Adolescente de 15 anos é um entre dezenas de pessoas mortas pela polícia em Londrina e região
Nelson Bortolin
A dona de casa Juliana Maria Ferreira, 39 anos, sabe pouco sobre a morte do filho, Kauê Lopez, de apenas 15 anos. O menino foi morto, baleado pela Polícia Militar, dia 14 de novembro do ano passado, supostamente durante um assalto em Jataizinho, cidade da Região Metropolitana de Londrina.
Abalada, ela tem dificuldade de falar sobre o caso. Só sabe que o filho recebeu dois tiros no pescoço e um no joelho. “Ainda não tive coragem de buscar o laudo do IML (Instituto Médico Legal)”, afirma.
Juliana se sente perdida, não sabe a quem recorrer para entender o que aconteceu exatamente. “Achei que fossem me chamar na Polícia, na Justiça, para me explicar, mas ninguém me procurou”, conta.
O filho já havia tido duas passagens pelo sistema de ressocialização e a dona de casa tem consciência de que ele “aprontava”. Mas tinha esperança de que mudasse de vida. “Era para ele ter ficado internado até janeiro. Mas a juíza resolveu soltar o Kauê porque ele tinha família estruturada, lugar para morar.”
Um pensamento martela a cabeça da mãe: Se o jovem tivesse cumprido todo prazo estipulado inicialmente pela Justiça, poderia estar vivo.
“Ele pediu ajuda para comprar uma moto. Mas como eu e meu marido íamos dar uma moto para ele, com 15 anos?”. Com a negativa dos pais, Kauê se juntou a outros três rapazes para tentar levantar o dinheiro num assalto. “Ele saiu de casa bem cedo, escondido, pulou a janela”, afirma.
Dos quatro, dois foram mortos e dois sobreviveram. “Uns falam que ele já estava rendido (quando levou os tiros). Outros falam que não. Cada um conta uma história”, lamenta a mãe, que tem outras três filhas.
Juliana acha que o menino não estava armado. Ela ouviu dizer que Kauê se encontrava no banco de trás de um carro de duas portas, dentro do qual foi morto. “Não tinha como trocar tiro”, alega.
A versão da PM é que os jovens foram perseguidos na entrada da cidade porque teriam cometido um assalto em Ribeirão do Pinhal. E que teria havido um confronto.
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