Por Régis Moreira*
Quando cai a noite
Ela aparece pro nosso encontro
Tira-me do isolamento
Coloca-me em órbita
Dimensionando minha pequenez
Diante da sua grandeza
Meus breus
Perto de sua luz prateada
Meus vazios
Se comparado à sua fase cheia
E me enche de novos possíveis
Outros esperançares
Na renovação que me ensina
Quieta
Iluminada
Ocupa meu confinamento
No movimento fugaz vivo
De que tudo gira
E outras voltas hão de surgir
Enquanto olho pra minhas mãos peludas
E vejo outros pelos crescerem
Mutação bicho
Lobisomem enjaulado
O uivo engolido me consome por dentro
Enquanto as ruas perplexas
Clamam por nosso retorno
Mato adentro
No clarão pandêmico
Respiro tentando controlar
Os desesperos dos lutos
Não há trégua
Na necropolítica instaurada
Diante do horror dos dias
Somente sua beleza
É capaz de aplacar o dragão
Dominado por Ogum
Na miragem de minha contemplação
Vacina já
Pra todes!
Plena alta inteira
Envolve-me todo
Dela, o guerreiro valente
Protege e abre os caminhos
Faço preces
Queimo incensos
Dia 23 é dia de Jorge
E no clarão do instante já
Do presente agora
Faço sua oração:
“Eu andarei vestido e armado com as armas de Jorge
Para que meus inimigos,
Tendo pés não me alcancem,
Tendo mãos não me peguem,
Tendo olhos não me vejam,
E nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo,
Meu corpo não alcançarão
Facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar,
Cordas e correntes se arrebentem
Sem o meu corpo amarrar
Salve Jorge
Ogunhê, Patacuri Ogun”
*Régis Moreira, Comunicólogo Social e Gerontólogo, doutor pela ECA (USP) em Ciências da Comunicação, docente do Depto de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde atua como pesquisador na área de comunicação, envelhecimento e gênero. Pesquisador do Observatório Nacional de Políticas Públicas e Educação em Saúde.
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