Movimento dos Artistas de Rua de Londrina comemora uma década revolucionando a construção de políticas públicas para a cultura de Londrina

Entrevistas e fotos: Filipe Barbosa

Texto: Mariana Guerin

O Movimento dos Artistas de Rua de Londrina (MARL) comemorou dez anos no último sábado (4) com uma festa que contou com uma programação repleta de atrações educativas e culturais, desde feira de produtores locais até batalha de rimas. Duas rodas de conversa discutiram os desafios da ocupação permanente e as políticas públicas de cultura no contexto de Londrina.

Em uma das conversas, o professor Kennedy Piau, um dos fundadores do MARL, questionou a ausência de professores de arte nas escolas municipais e a falta da metodologia de ensino de arte nos cursos de pedagogia da região.

“Nós precisamos levar o movimento cultural para dentro da escola e levar a escola para o movimento cultural”, convoca.

Ele propôs, ainda, a discussão do plano de ação da lei Aldir Blanc 2 e da lei Paulo Gustavo, que permitem a formulação de políticas públicas que não são contempladas pelo Promic.

“É um momento privilegiado de criação. Política pública se cria e criar é resolver problemas com limite de recurso. Quanto menos recursos, mais criatividade a gente tem que ter.”

“É preciso encontrar formas alternativas para que o MARL acesse recursos públicos. O dinheiro público tem que vir para garantir segurança, conforto e potência a esse espaço, como nós também temos que garantir recursos para outros espaços públicos, para que as vilas culturais não sejam instrumentos de especulação imobiliária”, alerta.

Piau lembra que o Promic foi uma política inovadora criada pelo movimento cultural organizado, e não pela administração, e que, neste momento histórico, Londrina precisa de novas políticas para a cultura da cidade.

“A estrutura do Promic não dá conta da nova realidade cultural que se estabeleceu em Londrina. não dá conta da quantidade e da qualidade de trabalhadoras e trabalhadores da cultura de Londrina. Então, essa é uma convocação para que a gente retome a mobilização e possa criar uma sociedade mais justa.”

MARL: ação coletiva supera limites

Formado em Relações Públicas, o pesquisador Danilo Lagoeiro também foi dos fundadores do MARL e relembra o início do movimento.

“No início do movimento, eu participava de grupo de teatro de rua e de grupos de capoeira e integrava, na época, o Conselho Municipal de Cultura, como conselheiro de Comunicação. Eu atuava na Universidade Estadual de Londrina (UEL) como professor no curso de Relações Públicas, então, de alguma forma acabei colaborando aqui, na luta, no dia a dia.”

“Também dialoguei com esses outros espaços que eu estava ocupando, levando a pauta, trazendo mais pessoas, falando sobre, buscando que as pessoas colaborassem. No início, com financiamento coletivo, para arrecadar recursos para melhorar essa luta permanente de melhoria da infraestrutura do espaço”, recorda.

Segundo ele, foram várias as dificuldades no início do projeto: “A interlocução com a institucionalidade, recurso, mas, ao mesmo tempo, a ação direta, a ação coletiva vinha como o antídoto para superar esses limites”.

Cozinharte junta comida, literatura e música

A professora de língua portuguesa Natália Fonseca participa da feira de produtores do MARL desde setembro de 2022, com um pequeno negócio chamado Cozinharte, que vende brigadeiros e tacos vegetarianos.

“A gente começou vendendo nas batalhas de rima no Zerão e depois viemos para o MARL. A nossa proposta é juntar comida, literatura e música. Nosso propósito, também, é apoiar a cena local londrinense, apoiar os artistas aqui da cidade, principalmente quem está nessa cena underground, transitando entre o hip hop e o rock’n roll.”

Para a comemoração do último sábado, a professora apresentou trabalhos realizados pelos seus alunos do nono ano do ensino fundamental da rede pública.

“Enquanto professora eu sempre gosto de levar para a minha sala de aula as múltiplas linguagens das artes, então eu trabalho sempre com arte visual, arte verbal, literatura, música cinema etc. E eu gosto muito de trabalhar colagem com meus alunos.”

“Como nesta semana nós celebramos o Dia Internacional da Mulher, eu trouxe aqui o trabalho do ano passado. Eles fizeram uma colagem sobre mulheres brasileiras e de outros países que contribuíram de alguma maneira ou seguem contribuindo para a história do Brasil e do mundo”, conta.

“Quando a gente está trabalhando com o Cozinharte nas batalhas de rima, aqui no MARL ou em outros lugares, nosso propósito, além de vender, é: a cada compra, você ganha uma frase, um trecho de uma literatura, um trecho de música. Porque o nosso objetivo é disseminar e fazer com que as pessoas valorizem todas as manifestações artísticas que existem, principalmente a literatura e a música.”

Confira imagens do Fest MARL – 10 anos:

Movimento ajudou a criar a Lei do Artista de Rua

A atriz, diretora e produtora de teatro, Luli Rodrigues, foi uma das artistas que se apresentou no Fest MARL – 10 anos. Ela também está entre os fundadores do movimento e reforça a importância do MARL para a criação de políticas públicas para a cultura londrinense.

“Enquanto artista de rua, enquanto MC de Batalha, existe uma gratidão muito grande pelo Movimento de Artistas de Rua porque, se não fosse esse movimento político e filosófico, não existiria hoje, por exemplo, a Lei do Artista de Rua.”

Ela explica que essa legislação permite que a arte na rua aconteça sem burocracia, “sem precisar entrar em contato com a Guarda Municipal, com a CMTU, Prefeitura”.

“As batalhas acontecem hoje com liberdade, sem serem interrompidas pelas viaturas, principalmente por conta da Lei do Artista de Rua. E isso é só uma das coisas que o movimento agregou.”

“Além de ter ocupado esse espaço, que inclusive eu ajudei a ocupar, e que hoje é a sede de vários grupos de teatro e oficinas de todos os gêneros na área da arte”, destaca Luli.

Ela conta que foi pega de surpresa pelo MARL: “Eu estava chegando aqui, em 2016, fazendo Artes Cênicas na UEL, e minha professora trouxe a turma até aqui e no meio do rolê a gente entendeu que seria a ocupação de um prédio público desativado há dez anos e que tinha previsão de demolição”.

“Aí participei da ocupação no primeiro dia, meio sem saber, e fui entendendo do que se tratava e fazendo cada vez mais parte, tanto do movimento quanto das discussões de políticas públicas, que é para isso também que o movimento se propõe.”

“Acho que esse espaço vai ser berço, porque já é, de muitos artistas, de muitos grupos e ainda vai promover uma baita de uma revolução no pensamento de políticas públicas nessa cidade, porque existe um senso de comunidade, inclusive, para discutir editais.”

“Vamos fazer junto, vamos somar e vamos ensinar. É muito importante para quem está começando e para quem já está no meio do rolê e quer aprender cada vez mais”, convoca Luli.

Sobre o MARL

O Movimento dos Artistas de Rua de Londrina surgiu com o objetivo de reunir artistas de todas as áreas que desenvolvem o seu trabalho em espaços públicos.

O movimento estimula discussões artísticas e políticas referentes, principalmente, à Londrina, possibilita a troca de informações e experiências, solidifica parcerias para promover ações político-culturais e facilita o intercâmbio entre artistas londrinenses e movimentos culturais nacionais.

O Canto do Marl Vila Cultural fica na Avenida Duque de Caxias, 3.241.

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