João Gabriel de Souza Francisco, o MC GS da Rima, defende protestos pacíficos e conscientização
Nelson Bortolin
“Hoje lágrimas cai, Londrina justiça implora.
Zona Norte se revolta e a favela toda chora.
Lucas Elias da Silva, mais uma vida cedida.
Podem falhar a justiça dos homens,
Mais sei que não falha a Justiça divina,”
Os versos são do jovem paulista João Gabriel de Souza Francisco, 22 anos, o MC GS da Rima. Durante um ano, ele morou na zona norte de Londrina, tempo suficiente para acompanhar a morte de vários amigos em supostos confrontos com a Polícia.
“Aí dona Drih. Sei que sua casa já não é como antes. Sei que, no Aquiles, as lembranças é constante. Saudades menor, eterno Gabriel Rodrigo Arantes.”
Por meio do funk, o MC vai homenageando amigo por amigo.
Gabriel Arantes, a quem o funkeiro se refere, foi morto pela PM em novembro do ano passado, aos 20 anos. Segundo a corporação, o jovem teria resistido a uma abordagem e atirado contra os policiais, que não tiveram outra opção a não ser retaliar. Essa é a explicação que a Polícia costuma apresentar para os óbitos. Versão quase sempre rejeitada pelos familiares.
Gabriel, com quem o MC chegou a trabalhar distribuindo doces na zona norte, era considerado uma pessoa tranquila. “Por mais que fizesse os corrinhos dele, não era do tipo de virar uma arma para a Polícia. Não é porque está no tráfico que você vai lá e mata a pessoa.”
Somente neste ano, segundo o Movimento Nacional de Direitos Humanos, ao menos 13 jovens morreram em supostos confrontos com agentes de segurança na cidade. No ano passado, de acordo com o Ministério Público, foram 58.
TRISTEZA DE MÃE
A dona Drih, da letra do funk, é a mãe de Gabriel Arantes. O áudio, incluído no início da música, foi enviado por ela mesma ao MC. “A casa já não é a mesma como antes. Os amigos sumiu. Não vejo mais ninguém. Na casa ficou um vazio”.
Com exceção do Cristiano, “que morava do outro lado da cidade”, o MC conheceu todos os mortos citados nas músicas.
“Tem que parar, tem que mudar, quando a opressão vai acabar? Quanto inocente igual o Valbinho ao lado de Deus tem que morar?”
O funkeiro repete o refrão trocando o nome de Valbinho por Leonardo, Cristiano e por Dieguinho.
Valber Messias da Silva, de 26 anos, foi morto pela PM dia 1º de novembro de 2019, no Conjunto Luiz de Sá. A mãe do jovem, Sônia Messias da Silva, diz que ele recebia ameaças constantes de morte dos policiais.
Éder Leonardo Damásio Amador, o Leo, de 26 anos, foi alvejado dia 2 de dezembro de 2020 no Conjunto Maria Cecília. “Deu um beijo na mulher, saiu para comprar uma boia na loja de material de construção. Dez minutos depois, a mulher recebeu a notícia da morte dele”, recorda o MC. A família sustenta que Leo já havia sofrido ameaças de morte.
Segundo o funkeiro, a morte de Dieguinho também já tinha sido anunciada. “Ele dizia que estava sendo ameaçado por policiais. Já tinha feito um BO (boletim de ocorrência).” Diego Henrique da Cruz, 32 anos, foi executado por homens encapuzados dia 1 de novembro de 2020, em sua casa no Heimtal.
Lucas Elias da Silva, 27 anos, foi um dos últimos amigos do MC morto pela Polícia. Foi baleado dia 14 de abril na região dos Cinco Conjuntos. “Falo sempre com a mãe dele.”
Já Cristiano Rodrigues de Jesus, de 20 anos, foi alvejado pela Polícia dia 11 de abril deste ano, no Jardim Califórnia (zona leste). “Não conhecia, mas incluí na música depois de conversar com a mãe dele”, conta. A morte do jovem gerou revolta nos moradores do bairro, que protestaram durante três dias (leia mais) .
CONSCIÊNCIA
Com seu funk, o MC GS da Rima quer denunciar injustiças. Mas sempre de forma pacífica. “Não adianta sair tacando fogo por aí, porque fica feio até para a memória das pessoas que morreram.” E também quer criar consciência. “Canto para incentivar crianças a saírem do crime.”
Atualmente, está morando em São Paulo, mas vem sempre a Londrina, para onde pretende se mudar novamente no futuro.
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