Amvibe pede que voluntários doem alimentos e outros itens ou “adotem” famílias em extrema precariedade nesse momento de pandemia
Cecília França
Mulheres, mães, periféricas. Um quadro de vulnerabilidade agravado pela pandemia, pela dificuldade para trabalhar, pela falta das escolas. Diante deste cenário, muitas mães e suas famílias têm passado por dificuldades materiais e precisam de ajuda para o básico: sobreviver. Pensando em amenizar essa situação, o Coletivo Amigas Moradores do Vista Bela (Amvibe) lançou a campanha “Sou mãe e não desisto nunca” para incentivar a doação e até a “adoção” de famílias do bairro por parte de voluntários.
“Estou passando o contato e a pessoa vai ver com a família o que é mais urgente. Tem várias emergências, não só alimentação”, diz Rita de Cássia Lemos, ativista social da Amvibe. Para sensibilizar doadores, ela pediu que as mães gravassem áudios contando suas situações. A manicure Graziela, de 37 anos, mãe de 6 filhos, conta que pegou covid-19 e está sem renda.
“Queria ver se consigo alguma ajuda, porque está muito dificil. Fiquei com sequela também, estou sentindo muita fraqueza, estou passando uma situação muito, muito dificil mesmo, coisas que nunca passei estou passando agora nessa pandemia. Ontem mesmo meu filho pediu banana pra mim e eu não tinha um centavo para comprar nem duas bananas“, relata.
Daniele cuida sozinha de 5 filhos. Desempregada, tem apenas a renda de R$ 358 do Bolsa-Família, que não garante a sobrevivência da família. “Já cheguei aqui a passar mais de semana comendo arroz e feijão junto com eles, mas a gente ainda assim agradece por ter o arroz e feijão”, declara. Daniele vive da ajuda de terceiros e diz que a situação fica ainda mais complicada com todos os filhos sem frequentar a escola.
“Tenho um bebê de 11 meses e só meu ‘bolsa’ não dá para comprar comida, leite, fralda. As crianças agora em casa também não tá fácil. Não é todo dia que tem um pão para dar pra eles tomar café da manhã, não é todo dia que tem uma mistura pra eles comerem. Precisamos de toda ajuda, porque não está fácil, principalmente pra quem cuida dos filhos sozinha”.

“Enfrento lutas diárias“, diz uma mãe que preferiu não se identificar. “Nos últimos meses as coisas têm piorado muito. Comer tá difícil. Lido com depressão, faço uso de medicação, tenho um problema grave de coluna, estou agaurdando vaga para fisioterapia no posto, não consigo. Tem dias que não consigo andar”, completa. Essa mãe ainda lida com uma filha dependente química, uma dor que ela classifica como “insuportável”.
“E venho enfrentando dificuldade financeira. Não consigo trabalhar por causa do meu problema na coluna. Faço uma diária e já ‘travo’. As coisas têm sido bem difíceis para mim mesmo”, afirma. A própria Rita, idealizadora da campanha e mãe de 5 filhos, tem enfrentado momentos difíceis. Ela relaciona sua situação pessoal e a das mães atendidas pela campanha.
“Eu me vejo nesse momento me afogando. A pandemia fez com que várias pessoas perdessem o emprego e as contas não param de chegar, principalmente a de alimentação, que é o básico, é o arroz, o feijão, o leite. Eu não quero ser peso pra ninguém, mas nesse momento eu preciso de ajuda”, declara.
Os resultados da campanha, lançada no início da semana, começam a aparecer e trazem esperança para Rita e outras dezenas de mulheres. “Não está sendo só um atendimento material, as meninas estão recebendo um apoio. Tem uma que tem a filha dependente e não está conseguindo fisioterapia. Uma professora da UEL ‘adotou’ ela e vai conseguir fisio e ajudar com outra coisa mais emergencial. Tenho certeza que essa campanha veio de Deus no coração, porque a gente não sabe como fazer. A maioria tem uma necessidade financeira e é chato a gente ficar pedindo dinheiro, é tão complicado. Mas agora devido a pandemia a gente está tendo que se adaptar, então eu fico bem feliz com essas famílias que estão sendo agraciadas”, finaliza Rita.
Para colaborar com as mulheres do Vista Bela, entre em contato pelo WhatsApp: (43) 99933-8877.
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