Por Paula Vicente e Rafael Colli*
Não se fala em outra coisa desde o dia 17 de janeiro, quando a enfermeira Mônica Calazans foi vacinada em São Paulo, com a vacina do Butantan, contra a covid-19. A campanha de vacinação começou!
A notícia da vacina deveria ser apenas motivo de comemoração, alegria e esperança, mas o povo brasileiro não tem um minuto de paz, caro leitor! Nada nas terras brasilis se dá de maneira simples e tranquila.
Primeiro assistimos à briga entre governo federal e governo do estado de São Paulo, cada qual reivindicando para si os méritos da vacina aplicada naquele domingo. Confessamos que foi satisfatório ver o escarcéu em rede nacional do Ministro da Saúde, indignado com a glória do adversário político de seu chefe naquele fatídico domingo.
Mas, seguido da briga pré-adolescente, o que vimos foi um circo de horrores por parte do Ministério da Saúde. O general “especialista em logística”, que ocupa o cargo mais importante do país nesse momento de pandemia, não conseguiu viabilizar a compra e distribuição dos imunizantes no país. As 2 milhões de doses que vieram da Índia atrasaram em quase uma semana para chegar.
O Ministério da Saúde reivindicou para si as doses produzidas pelo Butantan, totalizando 10,8 milhões, contando com as aprovadas pela ANVISA na segunda leva. Ou seja, até agora, temos 12,8 milhões de doses de vacinas no país, o que faz com que 6,4 milhões de pessoas possam ser efetivamente vacinadas. Número irrisório para um país de 211 milhões de habitantes.
Mas nem tudo está perdido, já que temos plantas de produção que podem dar conta de entregar até 1 milhão de doses dos imunizantes por dia, em seu auge. Podemos respirar aliviados, certo? Errado.
A matéria-prima para a fabricação da única coisa capaz de nos tirar do olho do furacão é fabricada na China, país que vem sendo constantemente atacado por pessoas próximas ao Presidente da República, a saber: seus filhos, o ex-ministro da educação (que inclusive responde por crime de racismo em razão dos ataques à China) e o pior de todos, o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que deveria prezar pela boas relações com nosso maior parceiro comercial, são alguns dos que figuram nesse imbróglio escabroso (perdão pela tautologia, mas é que a bagunça está realmente bagunçada).
Tudo isso fez com que o Brasil se isolasse cada vez mais do resto do mundo, dificultando nosso acesso aos itens necessários para a produção nacional das vacinas do Butantan e de Oxford.
Mas, ainda assim, há luz no fim do túnel, temos as vacinas da Pfizer, as primeira aprovadas no mundo, podemos importá-las, podemos respirar aliviados, certo? Errado.
O governo federal ignorou a oferta de 70 milhões de doses das vacinas da Pfizer!
Como se não bastasse a lambança nas negociações, pesquisa e distribuição dos imunizantes, o presidente e seus subordinados têm agido diuturnamente para desacreditar as vacinas e sua eficácia, inventado barbaridades e desencorajando a vacinação da população. Tudo para disfarçar a total falta de vontade de preservar a vida do povo brasileiro.
Como ele, várias autoridades de estados e municípios surfaram a onda de criticar a vacina, desacreditar a ciência, privilegiar o lucro das empresas em detrimento da saúde das pessoas, sabotando, assim, a vida de seus governados. Seria correto pensar, então, que essas mesmas autoridades recusariam a vacina que tanto achincalharam, certo? Errado.
Alguns, como é o caso de Randolph Antônio Pinheiro da Silva, secretário de Saúde de Serra do Navio (AP), são acusados de furar a fila da vacina. Ou seja, abraçaram a hipocrisia e o escárnio e tomaram a vez daqueles que estão na linha de frente do combate ao vírus que matou quase 220 mil brasileiros, arriscando suas vidas e a saúde de seus familiares para fazer milagre com a escassez de recursos nos hospitais Brasil a fora.
Além disso, há, também, pessoas da elite sendo acusadas de também furar a fila da vacina, conseguindo cargos em hospitais públicos poucos dias antes do início da campanha de vacinação, e recebendo doses antes e no lugar daqueles que estão desde o começo da pandemia na linha de frente, sob ataque do vírus, do presidente e de seus seguidores acéfalos.
Bolsonaro agiu a favor da disseminação da covid-19; institucionalizou a sabotagem ao combate do vírus; fez tudo o que um presidente não pode e não deve fazer; agiu para dizimar seu próprio povo. O resultado disso? Enfrentamos uma segunda onda ainda maior e mais devastadora de contágio pelo SARS-COV-2.
Deveríamos estar mais preparados para enfrentar suas consequências, já que a pandemia começou há quase um ano, certo? Errado.
O que vimos no último mês foi outro show de horrores, pacientes morrendo sufocados pela falta de oxigênio em Manaus (AM) e o Governo Federal? Nada. O Ministro da Saúde foi para lá para tentar enfiar medicamentos sem comprovação científica goela abaixo – sim, caros leitores, as pessoas morrendo sem ar e o Governo querendo tratá-los com antimaláricos. Pazuello, ainda, informou que a FAB não tinha aviões para mandar os cilindros, mesmo tendo recebido a oferta de 9 aviões dos EUA e da ONU!
Um verdadeiro crime contra a humanidade.
No sufoco da vacina, todo o povo ficou sufocado, sem ar, sem imunização, sem representantes competentes, sem esperança!
*Paula Vicente e Rafael Colli são advogados especializados em causas de Direitos Humanos, minorias políticas e Direito Penal, em Londrina
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