Participaram do ato próximo à UEL os parentes de Willian Júnior e Anderbal Júnior, mortos em maio do ano passado

Nelson Bortolin

Familiares de Willian Júnior, morto pela polícia dia 6 de maio do ano passado, fizeram uma manifestação nesta quarta-feira (8), quando ele completaria 19 anos. O ato foi às margens da PR-445, próximo aos campos de futebol da UEL, no exato local onde o jovem, que estava dentro de um carro, recebeu vários tiros disparados por policiais.

Em solidariedade ao aniversário de nascimento de Willian, também estiveram no ato familiares do amigo dele, Anderbal Júnior, morto na mesma ocasião aos 21 anos.

Os policiais alegam que os perseguiu porque seriam suspeitos de roubar carros e que atiraram após os jovens apontarem armas contra eles. Uma terceira pessoa que estava no veículo sobreviveu, apesar de baleado. E, segundo os familiares, conta uma versão diferente: a polícia já chegou atirando e os jovens estavam desarmados. Armas teriam sido plantadas pelos policiais juntos aos corpos para simular um confronto.

As mortes decorrentes de ação da polícia são tema de um debate que a Rede Lume e a Rádio UEL realizam na próxima quarta-feira (15), às 19 horas, na Sala de Eventos do Centro de Educação, Comunicação e Artes (Ceca), da universidade – clique aqui e leia mais.

“Eu não preciso mentir para ninguém. Quem está mentindo são os policiais. Ninguém (os jovens) tinha arma. Não foi confronto. Foi vontade de atirar, vontade de matar. Foram 50 tiros”, conta a avó materna de Willian, Maria Lopes de Melo. “Disseram que meu neto era bandido, mas ele não tinha uma vírgula de passagem (pela polícia). Os outros também não. Mesmo que tivessem, a polícia tinha de prender, entregar para a (Polícia) Civil ouvir e depois mandar para o juiz. Esse é o caminho certo”, critica.

Segundo estudo da Defensoria Pública do Paraná, 38% dos mortos pelas forças de segurança no Estado, em 2021, não tinham nenhuma passagem pela polícia. Leia mais.

De acordo com a avó de Willian, a única “arma” que os jovens portavam era os telefones celulares. “Eles não iriam reagir a prisão porque celular não confronta a polícia. Eu não vi até hoje um celular que dispara tiros”, ironiza.

Veja depoimento de Maria Lopes de Melo no vídeo:

O avô paterno de Willian, Morizon Ferreira, também esteve na manifestação. Ele conta que se agarra na fé católica para sobreviver à morte do neto. “Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós”, repete o avô, desde que ouviu a música ser tocada no velório do jovem.

Ele diz não querer vingança, mas justiça. E classifica o que ocorreu como um “ato de despreparo” da polícia. “Os meninos não estavam armados. Inventaram isso no processo. Não acho que os policiais tivessem algo contra o Júnior, mas receberam ordem e aí houve essas mortes tristes à queima roupa”, desabafa.

O jovem era o único neto e a avó paterna, segundo o marido, entrou em depressão profunda. “Ela quase não dorme mais. Chora muito. O Júnior era um menino que tinha uma vida inteira pela frente, mas infelizmente essa vida foi ceifada pelo despreparo da polícia.”

Também em depressão estão os pais de Anderbal Júnior. “Meu marido não consegue sair da cama”, conta a mãe, a comerciante Valdirene Inácio. O casal tem outros dois filhos mais novos. “Eles estão fazendo acompanhamento psicológico.”

Anderbal deixou um filho pequeno. “O menino tem surtos de choro, carrega a foto do pai por onde anda, chama pelo pai o tempo todo”, conta.

Ela diz ter perdido completamente a confiança na polícia. “Existe um sistema sendo gerado, que está criando esse bando de inconsequentes que não têm autoridade em palavras, só com armas.”

A comerciante alega que os filhos foram criados num “regime bem rigoroso” e se revolta quando a polícia diz que Anderbal era um bandido “conhecidíssimo”. “Mentira. Disseram que meu filho tinha várias passagens. Tudo mentira”, repete.

Para a mãe, a sociedade precisaria colocar um limite nas mortes pela polícia. “Mas ao contrário, a sociedade aplaude, parabeniza pelas mortes. Diz que vai pagar churrasco para os policiais.”

A revolta está estampada na voz e nos gestos de Valdirene. “A gente carrega um filho por nove meses na barriga, passa 21 anos ensinando, educando. Aí vem um miserável que se sente um super-homem com uma arma e faz todo esse estrago.”

A reportagem procurou o comando da Polícia Militar para repercutir o protesto, mas não houve retorno do pedido de entrevista.

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