Natasha Galvão foi morta com um tiro na noite de quarta-feira; suspeito do crime morreu em confronto com a PM na sequência

Nelson Bortolin
Colaborou Cecília França

Foto em destaque: Natasha Galvão/Reprodução redes sociais

O assassinato da jovem transexual Natasha Galvão, de apenas 26 anos, ocorrido na noite desta quarta-feira (30) em Londrina, chocou e causou indignação na comunidade LGBTQIA+. “Era uma mulher alegre, incrível. Não é porque ela partiu que estou falando isso”, disse à Lume, aos prantos, a universitária, produtora cultural e integrante da Frente Trans de Londrina, Raffaela Rocha.

Natasha foi morta a tiros na Avenida Leste-Oeste, no centro da cidade. O suspeito de ter efetuado os disparos de dentro de uma camioneta S10 preta cabine dupla, fugiu e foi morto na sequência em confronto com a Polícia Militar.

“Não é porque ele foi morto que a Justiça foi feita. Essa questão de pagar com a vida não me interessa. Eu deixo essa discussão (sobre pena de morte) para os juristas, para os advogados que estudam isso cientificamente. Não houve justiça porque a invisibilidade e a marginalidade que são impostas sobre as mulheres trans continuam”, afirma.

Raffaela, que teve de deixar Londrina recentemente por causa de ameaças, diz que o sentimento é de impotência e pânico na comunidade. “Quando uma mulher trans morre, nosso coração também sangra. É um sentimento que a gente morre todo dia”, declara.

A universitária ressalta que a transfobia transcende a morte da pessoa. “As mulheres trans que não tiveram seus nomes retificados são enterradas com nome de registro. É uma discriminação que perpassa a vida delas.”

Ativista, atriz, produtora cultural e colunista da Lume, Melissa Campus também lamentou a morte da jovem. “É mais uma mulher trans que morre de forma violenta em Londrina e acentua a vulnerabilidade dessa população na cidade”, afirma ela, que hoje vive na Itália.

Melissa acredita haver um descaso muito grande em relação à vida das pessoas trans na sociedade londrinense. E cobra empenho dos profissionais de segurança e do Judiciário para investigar os casos de violência contra essa população.

“Espero que comecem a olhar a nossa população com um pouco mais de respeito.” Ela também critica a mídia. “Somente agora é que aparecem profissionais de comunicação com empatia em relação à causa”, avalia.

A ativista lembra que a transfobia está presente no meio político da cidade, principalmente nos discursos dos integrantes da Câmara de Vereadores, que naturalizam a violência contra a comunidade LGBTQIA+.

“Quando nossos representantes usam o discurso do ódio, eles acabam empoderando a impunidade (em relação aos crimes contra pessoas trans). Também são responsáveis pela violência contra a nossa população.” O número de parlamentares de extrema direita no Legislativo municipal é sinal de que há algo errado, na opinião de Melissa.

“Quando essas pessoas são eleitas, isso significa um aval da sociedade para que continuem nos matando, nos higienizando. Se houvesse câmera de gás, parte dos londrinenses nos trancariam dentro delas e não pensariam duas vezes em girar a válvula. Se houvesse uma ilha onde pudessem nos isolar, nos mandariam para essa ilha de primeira classe.”

Melissa lamenta a morte de mais uma pessoa trans em plena juventude e lembra que a expectativa de vida dessa população é de apenas 35 anos no Brasil. Apesar da tristeza, ela acredita que a luta dos coletivos trans e a parcela progressista da população londrinense possam fazer reverter o atual cenário.
“Eu acredito que ainda vou me sentir segura nessa terra vermelha”, finaliza.

Casos recentes

Natasha é a terceira mulher trans morta de forma violenta em Londrina apenas durante a pandemia. Exatamente no mesmo dia, 30 de junho, em 2020, Verônica foi encontrada morta em sua casa, na Zona Oeste da cidade. Ela tinha 50 anos e o caso continua em investigação, de acordo com a Polícia Civil. Nenhum suspeito foi preso.

Em 25 de setembro do ano passado, a travesti Sandra Beatriz, de 23 anos, foi morta a tiros em um motel da cidade. Segundo informações da imprensa ela era natural de Paranavaí mas estaria residindo em Londrina.

Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 175 pessoas trans foram mortas no Brasil somente no ano passado.

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