Por Antonio Rodríguez*

10 quadras?
100 metros?

20 minutos?

5000 quilômetros?

Longe pra caramba!
Perto demais!

Pequenas expressões
Que nesse ano perderam sentido
Trocadas por versões
Um tanto quanto “Covidizadas”.

A uma mensagem de distância
Uma chamada de vídeo
Ou apenas uma chamada
De pijamas na cama
E com o lençol ao lado
Pronto para te envolver

Assim que tudo acabar
O tudo seja o mundo
Ou a reunião do trabalho.

O mercado
Há 4 esquinas de casa
Parece uma aventura medieval
Uma maratona de 42 metros

Ao invés de quilômetros
Uma corrida pela sobrevivência
Insana e insensata.

Tez com tez
Virou uma ameaça de morte
E um simples aperto de mão

Nos aperta o peito de saudades
Um abraço

Entre corações conectados

Aperta o peito

E não é infarto nem saudades
É o Covid que nos leva
Nos afasta quando perto

E nos aproxima quando longe
A ironia é grande

Mas será que mudamos as distâncias
Ou simplesmente não mais nos é possível
Burlar o espaço-tempo com máquinas de metal.

Os humanos. A espécie mais dominante do mundo, alguns poucos corajosos arriscariam dizer mais dominante do universo. A espécie que descobriu que existiam distâncias maiores que seus pés descalços poderiam cobrir e inventou sapatos para avançar mais. Que percebeu necessitar de velocidade e adicionou motores a carcaças metálicas e começou a alcançar tudo que a vista tocava. Que conseguiu juntar pedaços de madeira e fazê-los flutuar para alcançar além do que a Terra Plana permitiria. Que quando as águas demoravam demais, decidiram que viajar pelo ar era a solução, e de repente os motores de carcaças metálicas flutuavam por sobre continentes. Quando as pessoas se deram conta de que não apenas distâncias a serem cruzadas importavam, mas distâncias a serem superadas por carinhos incapazes de atravessar o universo em um piscar de olhos, o ser humano se dedicou a fazer as palavras, depois as imagens, depois o som das palavras e por fim o som das palavras acompanhado de imagens pudesse alcançar quase todos os cantos onde há um ser humano.

De repente trancados em casa, nada disso faz sentido. Ou há alguma alma que não trocaria seu celular ou seu carro por um contato sincero e sem receios com uma pessoa importante na sua vida?

Será que bruscamente todas as medidas da nossa vida não mudaram?

*Antonio Rodríguez, 17, estudante e poeta nas horas vagas (e algumas ocupadas também). Apaixonado pela vida, faz o máximo para transformar tudo em poesia. Mantém o Instagram @a.poetizando.me

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