Marcha que reuniu mais de mil londrinenses ontem (29) deve ser a primeira de uma série de manifestações contra o governo
Cecília França
Fotos: Talyta Elen/Levante Popular da Juventude
Participantes do ato contra o governo de Jair Bolsonaro, ocorrido ontem (29) em Londrina, avaliam que esta deve ser a primeira de muitas idas às ruas pela derrubada do presidente. Em sintonia com mobilizações nacionais, a marcha começou às 17h, com concentração na Concha Acústica, e seguiu rumo ao Zerão, via Avenida Higienópolis. Levantamento do El País mostra que ao menos 109 municípios de 26 Estados se levantaram para demonstrar insatisfação com o atual governo.
Construído localmente pelo Comitê Unificado Londrina, que reúne diversas organizações, coletivos e movimentos sociais, o ato foi positivo tanto na adesão quanto na segurança, avalia Meire Moreno, da Frente Feminista.
“Apesar de termos alguns problemas técnicos durante o caminho, conseguimos manter o ato com o mínimo de medidas para reduzir danos pelo contágio da covid-19. Quem pode ver alguns vídeos do alto percebeu que conseguimos manter distância entre as pessoas, apesar do público imenso. Essa grande adesão apesar do período pandêmico traz esperança às organizações de lutas populares da cidade, esperança de que temos grandes possibilidades de derrotar o governo fascista e genocida ao qual estamos submetidos nesse momento”, declara.
A psicóloga e militante Sara Gladys Toninato, que chamou a atenção ao encarnar o personagem “Bolsomorte” durante a marcha, destaca que a organização do ato forneceu máscaras das mais seguras (tipo Pff2) a grande parte dos manifestantes que não possuíam – um claro contraste com manifestações bolsonaristas que ocorrem frequentemente na cidade, nas quais muitos ignoram o uso do equipamento de segurança.
“Eu acho que foi muito positivo mesmo. Teve alguns momentos de tensão na rotatória, um motoqueiro quase atropelou um manifestante, mas fora isso, teve apoio dos carros, muitos buzinando ao som do ‘fora Bolsonaro’. Eu achei que teve mais pessoas da comunidade favoráveis à manifestação que contra. Vi também alguns motoqueiros segurando o cordão junto com o pessoal que estava na segurança. Isso demonstra a insatisfação geral que está em relação a esse governo”, considera.

Raffaela Rocha, da Frente Trans de Londrina, foi uma das responsáveis por carregar a faixa na dianteira da marcha. Para ela, este foi apenas o primeiro levante popular contra o governo. “Isso não vai parar enquanto esse governo não sair. Eu acho que, provavelmente, vão ser puxados mais atos e vão aderir ainda mais pessoas, porque tem muita gente sentindo essa realidade. Mesmo você não estando organizado em alguma luta, mas sente no dia a dia, quem é pobre, quem é classe trabalhadora, quem é preto, quem vive da rua, sabe o que esse governo anda fazendo com a gente”, declara.
Para ela, ver tanta gente tomando as ruas “enche de alegria o coração”. “Deu aquela injeção de ânimo. Não é a injeção da vacina, que a gente quer, mas é uma injeção de ânimo de saber que o povo ainda vai para a rua tirar esse governo genocida”.
Talyta Elen, comunicadora popular e integrante do Levante Popular da Juventude, fez registros fotográficos e em vídeo do ato, que, para ela, representa uma retomada das ruas pelo povo. “Foi o primeiro de muitos que a gente precisa realizar para que realmente seja possível o ‘Fora Bolsonaro’. O ato também foi bacana porque conseguimos perceber a organização, na maior parte do tempo conseguimos manter o distanciamento”, avalia.
Quanto ao receio de promover aglomerações em período pandêmico, Talyta afirma que pesquisas recentes demonstram que o risco de contágio em manifestações de rua é “muito menor do que as pessoas indo em bar ou encontrando amigos”. “Então isso também quebra alguns paradigmas, algumas falas sobre esse risco, desse perigo de estar na rua. Perigo é a gente estar dentro de casa nesse momento em que milhares de pessoas estão morrendo e muitos dos nossos direitos estão sendo retirados”, pondera.
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