Por Antonio Rodriguez*

Com o fuzil na mão
Apontado no rosto de uma mãe
Que quer saber
Onde deita eternamente em berço esplêndido
Seu corpo sem vida banhado em sangue.

25 famílias com um membro a menos
Preciso citar que a maioria era negra?
Acho que já se sabe
Não há mais como fechar os olhos
Fingir que não vê o plano genocida.

Não é uma pandemia
É uma pandemia
Tempo de vida estimado: 500 anos
Vírus causador: Racismo
Número de mortos: Incontáveis.

Não é como se fosse novidade
Mas a cada dia os números são maiores
Lágrimas não formam mais rios nem mares
São oceanos
Oceanos que lavam as ruas
Deixando-as livres de sangue.

A cada 23 minutos
Uma mãe preta chora em luto
Um corpo que se foi sem tributo
Da realidade, o soco é bruto
Dias das mães em enterros
Ou algum outro será diferente?

Quantos corpos se foram
Quantas vezes a lei natural foi quebrada?

Quantas mães choram
E vão chorar antes que chegue o dia
Em que elas seriam celebradas
Mas mesmo com 3 filhos
Não sobrou nenhum para rir com ela.

Caminhos cheios até o cemitério
Covas tão cheias
Em contraste a cartuchos vazios
Pessoas vazias comemorando mortes. 

Parece entretenimento
Todo dia um corpo preto morto
Estampando jornais
Corpos brancos sem direito a vida
Se regozijando com as manchetes.

Tudo se resume a um plano secular
Quanto menos de nós existirem
Melhor o mundo será para os outros
E é cansativo ainda estar vivo para ver tantos irmãos mortos.

Quantas famílias destruídas em vão? Quantos corpos empilhados sem motivo.
Parecia ser só mais um dia, só mais um dia de luta, mas já é comum para nós. Mas porra, é difícil pra caralho ver corpos iguais aos seus mortos, ruas lavadas de sangue, meu sangue, despejados nas ruas, provando qual o valor da minha carne.
A carne mais barata do mercado.
Como deitar a cabeça no travesseiro sabendo disso?

*Antonio Rodríguez, 18, estudante e poeta nas horas vagas (e algumas ocupadas também). Apaixonado pela vida, faz o máximo para transformar tudo em poesia. Mantém o Instagram @a.poetizando.me

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