Professores de universidades públicas se juntam ao Programa de Combate à Desinformação do Supremo Tribunal Federal, com o intuito de preservar a democracia
Mariana Guerin
Representantes de universidades estaduais e federais, entre elas a Universidade Estadual de Londrina (UEL), e parceiros dos setores público e privado do Programa de Combate à Desinformação do Supremo Tribunal Federal (STF) apresentaram , nesta semana, ao Supremo, estratégias e ferramentas para a difusão correta de informações da Corte nas plataformas digitais.
Os docentes compartilharam ideias, desafios e sugestões na criação de um grupo de trabalho interdisciplinar que auxiliará a Corte a fortalecer a democracia brasileira, a partir da organização de ações no âmbito da pesquisa e da extensão sobre o tema.
Um dos pontos destacados pelos professores foi a adequação da linguagem na transmissão de informações, de acordo com a realidade de diferentes interlocutores e mídias, tendo em vista os diversos contextos sociais da população brasileira.
Foram citados desde a utilização de rádios comunitárias e folhetos – direcionados a quem não têm acesso às redes sociais – até as publicações de vídeos no TikTok, bem como a produção de conteúdos específicos para crianças, adolescentes e jovens.
Os professores da UEL Mirelle Neme Buzalaf, da Faculdade de Direito, e Hernando Borges, do Departamento de Psicologia, participaram do evento. Mirelle apresentou estudos sobre as causas da desinformação e Hernando comentou a perspectiva da desinformação sob a análise do comportamento.
“Vivemos um momento de fragilidade democrática e ataque às instituições, especialmente ao STF. O STF é instituição fundamental à democracia e a defesa dessa instituição em face da desinformação deve ser feita de forma séria e urgente”, comentou Mirelle.
Segundo ela, as notícias falsas têm minado a credibilidade nas instituições democráticas e causado danos não só no Brasil, mas em várias partes do mundo. “A UEL, nessa parceria, busca contribuir para o combate à desinformação e propagação da verdade. Afinal, o direito à informação correta e de qualidade é fundamental.”
“A questão perpassa dimensões racionais e afetivas. Há aqueles que são vítimas de notícias falsas, mas há os que aderem a elas, sem reflexão ou questionamento por fazerem sentido com sua visão de mundo”, completou a professora.
Para ela, a tarefa de combate à desinformação não é fácil, mas é possível. “Ao debatermos causas e formas de evitar a propagação, temos o início desse combate que visa, em resumo, fazer com que a verdade prevaleça.”
Segundo o secretário de Altos Estudos do STF, Alexandre Freire, as parcerias estratégicas com as universidades ajudam a sociedade a entender melhor o papel do Supremo como guardião da Constituição. “Os participantes podem identificar seus impactos e apresentar possíveis soluções inovadoras.”
Responsável pela execução das ações do programa, a secretária de Comunicação do STF, Mariana Oliveira, afirmou que as universidades são as parceiras mais importantes desse projeto, porque têm uma capilaridade que o Supremo não tem.
Hoje, o acompanhamento de postagens sobre o Supremo em conteúdos públicos é feito de forma manual, pois o Tribunal não tem nenhuma ferramenta específica – daí a importância das parcerias. Segundo a secretária, a união de startups, com ferramentas tecnológicas, e as universidades, com as pesquisas, ajudará o desenvolvimento do trabalho.
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Desinformação: explicar, traduzir e humanizar
O Programa de Combate à Desinformação do STF desenvolve projetos, ações e produtos para difundir informações corretas e explicar sobre o funcionamento do Tribunal de forma mais clara. A estratégia se apoia no tripé: explicar, traduzir e humanizar, usando o site, as redes sociais e a TV Justiça como plataforma de relacionamento com o público.
Ainda em 2021, foi criado um espaço para desmentidos, a #verdadesdoSTF, onde são esclarecidos casos como falas inventadas de ministros, levando em conta o alcance das postagens.
Também foi realizada uma ação de educação para crianças com a Turma da Mônica, em parceria com associações de magistrados, em março de 2022, com produção de conteúdo sobre Judiciário para despertar a consciência sobre a desinformação.
Em junho, em parceria com a startup Postius, com apoio do WhatsApp, o programa vai lançar um chatbot com diversos serviços e, em parceria com startup Fasius, o Supremo vai conseguir acompanhar a circulação de informações no Twitter sobre ministros e sobre o Tribunal.
Para os 200 anos da Independência, o STF vai falar sobre as liberdades previstas na Constituição com o projeto de Liberdades. Realizado em parceria com o Instituto Justiça e Cidadania, o projeto prevê uma cartilha ilustrada com grafite, voltada para o público jovem, entre 16 e 18 anos, e linguagem mais popular e acessível.
E, em parceria com a Rede Nacional de Combate à Desinformação, ajudará a produzir e difundir a campanha contra a desinformação e pela democracia. Neste ano eleitoral, o STF será parceiro do Tribunal Superior Eleitoral no combate à desinformação, apoiando e reforçando ações. Todo o programa é feito sem custos aos cofres públicos.
Fortalecimento da democracia
Frederico Alvim, do TSE, responsável pelas parcerias desenvolvidas na Justiça Eleitoral, defendeu que, a partir da mobilização de grupos de interesse e entidades estratégicas, é possível desenvolver ações conjuntas para o fortalecimento da democracia.
“A crise democrática desperta um estado de atenção na sociedade. Todo mundo tem interesse em contribuir para atravessar essa crise sem retrocessos, fazendo com que as informações corretas prevaleçam”, ressaltou.
Alvim informou que o TSE já está desenvolvendo uma cartilha, que explicará, de forma didática, o conjunto de ações e comportamentos esperados das parcerias, bem como as políticas de incentivo. O Tribunal criou ainda redes de proteção, com canal específico para denúncia e tratamento correto de desinformações.
Alberto Teixeira, da startup da área de inteligência artificial Fasius, contou que a empresa desenvolveu criou uma plataforma exclusiva para o Supremo, chamada TORS ou Tecnologia de Otimização de Redes Sociais, a fim de capturar publicações de interesse da Corte usando palavras-chaves nas redes sociais, inicialmente no Twitter.
A ferramenta vai diferenciar postagens negativas, positivas e neutras relacionadas ao STF e conseguirá identificar, por meio de algoritmo próprio, se o post foi feito por humanos ou por robôs. Também será possível fazer análises, classificações e geração de relatórios com filtros específicos sobre os conteúdos relacionados, como comentários referentes aos ministros.
Francisco Dabus, da Positus, provedora oficial de soluções do WhatsApp, citou que a startup colocou à disposição da Corte a Invenio, uma plataforma de gestão e atendimento digital, que conectará vários canais em um só. O projeto visa a implantação de um canal oficial da Corte no WhatsApp, com a utilização de um chatbot para autoatendimento.
Esse serviço facilitará a consulta de dados disponíveis no site do Tribunal, como o andamento de processos, jurisprudência e dúvidas, que serão enviados de forma automática por meio de disparo de mensagens a partir de um cadastro prévio. “A população precisa estar bem-informada, e queremos contribuir para que essa informação chegue a ela de maneira rápida e eficaz”, afirmou.
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