Rotina dessas profissionais envolve alimentar, banhar, vestir, dar remédio e conversar enquanto organizam a casa, como verdadeiras mães
Olga Leiria, especial para a Rede Lume
Fotos: Olga Leiria
Mãe, mamãe, minha mãe, mãezinha, mamis, minha velha, minha rainha, minha guerreira e tantos outros apelidos carinhosos damos a nossa mães, sejam ela de sangue ou não.
Que amor é esse que tentamos explicar, mas não conseguimos? Sendo filhos, sendo mães, um dia o recebemos, o sentimos.
A mãe pode ser de sangue, do coração, de leite, duas vezes mãe: não importa, são todas mães. Mas existem também as mães por profissão, conhecidas como mães sociais. Mulheres anônimas que, com seus trabalhos, doam tempo e carinho, transformando vidas.
Amor das mães sociais supera a vaidade, o diploma e a carteira de trabalho
No abrigo Lar Vida – Valorização Individual do Deficiente Anônimo, que fica em Salvador, o amor das mães sociais vem acima da vaidade, do diploma e da carteira de trabalho. São mulheres simples, com sorrisos encabulados, mas que têm uma força gigantesca e um carinho extraordinário.
Em suas rotinas, elas arrumam refeições, põem para o banho, vestem, passam perfume, penteiam os cabelos, ligam a TV, passam a farda da escola, dão remédio e respondem a várias perguntas enquanto organizam a casa.





Mulher, mãe, guerreira, vinda do Maranhã com quatro filhos pequenos para morar com a irmã em Salvador. Essa é parte da história de Gorethe Nunes, 62 anos, que trabalha há 36 anos no Lar Vida.
“Um amigo indicou o Lar porque eu estava procurando emprego. Quando olhei para as crianças, me apaixonei”, relata.
Quando ela chegou ao abrigo, a casa já tinha 15 crianças. Acabou morando no próprio Lar por 20 anos, para garantir mais segurança para sua família, e se mudou para a nova residência do projeto, que ganhou mais espaço.
Atualmente, Gorethe cuida dos acamados. Ao conversar com eles, passa a mão levemente na testa e olha dentro dos olhos de cada um, ao que eles respondem com um sorriso ou outros gestos particulares, que ela compreende porque conhece eles desde bebês.
“Você acha que tem trabalho melhor que o meu? Todos os dias os meninos vão me receber no portão dando bom dia. Que trabalho vai te receber assim?”, questiona.
“Não tem mais como desfazer esse nó. Com o passar do tempo, não se sabe mais quem depende de quem aqui, acho que somos nós que dependemos deles”, define Gorethe.
Maria Bonita Goes, 71 anos, veio da cidade de Tucano, no nordeste baiano, para a capital ainda menina. Trabalhou no comércio, quando foi dona de restaurante.
Em 12 de setembro de 1994, enquanto buscava uma vaga de emprego no Lar Vida, se deparou com as crianças desistiu, pois achou que o trabalho não era para ela.
Algo a fez mudar de ideia e ela voltou ao abrigo uma semana depois, aceitou o emprego e apaixonou-se pelas crianças e pelo trabalho.
Maria Bonita não casou e nem teve filhos biológicos, mas perdeu as contas de quantos filhos a vida lhe deu em seu trabalho como mãe social.
Ao falar do amor e presença de Deus que sente ao realizar esse trabalho, coloca as mãos no rosto e chora, deixando os óculos embaçados.
“Tem crianças que chegaram aqui sem esperanças, sem nada. Teve uma que virou atleta profissional de basquete de cadeira de rodas”, lembra, feliz.
“Sou tão apaixonada pelo Lar, pelas crianças, que nem me lembro de mim, minha vida está aqui”, resume
Vanete do Carmo, 60 anos, trabalha há 14 anos no Lar. Chegou ao local para fazer uma diária e nunca mais saiu. Hoje ela atua na casa dos autistas.
“Aqui somos uma grande família. É uma casa normal e fazemos tudo que uma mãe faz em casa. Damos banho, comida, levamos ao médico”, diz Vanete, confessando: “Tenho ciúmes dos meus meninos com outras funcionárias da casa”, brinca.
Lar Vida foi fundado há 37 anos
O Lar Vida @larvidaoficial foi fundado há 37 anos por um grupo de amigos, em um sábado de estudos do evangelho.
A ideia partiu de Maria Cristina Cordeiro Caldas, que tinha o projeto em mente e comentou com os amigos. Eles abraçaram a ideia e iniciou-se o trabalho.
Segundo Francisco Garcia de Souza, 85 anos, fundador do abrigo, o objetivo inicial era criar uma clínica para atender crianças com deficiência que necessitavam de fisioterapia e outros atendimentos. A meta era ajudar de famílias que tivessem renda de até dois salários mínimos.
“Mas nossa ideia nem iniciou”, lembra Souza. Ele conta que a casa em Itapuã recebeu três crianças e tornou-se um abrigo para meninos e meninas encaminhados pelo Ministério Público após terem sido abandonados pela família ou sofrido algum tipo de violência física ou sexual.
Atualmente, 107 crianças, jovens e adultos residem na casa, que fica no bairro do Novo Marotinho, próximo ao estádio do Barradão, em Salvador.
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