Ativistas sociais e artistas se reúnem para celebrar a memória de Matheus e pedir justiça pelos jovens mortos pelas forças de segurança em Londrina

Cecília França

Foto em destaque: Mural homenageia jovens vítimas das forças de segurança/Brisa

Neste sábado (12), a Associação Ciranda da Cultura, em Londrina, foi palco de um ato em memória de Matheus Evangelista, morto durante abordagem da Guarda Municipal, em 11 de março de 2018, e por justiça por outros tantos jovens mortos pelas forças de segurança na cidade nos últimos anos. Batalha de rimas, RAP freestyle, recitação de poesia marginal e discotecagem marcaram o evento. Um mural citava os nomes de outros tantos mortos em abordagens e em supostos confrontos.

Acusado de ter disparado o tiro que vitimou Matheus, o ex-GM Fernando Ferreira Neves foi condenado a 18 anos de prisão, em agosto do ano passado, mas sua defesa recorre da decisão. Para a poetisa Nicoly Jacinto, uma das organizadoras do ato, o resultado do julgamento é simbólico e dá força para seguir na luta contra o genocídio da juventudade negra e periférica.

“A gente acredita que o juri do Matheus foi um marco para a histórida da cidade, porque foi o primeiro que teve justiça, apesar de ter ido para segunda instância. E temos isso como uma força para continuar lutando pelos outros casos que não tiveram essa justiça. O que a gente pensou para hoje era ter o Matheus como referência dessa luta, dessa causa, mas trazer a memória desses jovens”, explica.

Para ela, o ato reforça que “a luta continua e que o luto nos une”, neste momento, através da arte. “Acredito que a maioria desses jovens, por mais que sejam inocentes, foram mortos marginalizados e trazer através da arte, da cultura, talvez cerque a mente de algumas pessoas para entender que não são marginais, são pessoas, são vidas”, finaliza Nicoly.

Matheus em foto de arquivo pessoal

‘Era um menino bom, trabalhador, tinha sonhos’, diz mãe de Matheus

A mãe e a irmã de Matheus, Rose e Jennifer, marcaram presença no ato e agradeceram aos organizadores. “Apesar de que a gente relembra tudo de novo, como se estivesse acontecendo, fico agradecida por lembrarem, pela memória”, declara Rose à Lume.

“É difícil porque, querendo ou não, passa um filme na nossa cabeça, mas é saber que ele está presente. A maioria que está aqui não conheceu ele, mas está fazendo todo esse movimento, fazendo com que ele não morra. Ontem fez quatro anos e eu fico feliz de saber que ele não morreu para algumas pessoas”, diz Jennifer.

A mãe de Matheus relembra o dia da morte do filho. “No momento que eu fiquei sabendo, eu ainda não estava acreditando, pelo fato de um amigo dele que estava junto ter falado pra gente ‘Foi um tiro de borracha no pescoço, só machucou’, mas aí quando eu vi realmente o fato foi muito angustiante”.

Rose conta um pouco da personalidade do filho: “Ele era uma pessoa muito calada, de pouca conversa, um menino muito bom. Gostava muito de jogar bola, mas não era de festa, de ir em balada. Por isso que eu fiquei mais revoltada pelo que aconteceu. Se fosse um menino ‘tranqueira’, mas não, era um menino bom, trabalhador, estava estudando, tinha sonhos. Foi uma coisa inaceitável”.

Jennifer espera que a decisão do júri popular em Londrina seja mantida em segunda instância. “Um tipo de pessoa dessa tem que cumprir (prisão) fechada. Aconteceu com o meu irmão e se acontecer de novo? Inaceitável”.

Participaram das atividades culturais Portal RAP Londrina, Slam Voz das Minas e LGBTI+ PR, DJ Damião Mili Anos e Freestyle de Rua.

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