Em ato, Frente Trans de Londrina grita por respeito, visibilidade e inserção social

Cecília França

Fotos: Isaac Fontana

Logo nos primeiros dias de 2021 o assassinato brutal da menina Keron Ravach, a chutes e pauladas em Camocim (CE), abalou a comunidade trans. A violência que permeia as vidas especialmente das mulheres trans e travestis, salta aos olhos e se confirma nos dados apresentados na última semana pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra): 175 travestis e transexuais foram assassinadas em 2020. Por isso as frases “Vidas trans importam” e “Parem de nos matar”, escritas no chão do anfiteatro do Zerão, fazem tanto sentido.

“Ainda estamos num contexto de pandemia, a gente não sabe muito bem o que vai vir daqui pra frente, mas a gente continua morrendo, e cada vez mais jovens”, alerta Linaê Mello, militante da recém criada Frente Trans de Londrina. Durante toda a semana o coletivo promoveu intervenções na cidade com o tema da Visibilidade, encerrando neste domingo com o Ato Keron Ravach, no Zerão. A Frente dá sequência à militância de outras travestis que iniciaram no passado o grito por respeito em Londrina.

Debaixo de uma chuvinha insistente, dezenas de apoiadores acompanharam o ato, uma intervenção artística em memória das que se foram, em homenagem às que vivem e com foco nas que virão. Nas escadarias foram pintados nomes das homenageadas e velas foram acesas em honra das travestis assassinadas.

“Quantas travestis tem no seu dia-a-dia?”, questionou Raffaela Rocha no palco. “Não adianta vir chamar a gente pra ser tema de TCC. Por que a gente teve que criar uma Frente? Porque no meio feminista a gente não é ouvida. Convida a gente pra conviver, pra vivenciar”.

“Que isso não permaneça aqui, que saia daqui e vá para as ruas, e vá para o dia a dia”, declarou Oliver Leticia Fernandes aos apoiadores presentes no ato.

“Porque a visibilidade não é só no mês de janeiro. Do que adianta a gente só gritar todo dia de janeiro e chegar amanhã e sermos executadas?”, completou Raffaela.

Juuara Barbosa leu o poema da rapper e MC paraibana Bixarte, publicado nas redes sociais na sexta-feira (29), Dia da Visibilidade Trans. No trecho final, quase uma prece: “Deus, que eu seja visível com a minha arte e invisível pra quem quer me matar. Que minha mãe possa dormir tranquila e nemhum macho nas travestis consiga encostar”. Assim seja.

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