Dia desses, ouvindo o rádio no carro – sim meus caros e assíduos doze leitores, este que vos escreve ainda prestigia as ondas em frequência modulada -, achei que o locutor/operador de áudio – sim, hoje são uma só pessoa -, havia dado a “moscada” da cartucheira enganchada, pois o refrão se multiplicava como coelhos na forma de um oito deitado. Estava errado; o final da melodia era muito maior que a própria…

Como diria meu querido amigo e companheiro Tavito Carvalho, com seu genial jeito de ser e tiradas para lá de simpáticas: “esse compositor tem o dom mavioso da interminabilidade”. Referia-se àquelas infindáveis repetições que, mesmo já sendo aplaudido, o artista continua a secundar, sem parar, o final da música de forma ad aeternum.

Realmente, ultimamente, prafrentemente e, até quem sabe, pratrasmente – viva Odorico! – as repetições se tornaram a tônica da “nova” MPB. Parece que tudo é um refrão moto-contínuo e imorredouro.

Baseado, do verbo basear é claro, resolvi compor uma bela canção, com o singelo e sutil título “Bis”, onde só há refrões. O resultado é pura licença poética e doses cavalares de Rivotril na veia.

Ficou deste jeito:

Então é assim
Nós dois
Vem para mim
Para não haver depois

Repete…
Só vocês…
Mais uma vez…
De novo…

Olho para a janela
Vejo a paisagem
Você na passarela
Não é visagem

Repete…
Só vocês…
Mais uma vez…
De novo…
Juntinhos…

O telefone está frio
Gélida noite
Na manhã arrepio
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite

Repete…
Só vocês…
Mais uma vez…
De novo…
Juntinhos…
O toque é um açoite
O toque é um açoite
Gélida noite…
O toque é um açoite…
Bis por mais trinta vezes.

Chico Buarque tem toda razão em bastidores: “…não bisei/Voltei correndo…/…Chorei, chorei…”

Pano rápido e abafa o som!

*Carlos Monteiro é cronista, jornalista, fotógrafo e publicitário carioca. Flamenguista e portolense roxo, mas, acima de tudo, um apaixonado pela Cidade Maravilhosa.

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