Jornalista londrinense Wilhan Santin reúne reportagens e crônicas autorais no site ‘Bem Contado’, que busca transformar realidades por meio da boa leitura
Por Mariana Guerin, jornalista e confeiteira em Londrina. Adoça a vida com quitutes e palavras
Contar histórias é prerrogativa da profissão de jornalista, mas o londrinense Wilhan Santin, 38 anos, nunca imaginou que chegaria tão longe com suas palavras. Das reportagens em jornais e revistas de abrangência nacional, como Folha de S. Paulo, Revista Globo Rural e BBC Brasil, ao trabalho como assessor de comunicação do Hospital do Coração de Londrina, ele encontrou nos livros uma maneira de extravasar suas impressões sobre tudo o que vê.
Algumas obras contam a vida de personagens icônicos da história paranaense e brasileira, como o alemão Herbert Bartz, precursor do plantio direto no Brasil. Outras são encomendadas por empresas que desejam perpetuar sua trajetória, mas o livro que o jornalista mais gostou de escrever foi um conto infantil.
Para aproveitar todo o material que o dia a dia lhe dá, ele lançou este ano o site Bem Contado, onde reúne reportagens e crônicas que produz nas horas vagas, enquanto não está trabalhando ou cuidando das filhas Maria Eduarda, 7, e Laura, 3, ao lado da esposa Luana. “O Bem Contado é um site dedicado a narrar histórias, por meio do jornalismo e da literatura”, informa o cabeçalho da página criada em plena pandemia pelo jornalista-escritor, que acredita no poder transformador da boa leitura.

“Minha rotina é simples. Acordo às seis. Escrevo até as 7h30, que é o horário que as minhas filhas acordam. Faço café para mim e para elas e saio para trabalhar, na assessoria de comunicação do Hospital do Coração, nas entrevistas para livros e para o site”, descreve Wilhan, que aproveita o início das noites para passar um tempo de qualidade com suas três mulheres. “Depois que as meninas dormem, se o cansaço não for muito, escrevo mais um pouco.”
Ele cresceu na periferia da Zona Leste de Londrina numa época em que brincar na rua era normal. “Quando não estava na escola, jogava bola, andava de carrinho de rolimã, soltava pipa. Vivia! Era incrível”, recorda o jornalista que, como muitos garotos brasileiros, sonhava em ser jogador de futebol.
“Na adolescência eu gastava boa parte do tempo jogando futebol. Queria ser profissional, goleiro. Mas sempre usei óculos e não passei de 1,76 metro. Sem chances”, conclui. Ele lembra que nunca gostou muito de estudar, mas sempre teve facilidade para entender as matérias da área de humanas, como história, geografia e português. “Ia bem nas provas. Mas nas demais, fazia para o gasto”, confessa o jornalista, que diz sentir orgulho de ter frequentado escolas públicas na infância e adolescência. Ele passou pela Escola Municipal Carlos Kraemer, pelo Colégio João Sampaio e pelo Colégio de Aplicação antes de ingressar na universidade.
“Meus pais se casaram muito novos e eu sou o filho mais velho. Tenho uma irmã e um irmão. Morávamos em uma casa de três cômodos. Um quarto só para os três filhos. Fui ter quarto só meu aos 20 anos. Sempre fomos unidos e felizes”, conta Wilhan, que lamenta ter namorado pouco na adolescência. “Eu era feio e tímido. Naquele tempo, os óculos, agora na moda, eram uma desvantagem enorme para conquistar alguma menina”, brinca.
Vivendo uma rotina simples em família, ele teve nos pais, sempre muito trabalhadores, um exemplo. “Achava bonito o quanto eles se esforçavam para oferecer a melhor vida para os filhos. São meus ídolos.”
Nas horas vagas, ele gosta de ler, mas prefere aproveitar seu tempo livre com as filhas. “As minhas filhas gostam muito de brincar e, se percebem que estou de bobeira, já me fazem embarcar em alguma história delas. Não dá tempo de assistir a filmes ou jogos de futebol na TV”, diz Wilhan, que tem na paternidade uma prioridade de vida. “Não vejo dificuldades em ser pai. É claro que a vida muda depois dos filhos, nosso tempo passa a ser deles, perdemos a liberdade. Mas não posso dizer que é difícil.”
“Sobre ser pai de meninas, é sensacional. Quando tá 35 graus elas querem sair de blusa, quando amanhece muito frio querem vestir shorts e regatas. Tem sempre algum motivo: algo que viram em um desenho ou que uma amiga falou e querem fazer igual. Não sei arrumar direito os cabelos delas e apanho com alguns vestidos com alças estranhas. Brinco muito de bonecas; faço bem o papel de marido da Barbie. Mas minha maior especialidade é ser o papai das bonecas bebês”, comenta.
Assessorando, escrevendo e brincando, ele diz não ter sonhos futuros. “Mas nem por isso sou infeliz.” Isso porque o sonho da carreira no futebol logo foi substituído pela vontade de ser jornalista, que ele felizmente realizou. “Quando criança, pegava a Folha de Londrina e me imaginava um dia escrevendo para aquele jornal. Também consegui, entre 2006 e 2011.”
Após se formar em jornalismo em 2004, Wilhan buscou emprego em rádios. Queria ser repórter esportivo. Na época, apesar de gostar de escrever, ele achava que seus textos não se destacavam, então ele nem entregava currículos em redações de jornais impressos. “Em 2006, resolvi tentar a Folha de Londrina. Depois de vários freelas, consegui a vaga. Eu era tão empolgado que algumas vezes meti os pés pelas mãos e acho que até atropelei colegas. Coisas da inexperiência”, recorda.
Foi naquela redação que ele conheceu profissionais “com textos excelentes”, em que se espelhou para finalmente encontrar sua própria voz jornalística. “Fui aprendendo e melhorando. Comecei a ler também os livros do escritor Domingos Pellegrini. Um dia liguei para ele para fazer uma entrevista e o cara disse que lia as minhas matérias e gostava. Daí tive um pouquinho mais de confiança para seguir no ramo”, comemora.
Pellegini inclusive escreveu a apresentação do livro “Notícias Incomuns”, que Santin lançou em 2016. “Wilhan tem a despretensão cuidadosa de Rubem Braga, que nos fazia ver a importância das coisas aparentemente sem importância, extraindo humor de problemas, humanidade de securas”, comentou o escritor londrinense sobre a publicação que reúne 30 crônicas do cotidiano.
A vontade de criar o site Bem Contado veio de um período de produção de muitos textos institucionais, releases e freelas para veículos de comunicação, mas nada para ele. “Por isso resolvi criar o Bem Contado, para me obrigar a escrever crônicas e pequenas matérias. Para as crônicas, busco fatos do dia a dia. Não sou um bom ficcionista. Os outros textos são jornalísticos, daí não tem inspiração, é 99% suor.”
Para Wilhan, a crônica “é uma combinação muito boa entre o jornalismo e a literatura, tipo queijo com goiabada, Garrincha e Pelé, churrasco e cerveja”. “Ou, para usar a simplicidade do gênio maior, Rubem Braga, certa vez respondendo a um repórter sobre o que é, afinal, esse tipo de texto: ‘Se não é aguda, é crônica’.”
Publicar um livro é muito bom, segundo o jornalista. “Já são dez que tive a honra de fazer. Todos muito especiais. A maioria encomendados por empresas. Gostei de todos, é claro, mas ‘Leca Leleca e a aventura da rã Ranrram’ se destaca em meu coração, por ser infantil.”
Além das crônicas do dia a dia, ele prepara mais um livro encomendado, que contará a história de uma empresa da cidade. “Sai em junho de 2021. Tem ainda a biografia de Afonso Vitor de Oliveira, ex-árbitro de futebol, que escrevi em parceria com o colega Thiago Mossini. Está pronto, esperando a pandemia passar para ser lançado”, comunica.
Para quem tinha medo de se arriscar com a palavra escrita e chegou a buscar o rádio no início da carreira jornalística, a extensa lista de livros, crônicas e reportagens especiais de Wilhan mostra que ele segue firme e no caminho certo de narrar histórias bem contadas. “Sou alguém que está tentando melhorar”, define.
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