Por Antonio Rodríguez*

Sabe o que dói mais?
Eu queria falar de amor
Escrever um poema mais doce
Dia dos Namorados tá aí
Não custava nada.

Ou melhor
Custava!
Custava não matar mais um preto?
Atire em um e mate dois
É a nova promoção do mercado
O preço da carne tá subindo
Mas o meu tá ficando cada vez mais barato.

E a desculpa dos jornais
É sempre a mesma
Era um suspeito
Em uma troca de tiros
E a bala foi perdida
A autópsia do Brasil me diz
É só procurar em um corpo preto
A bala nunca está perdida
Só não tem interesse em ser achada.

E isso me estressa
Me leva a cuspir palavras de ódio
Pintar as letras com sangue
Da minha garganta arranhada
Dos meus dedos cansados.

Eu queria falar de Eros
Mas ele anda no morro fardado
Suas flechas com ponta de coração
São cápsulas com ponta de metal
Em vez de voar pela Grécia
Ele anda de camburão pelo Brasil
Ambos procurando a próxima vítima.

E ela podia ser Afrodite
Deusa da beleza e do amor
Mas acho que no mito eles confundiram
Trocaram duas vogais
Alva virou Alvo
E a história virou estatística
23 minutos
E no tic tac do relógio
A gente vê a estatística invadindo mais uma vida
E a entregando nas mãos de Caronte.

Nem adianta dizer que a gente tá cansado de falar sobre isso, ou que nós podemos falar sobre milhares, milhões de outros assuntos.
Enquanto nos negam até o direito à vida, qualquer outra coisa parece banal, fútil e inútil. Nem nascer nós podemos mais.

A, e um Feliz Dia dos Namorados.

*Antonio Rodríguez, 18, estudante e poeta nas horas vagas (e algumas ocupadas também). Apaixonado pela vida, faz o máximo para transformar tudo em poesia. Mantém o Instagram @a.poetizando.me

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