Mortalidade por covid-19 entre este grupo de pessoas supera os 30%

Cecília França

Médicos nefrologistas de Londrina solicitaram à Secretaria Municipal de Saúde antecipação da prioridade de pacientes que necessitam de hemodiálise no plano de imunização da covid-19. A justificativa está no alto índice de mortalidade desses pacientes com doença renal crônica, cerca de 35%, e na impossibilidade de isolamento. A maior parte dos pacientes precisa se deslocar três vezes por semana até as clínicas para realização do procedimento, usando ambulâncias, vans e até transporte público. Além do problema renal, cerca de 95% deles são hipertensos e metade tem diabetes.

O nefrologista Danilo Ramos Cunha ressalta que o tempo de permanência do vírus da covid-19 no corpo é curto, porém, a superação das sequelas exige do organismo uma reserva que os pacientes renais crônicos não têm. “Em virtude das infecções secundárias que acabam acontecendo exige uma reserva do corpo para ‘brigar’ com a sequela e o paciente renal crônico não dá conta. Agora, porque eu vacino idosos em asilo e não vacino renal crônico? Ele é institucionalizado obrigatório, ele não pode se isolar”, defende.

Segundo o médico, as clínicas da região adotaram rigorosos planos de triagem para separar pacientes suspeitos e contaminados. Na clínica em que ele atua foi criado um espaço de isolamento, para que esses pacientes não coloquem os outros em risco. Casos suspeitos são notificados para os órgãos de saúde e informados para o sistema de transporte do paciente.

O grupo de nefrologistas fez a solicitação de prioridade na vacinação à secretaria municipal de saúde e ao Ministério Público. A titular da 24ª Promotoria de Justiça, Susana de Lacerda, por sua vez, pediu parecer do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção à Saúde Pública (CAOP), que recomendou que se sigam os planos de vacinação como foram formulados.

“(…) é difícil que haja subversão na ordem de vacinação. Ademais, de acordo com os planos nacional e estadual, bem como pelos Informes Técnicos, a vacinação não avançou para o grupo de pessoas com comorbidades, mas estamos, ainda, imunizando idosos e trabalhadores da saúde. Eventual discussão sobre a ordem de priorização dos pacientes que necessitam de hemodiálise, salvo melhor juízo, deve ser enfrentada quando do início da imunização deste grupo, em nova estratificação de risco.“, diz o parecer assinado pelo promotor Daniel Pedro Lourenço.

A secretaria de saúde de Londrina, por meio de sua assessoria, respondeu à Lume que “os municípios não têm autonomia para alterarem as categorias e/ou ordem de vacinação os quais são definidos pelo Governo Federal. Portanto, respondemos isso a eles, sem a possibilidade de avaliar o mérito.

Danilo Cunha discorda e entende que há uma leitura equivocada do protocolo ao não priorizar esse grupo. “É uma população muito pequena, mas com uma mortalidade muito grande. Temos 140 mil pacientes renais crônicos no país. Na região, cerca de 800 pacientes. Não vai afetar o plano nacional”, argumenta. De 101 pacientes já contaminados em Londrina, 35 vieram a óbito.

Ansiedade

Terezinha de Jesus Matos, 65 anos, moradora de Cambé, precisa se deslocar três vezes por semana para Rolândia, onde faz hemodiálise há dois anos. “Sou diabética. Vou fazer o tratamento de van da prefeitura, ela leva, ela busca, os motoristas são maravilhosos, muito atenciosos. Faço terça, quinta e sábado, mas essa semana fui quatro vezes porque estou com água no pulmão”, conta ela.

Dona Terezinha precisou colocar uma prótese no braço para suportar o tratamento intravenoso. Ela espera tomar a vacina da covid-19 na próxima semana, por critério de idade, não de comorbidade. “Quero tomar vacina logo, a gente está sem imunidade. Não saio de casa para nada. Uma amiga falou que semana que vem vai chegar na minha idade”, espera.

Até ontem Londrina havia vacinado com a primeira dose 79.577 pessoas. No momento está aberto o cadastro para idosos acima de 65 anos. Quando a vacinação dos idosos com mais de 60 anos for concluída começará o grupo das pessoas com comorbidades, no qual se incluem os renais crônicos. Até o momento houve alteração do plano nacional para inclusão das forças de segurança, previstas, inicialmente, para o último grupo prioritário.

Em Cambé, onde mora dona Terezinha, idosos com mais de 66 anos serão vacinados no próximo domingo.

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