Para o bolsonarista Santão (PSC), a operação que resultou em 28 mortes foi um “belíssimo trabalho”

Cecília França
Nelson Bortolin

Foto: Sessão virtual da Câmara dos Vereadores – Devanir Parra (CML)

No dia 6 de maio, uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro deixou 28 mortos na favela do Jacarezinho, um deles um policial. A chacina chocou o país e desencadeou manifestações de movimentos negros e de direitos humanos. Para a Câmara de Vereadores de Londrina, no entanto, o trabalho dos policiais merece “congratulações”.

Na última quinta-feira (20), um requerimento com esse teor, proposto pelo vereador bolsonarista Santão (PSC) foi aprovado com 12 votos favoráveis. Seis vereadores foram contrários e um não estava presente. Na justificativa apresentada à Casa, Santão classifica a operação como um “belíssimo trabalho realizado na comunidade do Jacarezinho, equiparando-se a níveis internacionais de atuação, como Seals, West Marshall Police, Mossad, entre outras polícias de elite do globo terrestre.”

O vereador também pediu o envio de pesar à família do policial André Leonardo de Mello Frias, morto durante a empreitada. Dentre os demais 27 mortos, ao menos 13 não eram alvo da operação.

Em nota, o Movimento Negro Unificado (MNU) diz que o requerimento não é surpresa. “Infelizmente, a direita dominou os espaços de poder e vem propagando e incentivando práticas racistas na sociedade. Não é à toa que o governo fascista de Jair Bolsonaro vem ampliando o genocídio através da fome, do desemprego e da covid-19, que só em nossa cidade vitimou milhares.”

O MNU afirma seguir na luta em defesa “da justiça social, da implementação de políticas públicas, do fim da violência policial nas periferias e de uma política sanitária para frear o avanço da pandemia no Brasil.” “Por isso fomos às ruas no dia 13 deste mês e seguiremos nas ruas no dia 29 contra toda injustiça contra o povo pobre e trabalhador e para que esse governo seja retirado imediatamente do poder para salvar vidas.”

Para Carlos Enrique Santana, do Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH) em Londrina, a atitude dos vereadores mostra que “o fascismo cresce no coração de que tem poder”. “Esse vereador (autor do requerimento) é parte de um contexto medíocre da política brasileira. Retrocedemos 100 anos na política”, afirma.

Ele acredita que o fato de as sessões da Câmara serem virtuais devido à pandemia faz com que os vereadores se sintam mais à vontade para apresentar propostas absurdas. “Por causa da pandemia, não dá para os movimentos sociais irem conferir o que eles estão fazendo.”

Santana desejou também que “Deus ilumine a cabeça dos 12 vereadores que aprovaram a matéria para que parem de gastar dinheiro público com elogio a assassinos do Rio de Janeiro”.

Justificativas

A Rede Lume procurou o autor do requerimento, Santão, mas sua assessoria disse que tudo que ele tinha para dizer sobre o assunto foi dito na sessão virtual da Câmara. Defensora dos animais, a vereadora Daniele Ziober (PP) declarou que não é autora do requerimento, mas que votou favorável a ele porque toda família que perdeu entes queridos merece pêsames.

Além do autor e de Ziober, votaram a favor da matéria os seguintes vereadores: Chavão (Patriotas), Eduardo Tominaga (DEM), Emanoel Gomes (Republicanos), Giovain Mattos (PSC), Jairo Tamura (PL), Jessicão (PP), Lu Oliveira (PL), Mara Boca Aberta (Pros), Roberto Fu (PDT) e Nante (PP).

Contra o requerimento, votaram os vereadores: Beto Cambará (Podemos), Deivid Wisley (Pros), Lenir de Assis (PT), Matheus Thum (PP), Professora Flávia Cabral (PTB) e Professora Sonia Gimenez (PSB). Madureira (PTB) estava ausente.

Deixe uma resposta

%d