Menina de 9 anos foi morta e teve o corpo descartado em um fundo de vale, em 2019, em Londrina; Sandro de Jesus Machado é o acusado

Cecília França

Foto em destaque: G1 Paraná

No dia 21 julho de 2019, o corpo da menina Sara Manuele da Silva, de apenas 9 anos, foi encontrado com sinais de estrangulamento e estupro, em um fundo de vale, em Londrina. O padrasto da garota, Sandro de Jesus Machado, foi preso pelo crime e será julgado nesta terça-feira (7).

O julgamento, em júri popular, no Fórum de Londrina, deveria ter ocorrido em setembro do ano passado, mas acabou adiado às vésperas a pedido da defesa.

Assistente de acusação que representa a família de Sara, o advogado Henrique Almeida diz que a expectativa é de condenação diante dos fatos e da confissão do próprio réu.

“No Tribunal do Júri não tem ganhador nem perdedor, todos nós somos perdedores. Infelizmente uma vida foi ceifada. Uma criança de 9 anos foi morta. Vamos pleitear a maior condenação”, afirma ele.

Para o advogado, o resultado do julgamento servirá como um recado à sociedade. “O Ministério Público está atento, a justiça está andando. Fica o recado que o Paraná não aceita esse crime hediondo”.

De acordo com informações do processo, professoras teriam notado diferenças no comportamento de Sara e a rede de proteção foi acionada.

Segundo o advogado, a menina foi ouvida por profissionais, mas não revelou os abusos que sofria.

Familiares também não confirmaram. No entanto, a acusação considera que há elementos suficientes para comprovar abusos anteriores ao do dia do crime.

“O acusado nega veementemente, diz que foi caso esporádico devido a excesso de cocaína e álcool, mas nós vamos também pedir pela condenação dele por outros dias”, garante.

O júri popular terá início às 9h, com transmissão pelo canal do Youtube do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR).

A advogada Jéssica Hannes, que produziu o Informe do caso Sara para a organização Néias-Observatório de Feminicídios Londrina, ressalta que este é o primeiro feminicídio infantil acompanhado pela organização e que o inteiro teor do processo permanece em sigilo.

De toda forma, ela diz ser possível mensurar a dificuldade de uma menina em se reconhecer vítima de violência de gênero e denunciar.

“Se nós, mulheres adultas, às vezes temos dificuldade em nos reconhecer vítimas, imagina uma menina que ainda está em formação e que, na maioria das vezes, sofre essa violência por pessoas que são do seu convívio íntimo, em quem deveriam ter plena confiança”, pondera.

O caso de Sara evidencia a importância de uma rede de proteção capaz de identificar crianças em situação de violência.

“Provavelmente, Sara nem sabia que o que sofria era uma violência e foram professoras dela que notaram as mudanças de comportamento e avisaram a rede. Em casos de feminicídio que envolvam meninas o papel do Estado deveria ser ainda maior”, defende Jéssica.

Como Sara, mais de 1 mil crianças mortas em 5 anos

Em 5 anos (2016-2020) o Brasil registrou 1.070 mortes violentas intencionais de meninos e meninas de 0 a 9 anos. Os dados foram contabilizados pelo “Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil“, publicado pela Unicef em outubro de 2021.

O documento é apontado por Néias-Observatório de Feminicídios Londrina como um dos poucos que traz números sobre essa tragédia infantil, e ainda podem estar subestimados. A análise consta no Informe n.19 da organização, que aborda o feminicídio da menina Sara e expõe a invisibilidade das mortes violentas tanto de meninas quanto de meninos.

Leia mais sobre esse estudo aqui, em matéria que publicamos por ocasião do primeiro júri agendado do caso Sara.

Onde denunciar crimes contra crianças

Néias fez um compilado dos serviços de proteção a meninos e meninas. Saiba a quem recorrer em casos de violência.

Disque 100: número do governo federal voltado para auxiliar e dar orientações em casos de violação de Direitos Humanos. A ligação é gratuita e anônima.

Disque-denúncia 181: serviço centralizado que permite a qualquer pessoa fornecer à polícia informações sobre delitos e formas de violência, com absoluta garantia de anonimato.

Disque 190: canal com a Polícia Militar caso a violência esteja ocorrendo naquele momento e seja urgente.

Cras ou Creas (centros de referência em assistência social) da sua cidade: Nesses locais, é possível obter suporte psicológico, além de instruções sobre como agir.

Conselho Tutelar de sua cidade ou o Ministério Público: Ambos têm obrigação de agir diante desse tipo de denúncia.

Delegacia de Polícia, onde é possível registrar um boletim de ocorrência.

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