung da sua abordagem psicoterápica em seus atendimentos com as cartas do tarô. “Eu sou uma pessoa bem ativa, então hora vaga para mim é hora de fazer alguma coisa”, brinca.
Para ela, na pandemia, a vida fica mais intensa em todos os sentidos. “Ao mesmo tempo trouxe para mim a possibilidade de ficar mais tempo com a minha filha. Enxergar essa possibilidade de escolher essa nova rotina é muito positivo. Eu sou muito abençoada por poder fazer essas escolhas e conseguir conciliar meu trabalho com a minha casa e com a minha maternidade.”
“Tudo seria melhor se não existisse uma pandemia, mas ela me abriu o olhar para ver a vida sob outras perspectivas que talvez eu não tivesse a consciência ou capacidade de enxergar se a gente não tivesse passando por isso”, observa Renata.
Para ela, “há uma primavera em cada vida, é preciso cantá-la assim, florida”, como dizia a poetisa portuguesa Florbela Espanca. “A gente precisa desabrochar o que há de potência dentro da gente e eu acho que esse é o sentido da vida. Consiste em a gente olhar para dentro e reconhecer os nossos potenciais, os nossos dons, os nossos talentos, os nossos desejos. Eu acho que a resposta está sempre dentro e quando isso floresce, vem à tona, as coisas passam a fazer sentido.”
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