Jovem londrinense deixa a criminalidade e refaz a vida em Florianópolis
Nelson Bortolin
Foto em destaque: Victor quando morava em Londrina (esq.) e agora, vivendo em Florianópolis (dir.)/Arquivo Pessoal
Aos 12 anos, Victor Mendes, então morador do Conjunto Parigot de Souza, na Zona Norte de Londrina, entrou para o mundo do crime, passando a vender drogas. Aos 14, foi internado no centro de ressocialização para menores em conflito com a lei, o Cense, após ter participado de um sequestro. Ele é um amigo abordaram a vítima com duas I-soft (armas pneumáticas que disparam projéteis não metálicos).
“A gente pegou a pessoa e levou ela no carro dela. Saímos para o local que a gente tinha planejado. Mas logo demos de frente com a viatura da PM. Nos abordaram e pediram para a gente descer. Descemos com as mãos para o alto. Nossas armas nem eram armas de verdade. Os policiais vieram para cima da gente atirando, mas não acertaram. Falaram que só não nos mataram porque a gente estava com a vítima”, conta.
A juíza determinou prazo de um ano de internação para ele. Mas lá pelo décimo mês, o adolescente foi autorizado a sair durante o dia para participar de um projeto externo. “Não tinha juízo nenhum. Andava aprontando no Cense. Estava com medo e acabei fugindo. Fui morar na favela.” Só foi apreendido de novo um ano depois.
“Me abordaram à noite na favela. Quando descobriram que eu era foragido disseram que, se soubessem antes, teriam me matado. Mas naquela altura já tinha muita gente assistindo a abordagem.”
Victor Mendes ressalta que não gosta de generalizar. “Claro que nem todos os policiais são assim, mas tem uns que folgam, principalmente nas periferias.”
O jovem ficou mais seis meses internado. As conversas com os psicólogos e demais funcionários do Cense foram responsáveis por ele mudar de mentalidade. “Conversam bastante com a gente, nos apoiam. E até rezam junto com a gente”, afirma.
Segundo Victor, é comum os adolescentes se arrependerem e saírem da instituição determinados a mudar de vida. O problema é a falta de oportunidade aqui fora. “Levei currículo para tudo quanto é lugar e não consegui emprego.”
Mas a vida deu outra chance para o jovem. O cunhado, empresário em Florianópolis, o convidou para trabalhar e morar na capital catarinense. “Me deu trabalho na empresa dele, que é líder na venda de produtos para natação”, conta.
Victor Mendes entrou no programa Jovem Aprendiz e, com muito esforço, reconstruiu sua vida. Atualmente, é gerente de logística da empresa e treina funcionários desta área. “Eu considero meu cunhado como pai e ele me considera como filho. Na minha opinião, todo mundo tem de ter uma segunda, uma terceira chance na vida.”
Victor se revoltou com a declaração do comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Nelson Villa, de que as famílias são culpadas pelo ingresso dos adolescentes na criminalidade. “Não é fácil educar. Minha mãe sabia das coisas erradas que eu fazia. Ela tentou me internar, fez de tudo para eu sair dessa vida e não conseguiu. Depois que meu pai morreu (quando o jovem tinha 6 anos), ela trabalhou que nem louca para criar a gente”, conta.
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