Néias-Observatório de Feminicídios Londrina lembra que, mesmo com condenação de Sandro de Jesus Machado, neste 7 de março, não pudemos proteger Sara
Por Néias-Observatório de Feminicídios Londrina*
Foto em destaque: Instalação feita por Néias em frente ao Fórum de Londrina durante julgamento/Divulgação
Após um longo julgamento nesta terça-feira, 7 de março, Sandro de Jesus Machado terminou condenado a 40 anos e 10 meses de reclusão pelo feminicídio de Sara Manuele da Silva, sua enteada, menina negra de apenas 9 anos, cometido em 20 de julho de 2019. Sara teve o corpo descartado em um fundo de vale, com machucados e evidências de estupro. A morte se deu por asfixia.
Além do feminicídio, pesou contra o réu o fato de o crime ser contra menor de 14 anos. O júri reconheceu estupro anterior à data do feminicídio e crime cometido para encobrir outro delito, o estupro. Não reconheceu, no entanto, autoria do abuso sexual no dia do feminicídio.
O réu também não reconheceu abusos anteriores à enteada. No entanto,restou provado nas arguições do Ministério Público que eles ocorriam. Sobre o estupro no dia da morte, um exame de DNA em um preservativo encontrado no local comprovou que o mesmo foi utilizado no estupro de Sara, mas não era compatível com o material genético de Sandro, levando à sua absolvição no estupro daquele dia e deixando a dúvida sobre a participação de um terceiro elemento no crime.
Ainda que não tenha sido responsável pelo estupro de Sara no dia de seu feminicídio, Sandro, no mínimo não a protegeu. Talvez tenha propiciado o crime sexual para, depois, asfixiá-la, como restou provado.
Ao longo do julgamento foram ouvidos 15 depoimentos, incluindo da mãe da menina. Ficaram evidentes as mudanças de comportamento apresentadas por Sara meses antes de seu feminicídio – indícios, por vezes sutis, de que ela poderia estar sendo abusada. Profissionais da rede de proteção observaram tais mudanças, mas Sara sempre negou os abusos, possivelmente por estar sendo ameaçada. Não há como exigir nada de uma criança de 9 anos.
Acompanhar um julgamento como o do feminicídio de Sara é doloroso de múltiplas formas. Nos fere enquanto mulheres, enquanto mães e militantes. Não pudemos proteger Sara nem outras tantas meninas que tiveram suas vidas ceifadas por homens sádicos.
Sara foi privada de brincar, de crescer, de se tornar uma mulher, de amar. Nunca superaremos isso. Como sociedade precisamos repensar o modo como tratamos nossas crianças – meninas e meninos. Não podemos nos permitir ser os mesmos após assassinatos cruéis como esses.
A condenação de Sandro representa uma forma de justiça por Sara. Permanece, porém, a sensação de insuficiência do sistema quando o julgamento termina com a dúvida sobre a partipação de um terceiro elemento no crime. Por que isso não foi investigado a fundo? Como podemos permitir que essa terceira pessoa permaneça impune?
Néias-Observatório de Feminicídios Londrina se solidariza com todas as mães e famílias que perderam suas crianças de forma brutal como aconteceu com Sara e reforça seu clamor por uma mudança social de fato, quando poderemos garantir a proteção de nossas meninas e mulheres.
*Néias-Observatório de Feminicídios Londrina é uma organização da sociedade civil dedicada a monitorar e dar visibilidade a casos de feminicídio tentado e consumado em Londrina. Acompanhe no Instagram.
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