Feriado da última quinta-feira marcou entrega de quase 5 toneladas de alimentos para quatro comunidades, em parceria com o Conexões Londrina
Cecília França
Foto em destaque: Os ativistas Tiago Maloko e Lua Gomes no Marieta
Na entrada do Bar do Maloko, na ocupação do Marieta, zona norte de Londrina, um jovem voluntário borrifava álcool para higienizar as mãos de quem fosse entrar no local. Ali aconteceu, ontem, no feriado nacional de Corpus Christi, a maior ação do dia da Central Única das Favelas-Paraná (CUFA-PR) em parceria com o Conexões Londrina. Quase 80 famílias da comunidade foram atendidas com cestas básicas. Em outros três pontos da cidade mais 110 receberam alimentos, e algumas também, cobertores.
Para que o alimento chegasse a quem precisa, logo cedo voluntários se reuniram no Centro Juvenil Vocacional (CJV), na zona Oeste de Londrina, para separar as doações e dividir as equipes de entrega. Alguns seguiram para o Avelino Vieira e Marieta, outros para o Primavera e Barcelona.

Só no Marieta foram cerca de 2 toneladas de alimentos. Para garantir a segurança na entrega, voluntários fizeram marcas de giz no chão, fixando o distanciamento na fila. A representante da CUFA-PR em Londrina, Lua Gomes, e o rapper e ativista Tiago Maloko, coordenaram a entrega. Antes de começar a distribuição, feita um a um, a ativista fez questão de defender a cultura do RAP, natural das “quebradas”.
“Queria deixar bem claro pra todo mundo que gosta de fazer bastante sensacionalismo com os pequenos eventos que acontecem nas quebradas que a ‘playboyzada’ continua fazendo evento pra caramba do outro lado da cidade, a diferença é a abordagem que se dá para as paradas. Então, o recorte social que existe dentro do RAP traz isso aqui também. Isso vale pra todo mundo: pra mídia, pra classe média que assiste a mídia, pro MC, pro DJ, pra todo mundo: o RAP é isso aqui, fazer rima é muito pouco, o RAP nasceu de filosofia, de cultura, de discussão política e de resistência”.
A declaração de Lua vem dias depois do fechamento pela Guarda Municipal, por aglomeração, de uma batalha de rima que acontece no Maloko. O caso ganhou repercussão na mídia e os participantes viram pré-julgamento da cultura do RAP como algo nocivo, enquanto defendem que a arte natural da periferia cria uma identidade que salva muitos jovens.
Em entrevista a uma emissora de TV local durante a entrega, Maloko deu seu recado em forma de rima: “Eu sempre vou representar a minha Batalha do Galo/ Desse jeito aqui eu não esquento/ Queria agradecer todo mundo que forneceu o alimento/ Quem deu coberta, quem deu roupa/ Isso é pra mostrar pra vocês que nóis não é ‘vida loka’”.
Gratidão
Entre quem recebeu as cestas básicas no Marieta, alegria e gratidão. Mãe de uma menina de 7 anos, Viviane de Lima, de 39 anos, diz que trabalhava como diarista, mas com a falta da escola presencial e o agravamento da pandemia, passou a ficar em casa para cuidar da filha. Com isso, a situação financeira se agravou. “Recebi o auxílio emergencial. Esse ano é pouco, mas o pouco com Deus é muito, aí a gente precisa desse tipo de ação”, comenta.
Angêla Maria dos Santos, de 53 anos, “Às vezes falta uma coisa, às vezes falta outra, e a gente está vivendo mais de ajuda mesmo. Eu sou diarista sempre que tem uma oportunidade, aparece uma diária, que também tudo se complicou na questão do trabalho, né. Eu lavo roupa, passo, a gente tem que ir pedindo força pra Deus, ir se reinventando e não desanimar”.
Maria de Fátima, de 63 anos, passou muitos meses desempregada após o início da pandemia e agora está fazendo “bico” duas vezes por semana no bar do irmão. O filho que mora com ela arranjou trabalho recentemente, mas eles contam com doações para garantir a alimentação. Mesmo vacinada com a primeira dose da vacina anti-covid, ela diz ter medo do vírus. “Podia acabar isso logo, né. Eu tomei a primeira dose e a vacina da gripe também. Mas dá medo, dá muito medo”
Ao todo, foram doadas quase 5 toneladas de alimentos. Cinco toneladas de esperança para quase 200 famílias.
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