Dois casos de feminicídios tentados e o assassinato de Sandra Mara Curti estão na pauta do Tribunal do Júri da Comarca

Cecília França

Londrina terá três julgamentos de casos de feminicídios nesta semana, dois tentados e um consumado, o de Sandra Mara Curti, que abalou a cidade em julho de 2020. O Néias-Observatório de Feminicídios, lançou na última sexta-feira seu Informe n.3 sobre o caso que será julgado na segunda-feira, cuja vítima, Elisa Custodio Paiva, sobreviveu às agressões.

“Essa concentração de tantos casos de feminicídios (consumado ou tentado) no Tribunal de Justiça na Comarca de Londrina, em curto período, deve alertar a sociedade para a dimensão generalizada da violência contra mulheres”, alerta o Observatório no texto do Informe. Ao lançar luz sobre os casos, o Néias pretende contribuir para a sensibilização da sociedade e para mudanças estruturais que levem ao fim da violência contra mulheres.

“Esperamos também que a sensibilização e a conscientização da sociedade contribuam para a produção de processos policiais e judiciais com a devida diligência e celeridade, cujo resultado sejam penas adequadas ao enfrentamento deste problema social”, completam.

No caso a ser julgado nesta segunda – a tentativa de feminicídio contra Elisa – chama a atenção a lentidão da resposta judicial, uma vez que as agressões ocorreram em 2014. De acordo com a denúncia do Ministério Público, no dia 10 de maio daquele ano, o réu, Alisson Felipe de Almeida, se dirigiu até o trabalho de Elisa sabendo que ela estaria sozinha. Ao entrar no estabelecimento, afirmou que “não iria deixá-la viver, pois iria matá-la”, passando a agredi-la com socos e murros na cabeça. Após, apertou seu pescoço e bateu sua cabeça contra um armário de aço repetidas vezes, fazendo com que Elisa desmaiasse.

Após o desmaio, ainda desferiu golpes com um pedaço de madeira (caibro) que estava no chão do
estabelecimento. Certo de que havia matado Elisa, Alisson cessou as agressões e fugiu do local. O feminicídio só não foi consumado porque vizinhas pessoas na loja vizinha ouviram os barulhos e rapidamente socorreram Elisa, que foi encontrada “inconsciente, totalmente desfigurada, com muito sangue e urina.” Ela tinha 34 anos na época, e o agressor, 19; hoje eles têm 41 e 26, respectivamente. Na época, sete anos atrás, sequer havia sido criada a figura jurídica do feminicídio.

“(…) voltamos a destacar nossa preocupação com a morosidades dos processos criminais. O período que perdura, sem resposta da sociedade e do Estado, é um tempo durante o qual o restabelecimento dos direitos da vítima fica em suspenso. O tipo de violenta agressão de que Elisa foi objeto, é mera lesão corporal leve ou tentativa de homicídio? Entre a resposta para uma ou outra tese, localiza-se a dúvida sobre a dose em que nossa sociedade, incluindo o sistema jurídico, tolera ou rechaça a violência contra a mulher.”, pontua o Néias no Informe dedicado ao caso.

O julgamento de Alisson de Almeida começa às 9h, no Fórum da Comarca.

Leia mais: Informe n.3 do Néias detalha caso e cobertura da imprensa

Simbólico, feminicídio de Sandra Mara vai a júri dia 18

Em julho de 2020 o assassinato brutal de Sandra Mara Curti, então com 43 anos, pelo seu ex-companheiro, diante dos filhos do casal, chocou Londrina. E a história teve um agravante que demonstra a postura machista da Justiça perante a violência contra a mulher: apenas dois dias antes do crime, Sandra teve negado pedido de medida protetiva contra o agressor, Alan Borges. Na decisão, o juiz substituto alegou falta de provas e a classificou como “hipotética vítima”.

Sandra foi morta com 22 facadas dentro de casa e Borges encontra-se preso desde então. Ao contrário do caso de Elisa, o agendamento considerado rápido do julgamento deve-se ao fato de a defesa não ter recorrido da decisão da pronúncia, segundo informou à Lume em maio o assistente de acusação, Mário Barbosa.

Alan Borges está preso e será julgado na quarta-feira (18) a partir das 9h.

Terceiro julgamento será na sexta-feira

O terceiro julgamento da semana será da tentativa de feminicídio contra Ângela Rodrigues Lopes, ocorrida em 14 de julho de 2019, quando ela foi agredida a golpes de faca pelo ex-marido Carlos Roberto dos Reis de Oliveira. O ataque, que ocorreu diante da casa dela, só cessou porque uma das filhas do casal surgiu na porta e um rapaz gritou na rua.

As facadas atingiram o braço, a cabeça, as costas, as pernas e o pulmão de Ângela. Um tendão foi rompido com o golpe no braço e ela perdeu os movimentos de três dedos da mão. Cabe ressaltar que, no momento da agressão, Ângela tinha medida protetiva em desfavor do ex-companheiro, com quem foi casada por 16 anos.

Carlos Roberto encontra-se preso e será julgado na sexta-feira (20) a partir das 9h.

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