Licélio da Silva Lúcio esfaqueou a ex-companheira e a mãe dela na frente da filha em outubro de 2020

Mariana Guerin

Foto em destaque: Imagem retirada da matéria da RIC Mais/Informe Néias

O mecânico Licélio da Silva Lúcio, 33 anos, foi condenado, nesta terça-feira (21), a 26 anos, sete meses e dez dias de prisão por dupla tentativa de feminicídio: contra a ex-companheira Josiane Cristina Souza, 27, e contra a mãe dela, Maria Cristina Jacinto da Silva, 54. A condenação aconteceu 21 meses depois do crime, ocorrido em 4 de outubro de 2020, no Conjunto Ernani Moura Lima, na Zona Leste de Londrina.

Preso desde então, Licélio foi denunciado pelo Ministério Público (MP) por tentativa de feminicídio por motivo torpe e de meio que impossibilitou a defesa da vítima. O MP pediu, ainda, aumento de pena por conta de o delito ter sido praticado na presença da filha do ex-casal, na época com sete anos de idade. Ao tentar matar Josiane e Maria Cristina, Licélio também descumpriu uma medida protetiva de urgência deferida em favor da ex-companheira.

Segundo a acusação do MP, Josiane já estava separada há um ano e meio do ex-companheiro e tinha medida protetiva de urgência a seu favor. Porém, às 18h30 do dia 4 de outubro de 2020, Licélio rompeu a tornozeleira eletrônica com a qual era monitorado pela polícia e entrou na casa das duas mulheres, portando uma faca.

Na frente da própria filha, ele desferiu diversas facadas na ex-companheira e na mãe dela. Elas só não morreram porque pessoas que estavam próximas ao local do crime escutaram os pedidos de socorro e seguraram o réu até a chegada da polícia.

Na época, Maria Cristina relatou ao Ministério Público que estava na sala, observando a neta brincar em frente de casa, quando viu Licélio saindo de um carro com uma faca na mão e entrando, repentinamente, na residência. Ao perceber a intenção dele, ela tentou impedi-lo de chegar até Josiane, que estava dormindo. Nesse momento ela teria sido atacada.

Ao MP, Josiane disse se lembrar apenas de acordar com os gritos da mãe e, ao sair do quarto para ver o que estava acontecendo, encontrar Maria Cristina no chão e seu ex-marido com uma faca na mão. Logo em seguida, ela também recebeu golpes de faca.

Josiane ficou com sequelas físicas das agressões. Ela sofreu lesões na coluna, que prejudicaram seu equilíbrio, obrigando-a a recorrer ao auxílio de uma cadeira de rodas para se locomover. Já Maria Cristina confessou que vive aterrorizada. Vó, mãe e filha passaram por acompanhamento psicológico para superar o trauma.

Ne época, na delegacia, Licélio permaneceu em silêncio e, em juízo, não negou a agressão, mas disse ter esfaqueado as vítimas após ter sido provocado por elas. Ao final do julgamento desta terça-feira, a defesa do réu informou que muitas informações sobre o caso não condizem com os fatos e que entrará com recurso.

“Não lutamos por uma absolvição, mas sim por uma Justiça justa. O que espero que a sociedade entenda é que, apesar de ser pugilista, não o torna um homicida contumaz. Foi um caso isolado, de uma pessoa desesperada, que se arrepende, de verdade, de todo sofrimento causado aos familiar‘Estou obstinada a propagar a boa imagem dele’, diz mãe de adolescente morto pela polícia

Condenado sempre foi violento

Segundo dados do informe produzido pelo Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina sobre o caso, Josiane relatou que o ex-companheiro sempre foi violento, o que a levou a pedir medida protetiva contra ele em 2016, quando houve uma separação. Ao reatarem o relacionamento tempo depois, ela teria solicitado a revogação das medidas.

Em 2019, após novo episódio de violência doméstica, com agressão física e ameaça de morte, Josiane solicitou um novo pedido de medida protetiva de urgência, que foi deferido. Assim que soube do novo pedido de proteção, Licélio teria ligado para ex-companheira, reforçando a ameaça de morte, que foi gravada e informada nos autos da medida protetiva. O Ministério Público solicitou, então, o monitoramento eletrônico do acusado que, posteriormente, foi deferido pelo juízo.

Para a voluntária do Néias, Jéssica Hannes, que acompanhou o julgamento desta terça-feira, “a gente vê com justiça a pena contra a Josiane. Foram acatadas todas as qualificadoras do Ministério Público, motivo torpe e meio que dificultou a defesa da vítima, e as agravantes de ter sido cometido na frente da filha e de ter cometido o crime depois de ter descumprido medida protetiva”.

“Foi uma condenação justa e eu acho que a família vai conseguir se sentir protegida e representada com essa condenação”, avaliou Jéssica.

Segundo ela, o observatório ainda questiona o fato de os jurados, em Londrina, ainda não reconhecerem a qualificadora de feminicídio em questões fora de relacionamentos íntimos.

“A gente teve um julgamento na semana passada em que não foi reconhecida a qualificadora do feminicídio porque o réu e a vítima não tinham um relacionamento amoroso. E a gente vê nesse julgamento novamente. O réu agrediu a ex-sogra e os jurados não reconheceram a qualificadora do feminicídio.”

“A gente precisa lembrar que a Lei Maria da Penha não trata só do relacionamento íntimo de uma mulher com homem, ela envolve todas as pessoas que são da família. A gente tem que trazer essa questão à tona, para as pessoas se sensibilizarem”, destacou Jéssica.

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