Eu amo crianças! Quando Stefano nasceu minha casa ficou repleta de crianças. Eu andava com 10 crianças para o cinema, circo, teatro, parque aquático, praias, passeios de escuna, sítios e cachoeiras.
O que mais me encanta nas crianças? Sua pureza e espontaneidade, capacidade de amar, comunicar e confiar. Seu jeito afetivo, amoroso, alegre, criativo, curioso, vibrante, intenso e comunicativo.
Elas reproduzem o mundo adulto de forma livre, leve e solta. Tiram-nos do comodismo e da apatia ao requisitar nossa presença e atenção permanente.
Quando estou com crianças renovo a esperança e a capacidade de amar e brincar.
Fico indignada quando vejo crianças passando fome, sendo maltratadas, exploradas ou abandonadas.
Chorei quando vi as imagens cadavéricas das crianças Yanomamis. Crianças que deveriam estar correndo, brincando, crescendo dignamente, interagindo e aprendendo com a natureza, estão morrendo precocemente, assoladas pela fome, pela malária, pela contaminação dos rios por mercúrio.
Crianças reduzidas a esqueletos.
Como eu reagiria se isso estivesse acontecendo com as crianças que fazem parte do meu universo social e familiar?
O médico tropicalista André Siqueira, do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), afirma “que estamos vendo uma situação catastrófica e desastrosa com o povo Yanomami: desnutrição grave, infecções respiratórias, muitos casos de malária e doenças diarreicas. Há casos de desnutrição extrema em famílias inteiras. Para piorar o quadro, há uma escassez de equipes de trabalho e de infraestrutura”.
Minha alma chora e lamenta. Meu corpo clama por solidariedade e empatia. Minha formação cristã convida-me à responsabilidade e responsabilização das autoridades públicas.



Impossível ficar indiferente!
Imagens de dor e abandono permanecem em minha mente. E eu pergunto: que pedaços de mim estão ali?
E se as crianças que cresceram comigo estivessem vivendo essa calamidade?
As notícias sobre o que os Yanomami estão passando são impactantes. Adolescente e mulheres sendo estupradas seguidamente por vários garimpeiros.
Vozes comprometidas com o anúncio e com a denúncia foram silenciadas.
Como permanecer calada e indiferente?
Essa é a população da maior terra indígena demarcada no Brasil, 10 milhões de hectares em Roraima e Amazônia. Terra onde moram 30,4 mil pessoas.
Terras invadidas por 20 mil garimpeiros ilegais.
Nosso ouro enriquecendo alguns, com consequências ambientais irreparáveis para o nosso planeta.
Um cenário devastador. Somente em Roraima há 17 pistas de pouso clandestino para garimpeiros ilegais.
Ouro banhado de sangue Yanomami. Ambição e ganância que colocam a morte acima da vida.
Os povos originários, nossos ancestrais, estão sendo dizimados.
E eu me pergunto: onde foi parar a humanidade que deveria habitar em nós? Quais as consequências da nossa indiferença e omissão?
Qual o meu compromisso? O que posso fazer? O que podemos fazer como grupo?
Silenciar significa ser cúmplice de uma realidade cruel.
Que possamos abrir nossos olhos, mãos, sentidos e coração para essa realidade.
Exercitar a sensibilidade, a solidariedade e a compaixão para com os povos indígenas.
Tenho uma proposta concreta para todos que foram tocados por essa realidade. Vamos dividir um pouco do que temos com um povo que está pedindo socorro e precisa ser resgatado.
Muitas são as campanhas e temos dúvidas sobre a origem e confiabilidade. Gostaria de indicar que contribuíssemos com uma associação local com reconhecimento nacional e internacional na luta pela defesa dos direitos indígenas. Falo da Hutukara, associação da Terra Indígena Yanomami criada em 2004.
O depósito pode ser feito na conta bancária:
Hutukara Associação Yanomami
Banco do Brasil
Agência: 2617-4
Conta corrente: 58.918-7
CNPJ: 07.615.695/0001-65
Chave aleatória PIX: 8b323044-0123-49e5-8938-03bdc8491277
E-mail: hutukaraassociacaoyanomami@gmail.com
*Identificar a mensagem com o título Campanha Quaresma Yanomami.
Como permanecer indiferentes? Que possamos fazer a diferença e resgatar a esperança.
Gratidão por participar dessa corrente de solidariedade.
*Beatriz Herkenhoff é assistente social. Professora aposentada do Departamento de Serviço Social da UFES. Com doutorado pela PUC-SP. Autora do livro: “Por um triz: Crônicas sobre a vida em tempos de pandemia” (2021).
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