Pais e mães de crianças com deficiência relataram hoje, no Ministério Público, consequências da má qualidade do produto entregue

Cecília França

Familiares de crianças com deficiência em Londrina estiveram hoje no Ministério Público pedindo uma solução para a má qualidade das fraldas entregues pelo poder público. No início de fevereiro o caso foi levado ao MP por intermédio do Observatório da Gestão Pública de Londrina (OGPL). A organização recebeu a denúncia da Associação das Famílias Especiais de Londrina (AFEL), que representa cerca de 200 famílias atendidas com o produto.

Eliane Nardin Pereira, mãe de Bruna, de 9 anos, esteve na manifestação no MP e conta que, até 2016, as famílias tinham muitos problemas com a má qualidade das fraldas ofertadas. A partir da criação da AFEL, no entanto, o problema havia sido sanado, já que a associação contribuiu com a redação do descritivo dos editais de compra, garantindo produtos de qualidade. No entanto, nas últimas licitações não foi usado o mesmo descritivo.

“Durante dois anos a gente ficou sossegada em relação às fraldas. Eles resolveram usar o descritivo antigo e voltamos aos mesmos problemas de novo”, explica. “Ela (Bruna) teve alergia à fralda; é muito pequena, não cabe na menina, e não tem gel nenhum, é só algodão. Então ela se abre todinha. Eles (poder público) dizem que está conforme o descritivo, mas que descritivo?”, questiona.

Eliane diz que as famílias tentaram vários contatos com a prefeitura antes de levar o caso ao MP, mas sem sucesso. “Eles dizem que querem resolver, mas não resolvem, jogam isso para a frente. Eu fiquei dois meses sem pegar as fraldas, assinei um papel dizendo que não pegaria, mas recebi uma notificação dizendo que se eu não pegasse eu ia perder as fraldas. Ou eu teria a opção de pegar a tamanho M. Gente do céu, uma menina que pesa 20 quilos pegar uma fralda que é para 60?”, indigna-se.

‘Não tem como usar’

Lucilei Célia da Cruz e Vagner Antônio da Silva são pais de Gustavo, de 8 anos. Acamado, o menino se alimenta por traqueostomia e é totalmente dependente dos cuidados dos familiares. Lucilei conta que até novembro do ano passado eles receberam uma fralda de qualidade inferior, mas ainda aceitável, e que o produto é extremamente necessário para o bem-estar de Gustavo.

“Essa que veio agora não tem como usar. O formato dela aperta nas coxas, não é um tamanho adequado. É de má qualidade. Tem pouco gel, basta um xixi e ela ‘quebra’. Sem contar que, às vezes, você quer ajeitar a criança, porque é uma criança acamada, pesada, você vai ajeitar e a fralda rasga porque é um plástico muiro ruim. Sem contar que vaza, tem que trocar roupa, lençol. Então a gente queria uma solução”, desabafa.

A família teve que comprar fraldas por conta própria, assim como Eliane. “Até me intimaram se eu queria pegar ou não a fralda. Eu disse que quero, que preciso, mas dessa eu não quero não. Nâo adianta eu pegar uma fralda que eu não vou usar, nem posso doar”.

MP se compromete com solução

Parte do grupo foi recebido pela promotora Leila Schmidt, de proteção à pessoa com deficiência. De acordo com Eliane ela revelou que muitas mães entraram em contato relatando casos de alergia nas crianças, o que gerou um alerta tanto na promotoria quanto na Defensoria. A promotora teria se comprometido a verificar se houve resposta do poder público sobre a situação e, em caso negativo, promover uma nova reunião e pedir análise da qualidade das fraldas atuais.

A reportagem não conseguiu contato com a promotora Leila Schmidt.

Quando o processo foi enviado ao MP, a prefeitura emitiu nota à reportagem dizendo que “as secretarias (de Saúde e de Gestão Pública) informam que estão verificando a procedência das reclamações e se comprometem com todas as ações que visam a melhoria contínua da qualidade de seus processos de aquisição, no limite dos marcos legais de licitações e contratos.”

Deixe uma resposta

%d