Aqui, onde a terra e a bandeira são vermelhas, Carnaval não é coisa para trabalhadoras e trabalhadores, probetões e pobretonas
Por Meire Moreno*
Foto em destaque: Filipe Barbosa
É Carnaval!!! A festa mais popular do Brasil!!!
Popular… depende em qual Brasil! Aqui, onde a terra e a bandeira são vermelhas, Carnaval não é coisa para trabalhadoras e trabalhadores, probetões e pobretonas que não podem pagar para curtir a folia nos carnavais de salões.
As poucas iniciativas de construir Carnaval para o povo que trabalha e sobrevive (não só de comida! A gente também quer diversão e arte) são sabotadas e duramente criticadas por aqueles que exercem o poder político e econômico na cidade.
É Carnaval. Chove! É sul! Mas quem liga pra chuva quando se tem alegria na rua? A questão é: não há alegria na rua, não por aqui! E quando há, sabotagem!
Quem estava lá no Botânico viu e sentiu! Que lindo foi o povo reunido, aos milhares, dançando e brincando o Carnaval!
Oportunidade de trabalho e sobrevivência para as e os ambulantes (e de lucro para atacadistas de quem os ambulantes compraram), para artesãs como eu, para trabalhadoras e trabalhadores da cultura. A festa na rua movimenta a economia local! Mas quem te conta? É segredo guardado de quem exerce o poder e diz que cultura é gasto.
Acontece que a alegria é para poucos em Londrama. A festa foi transferida de última hora. Acesso restrito. Atravessar a cidade de ônibus, app ou carro próprio dificultou. Rua fechada. Mais de 2km de caminhada ladeira abaixo. Na volta, 2 km de ladeira acima. Impeditivo para PcDs, gestantes, crianças, pessoas idosas.
Críticas. Mas só de quem não critica o fato de que faz muito tempo que não há lixeiras suficientes no Jardim Botânico de Londrina nem para os passeios e cliques de gestantes nas tardes de domingos “normais”. Desculpa para a próxima sabotagem.
Comércio aberto na segunda. Povo cansado da labuta. Não é mais feriado. Mas se houvesse como cair na folia? Mesmo debaixo de chuva? Com baixo custo? Baixa (grandiosa e riquíssima) cultura?
Popular para quem? Para quem paga e decide. Sem culpa, sem desculpas. Lucrativo! Rentável! Para quem pode pagar!
Que gire o sol! Que venha o sol! Amanhã o povo que batalha, trabalha e sabe o preço da feira tem mais uma chance de curtir!
Viva o Carnaval de rua! (Sobre)viva folia! Que seja um dia gigante! Na rua, para todas e todes!
*Meire Moreno, mãe da Amanda e da Joana. Professora da rede estadual de ensino e ativista feminista.
Deixe uma resposta