Por Carlos Monteiro*

Diante do número imenso de “notas de repúdio” que, ultimamente, inundam a mídia e as redes sociais em relação a tantas insanidades, violências e barbaridades, resolvi facilitar a vida das equipes dos gabinetes de crise, assessores e coordenadores de comunicação. Criei um modelo que pode ser preenchido com os dados pelos quais a nota se refere.

A “nota de repúdio” passou a ser solução para todos os problemas, todos os episódios, mesmo que nada se resolva, mesmo que sua eficácia não tenha comprovação prática. Imagino que, diante de um fato com repercussão, alguém da direção passa a mão no celular e, aos brados, determina: “ —Vamos soltar uma nota de repúdio imediatamente”! Simples assim! “Nota de repúdio” distribuída, problema sanado.

O modelo fica aqui disponível:

A/O (preencha aqui o nome completo do ‘repudiador’ ou, em caso de 
pessoa jurídica, sua razão social completa), vem à público repudiar 
com veemência o(ao)s atos (descrever aqui toda a questão sem detalhar 
muito pontuando data e envolvidos) ou em decorrência de declarações 
feitas por/pela (colocar aqui o nome d(a)o declarante), ocorridos em 
(descrever em que local ocorreu – área interna, externa... o termo 
dependências é particularmente interessante, dando um certo ar jurídico 
ao fato em si). 
Tais práticas ou declarações, (descrever o teor) são inaceitáveis e 
inadmissíveis e sempre serão combatidas com firmeza e peremptoriamente 
– palavras pouco usuais dão um ar de classe e sobriedade ao texto -  
por esta empresa/instituição/companhia.
A/O (nome do declarante) informa que adotará todas as medidas jurídicas 
e administrativas cabíveis com objetivo de responsabilizar os envolvidos 
neste ato (colocar o teor). Também tomará medidas relativas a 
(descrever os suspensos no período da apuração dos fatos, desligados, 
demitidos por justa causa, contratos cancelados, etc.).
A/O (nome) lamenta profundamente o episódio. Imediatamente ao tomar 
conhecimento deste inexplicável incidente/acidente, todas as providências 
foram tomadas no sentido da realização de rigorosa apuração interna 
deste lastimável acontecimento que, assim como a opinião pública, 
tanto nos deixou indignados. Todos os envolvidos foram sumariamente 
afastados até a conclusão do processo.
Esclarecemos que, após a conclusão de nossos processos internos, todos 
os responsáveis serão punidos no que determina a Lei. Deslindamos, ainda, 
que todo o nosso time recebe treinamento específico constante e que os 
atos praticados não coadunam com os propósitos, missão e valores que a 
empresa/instituição/companhia exige de seus colaboradores em tempo integral. 
Fatos como este são isolados. 
A/O (nome) vem colaborando com as autoridades bem como tem dado suporte 
social-psicológico às (nome das vítimas ou familiares). 
Ao finalizar, dar um ar mais ‘íntimo’ falando na terceira pessoa. 
Estamos profundamente chocados e consternados com todo o fato ocorrido e 
lamentamos profundamente. 
Nossos propósitos são pautados pela ética e pelo respeito à pessoa humana, 
e não admitem discriminações ou qualquer tipo de preconceito.
Nossa missão se dedica a dar proteção e segurança aos nossos clientes. 
Reafirmamos nosso compromisso com a defesa dos direitos e garantias 
fundamentais, com total repúdio a quaisquer atos e formas de violência, 
discursos de ódio, intolerância de qualquer natureza, discriminação de 
gênero, transfobia, misoginia, xenofobia, classe identitária, social e 
racismo e preconceitos intoleráveis e incompatíveis com os pensamentos da
empresa/instituição/companhia.
Localizar e datar com o dia em que for assinada e distribuída.
Aqui entram os signatários.

Quem sabe, daqui para frente haja menos notas e mais atitudes.

Soluções.

*Carlos Monteiro, 61, é cronista, jornalista, fotógrafo e publicitário carioca. Flamenguista e portolense roxo, mas, acima de tudo, um apaixonado pela Cidade Maravilhosa