Pessoas foram transportados nesta semana para Francisco Beltrão, no Oeste do Estado; também já houve transferências para outras regionais do Macro Norte

Cecília França

Londrina e região estão vivendo o pior momento da pandemia, afirma a chefe da 17ª Regional de Saúde (RS), Maria Lúcia Lopes, em consonância com outros gestores da área da saúde. “Neste momento não dá nem para te dizer que algum município da Regional está mais complicado. De acordo com a população, nós estamos todos no mesmo risco sanitário enorme”, afirma à Lume. Segundo Lopes, pacientes precisaram ser transferidos nesta semana de Londrina para Ivaiporã (22ª RS) e Francisco Beltrão (8ª RS).

Outras transferências já haviam ocorrido para Ivaiporã e também Jacarezinho, ambas da Macrorregional Norte. Já Francisco Beltrão fica na Macrorregional Oeste, mais de 500 quilômetros distante de Londrina. De acordo com Lopes, o fato de o Paraná ser visto como uma rede facilita esse processo.

“Os pacientes da 17ª RS vêm para o HU (Hospital Universitário), se ele estiver superlotado, essa rede entra em ação e sai procurando vaga”, detalha. Por isso, a notícia de que mais 60 leitos de enfermaria e 21 de UTI serão abertos no Estado é vista como positiva para todos os municípios.

Lopes diz que esse sistema de remanejamento de leitos é totalmente novo para os gestores. Cabe ao Serviço Móvel e Urgência (Samu) transferir e fazer a análise dos casos, o que define para qual hospital o paciente precisa ser encaminhado. A Central de Regulação de Leitos, que é do Estado, faz esse mesmo movimento mas com pacientes já internados.

“Esse remanejamento é super novo para a gente. Antes a gente transferia o paciente do Hospital Zona Sul, do Zona Norte, de Cambé, para o HU e ele saia de lá de alta. Agora, na pandemia e, em especial, nessa época, é que a gente tem aprendido a fazer esse caminho”, afirma Lopes.

A falta de leitos de UTI é crônica em Londrina, sempre ocorreu, lembra a chefe da 17ª RS. No entanto, a rotatividade garantia mais tranquilidade antes da pandemia. “O paciente tinha um tempo de UTI de três, cinco dias, depois já ia para a enfermaria. Então os leitos eram disponibilizados com mais rapidez. Com covid, o paciente fica, no mínimo, 10 a 15 dias na UTI. Já tivemos pacientes com 30, 40 até 70 dias de internação”.

Os casos estão mais graves e pessoas mais jovens estão tendo complicações. Isso tem causado um certo “estranhamento”, diz Lopes, porque, normalmente, quem ia para a UTI eram pessoas mais idosas e/ou com comorbidades.

“Entretanto, os jovens se expuseram muito mais do que outras pessoas, em especial no final de ano e férias. Para todos esses pacientes que causam estranhamento têm sido solicitado uma coisa chamada painel viral, onde são estudadas todas as possibilidades de vírus conhecidos até hoje, para ter uma ideia do que está ocorrendo”.

Sobre a possibilidade da alteração no perfil dos pacientes estar ligada à circulação da nova variante do vírus SARS-CoV-2, Lopes não descarta. A gestora explica que pacientes contaminados são considerados altamente instáveis, podendo variar o quadro para grave rapidamente, e precisam de UTIs equipadas para atender às complicações.

“Não dá para ir para outro hospital primeiro porque corre o risco de contaminar os demais pacientes, e ainda tem a questão da instabilidade. E normalmente a gente precisa de uma UTI equipada. Últimos estudos mostram que ao menos 50% deles precisam de hemodiálise após algum tempo de internação. Cambé, por exemplo, tem alguns leitos de UTI, mas não tem hemodiálise”, detalha.

Tudo isso sobrecarrega o HU. Nota diária emitida pela direção do Hospital mostra que a ocupação nos leitos de enfermaria covid na instituição está em 109% e nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), em 97%. No geral, a ocupação das UTIs covid em Londrina é de 88%, de acordo com boletim da Secretaria Municipal de Saúde, uma vez que há outros 40 leitos dessa modalidade contratados no Hospital do Coração.

“Ainda não é possível contar com a vacina (para conter a pandemia)”

Medidas restritivas

A chefe da 17ª Regional de Saúde defende que prefeitos adotem medidas mais restritivas de isolamento e distanciamento social neste momento. Ela acredita, inclusive, que a Secretaria Estadual da Saúde deva anunciar algo nesse sentido. Lopes também dá como certo um novo cancelamento das cirurgias eletivas.

“Agora não temos falta de insumos nem medicamentos, mas existe a probabilidade disso acontecer. As cirurgias eletivas devem ser suspensas novamente hoje, primeiro para não expor as pessoas dentro do hospital e, segundo, porque usam medicamentos que são os mesmos que se usam nos pacientes covid”, explica.

Os efeitos da vacinação ainda devem demorar a surgir, tanto pela restrita oferta de doses quanto pela necessidade de ampla cobertura para que se tenha a chamada imunidade de rebanho.

“Para você ter uma tranquilidade no sentido de que tem imunidade coletiva tem que vacinar 95% do público-alvo, que são as pessoas acima de 18 anos. Significa que você vai ter entre 70% e 75% da população geral imunizada. Na 17ª RS temos 970 mil habitantes, se a gente for pensar em 70% são 700 mil pessoas; vacinamos 34 mil até agora. Não é possível ainda contar com a vacina para controlar a pandemia”, declara.

Nesta quinta-feira (23), a Prefeitura de Londrina divulgou outras três mortes por covid em Londrina. São duas mulheres, uma de 54 e outra de 75 anos. E um homem de 86 anos.
Também foram confirmados outros 299 novos casos da doença, totalizando 36.072 desde o início da pandemia na cidade. Estão internados 121 londrinenses, sendo 44 em UTIs.

Veja nos gráficos as médias móveis diárias de mortes e de novos casos em Londrina:

As médias móveis se referem às somas das mortes e dos novos casos acumulados em sete dias divididas por sete.

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