Bruna Tukamoto cria conteúdo sobre preconceito amarelo desde 2020, quando se entendeu mulher não-branca
Cecília França
Foto em destaque: Bruna Tukamoto/Arquivo pessoal
A londrinense Bruna Tukamoto, 26, percorreu um longo caminho até se reconhecer como mulher não-branca e hoje compartilha conteúdo sobre racismo anti-asiático com mais de 200 mil seguidores nas redes – 44 mil apenas no Instagram. Entre vídeos de maquiagem e postagens sobre o dia-a-dia, a jornalista debate a amarelitude e a conscientização sobre o preconceito amarelo, que a perpassou por toda a vida sem que Bruna se desse conta.
“Comecei a criar conteúdo sobre a amarelitude em 2020, ano em que me percebi como não-branca. Eu acabei escutando um podcast sobre racismo anti-asiático em janeiro e me identifiquei de todas as formas. Pouco tempo depois, comecei a perceber que, diferente do que eu sempre achei, eu nunca fui lida socialmente como branca. Isso porque, com a chegada da pandemia ao Brasil, os ataques contra os amarelos aumentou significativamente no nosso país”, relembra.
Por se tratar de um tema pouco debatido, Bruna teve receio de levá-lo a público. Temia a deslegitimização. Ao longo de 2020, estudou e leu sobre a luta antirracista amarela e, em novembro do mesmo ano, tomou coragem de levar o assunto a público. Sentiu, de imediato, identificação com as seguidoras, que já a acompanhavam pelo conteúdo de beleza e estilo de vida.
“Resolvi então aproveitar as minhas redes sociais para continuar falando sobre as pautas raciais amarelas, porque vi muita identificação de seguidoras, além de usar a internet como uma rede de conscientização”, explica.


Nesta quinta-feira (9), Bruna postou uma thread (série de tuítes em sequência) e vídeo sobre como não se fantasiar para o Carnaval parodiando pessoas asiáticas. “TUTORIAL: 5 dicas para não ser racista com asiáticos-amarelos nesse Carnaval“, inicia o post.
“Lembre-se: etnia não é fantasia! Ao invés de se vestir de gueixa/samurai, que tal optar por uma fantasia de verdade, que não reforce estereótipos racistas nem invisibilize nenhum grupo racial?“, escreve ela na primeira dica. As interações foram muitas (leia aqui) e Bruna comenta sua expectativa com postagens como essa.
“A minha esperança é que a discussão sobre a amarelitude avance cada vez mais e que a nossa luta seja tratada com a seriedade que ela merece. Tenho consciência de que ainda somos muito invalidados e até por isso, um dos meus objetivos ao criar conteúdos sobre o preconceito amarelo na internet é gerar a conscientização. Quero colaborar para a conscientização da nossa sociedade e ajudar para que, futuramente, tenhamos mais espaço e visibilidade junto à luta antirracista”, expõe.
Fetichização da mulher asiática
Sobre as mulheres asiáticas, pesa, ainda, a fetichização, que Bruna sente em seus relacionamentos.
“É muito perceptível, por meio de algumas falas, que existe um imaginário social do que é ser uma mulher amarela. Alguns dos principais estereótipos que nos regem são: submissa, infantil, meiga, tímida. Essa imagem, que é reforçada pela indústria do entretenimento, nos reduz a um mero objeto sexual, transforma a nossa etnia em um mero fetiche”, destaca Bruna.
Esses estereótipos são traduzidos em falas como “Meu sonho é ficar com asiática”, “Nunca fiquei com uma asiática” ou até mesmo em falas mais violentas como “É verdade que a sua vagina é na horizontal?”.
“Tudo isso colabora para reforçar a imagem sexualizada e fetichizada da mulher amarela”, reforça a criadora de conteúdo.


O racismo contra asiáticos-amarelos ocorre de forma muito velada e envolve microagressões, aponta Bruna, o que o torna distinto do preconceito dirigido a outros grupos raciais. Isso dificulta o reconhecimento da luta antirracista.
“Acho que é muito importante, sim, ter consciência de que o racismo que nos atinge é completamente diferente do racismo que atinge outros grupos, mas isso não diminui a relevância da nossa discussão”, finaliza.
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