Organizações reunidas na Frente Feminista levantaram pautas como antirracismo, aborto seguro, combate à miséria e à opressão no Dia Internacional da Mulher

Cecília França
Com entrevistas e fotos de Filipe Barbosa

Diversas organizações, reunidas na Frente Feminista de Londrina, ocuparam o Calçadão no fim da tarde deste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, em defesa da vida e dos direitos das meninas e mulheres. Nos discursos, falas antirracistas, em defesa do aborto seguro, do combate à miséria e à opressão que atingem diariamente mulheres, sejam elas cis ou trans, em diferentes níveis.

Poliana Santos, representante da Marcha Mundial das Mulheres, ressalta que o coletivo, forte nacionalmente, está se reestruturando em Londrina para somar na luta feminista. A ativista aproveitou a fala para tratar de um tema altamente invisibilizado: as mulheres em situação de rua.

“Quero falar de um outro ativismo que eu tenho que é o projeto Rango, que trabalha direcionado a pessoas em situação de rua, mas tem um apelo em atender mulheres. E essas mulheres são muito invisíveis. É necessário que a gente saiba que aqui em Londrina tem muitas, passando por diferentes violências, e elas tentam suas sobrevivências muito atreladas a algum companheiro ou alguma proteção da rua vinda do universo masculino. Mas dentro disso elas são submetidas às leis das ruas, que acredito que todas e todos aqui têm uma certa noção”, explica.

“É uma questão de violência que a gente tem trabalhado, tentando se aproximar, mas bem complicado também. Então que a gente possa olhar para nossas mulheres que estão nessa situação de vulnerabilidade”.

Poliana lembra que as pautas levantadas no dia 8 de março devem transcender a data. “Que nós possamos ter força umas com as outras, para que as nossas demandas sejam ouvidas durante todo o ano. Não é 8 de março que é dia da mulher, não é o mês de março que é mês da mulher, porque nós sabemos, todos os dias, o quanto somos violentadas e o quanto nossos direitos também são subtraídos”, completa.

Angélica Radharani representou a Frente Antirracista de Londrina no ato e apontou a necessidade de se combater o racismo e fortalecer as mulheres pretas. “Não podemos falar sobre mulher sem colocarmos nós, mulheres pretas, na pauta. Estamos aqui para fazer um chamado para as mulheres que estão aqui presentes para construirmos os 21 dias de ativismo contra o racismo, contra a intolerância religiosa. Temos atividades acontecendo desde o dia primeiro de março”, informa.

“Que nossa luta não fique restrita ao 8 de março, que a gente consiga construir algo permanente, com mulheres pretas, mulheres trans, cis, com todas as mulheres”.

Ângela Silva, professora e militante do Psol, lembrou dos retrocessos impostos à vida das mulheres trabalhadoras pelo governo de Jair Bolsonaro e cobrou do atual presidente, Lula, o compromisso com pautas progressistas e de melhoria da vida das trabalhadoras.

“(Não podemos) Abrir mão de pautas caras, como uma educação pública de qualidade. Precisamos revogar a política do novo Ensino Médio; precisamos de acesso ao serviço de abortamento público e gratuito para crianças e mulheres que dele necessitam; precisamos de moradia digna”. Nesse sentido dizemos ‘Não vamos retroceder jamais’”, declara.

“O sentimento de vitória que nos envolve desde o resultado das eleições presidenciais de 2022 não é qualquer momento da política brasileira. Foi o Brasil com rosto de mulher preta, indígena, pobre, do campo, da floresta, da periferia, das cidades, ribeirinhas, jovens, que resistiu à cruzada de ódio do governo Bolsonaro”.

Ângela acrescenta que “as ações do governo de morte aprofundaram a fome, o desemprego, o feminicídio, o assédio sexual e moral, o racismo, o machismo estrutural, os crimes de ódio nas redes e nas ruas e a precarização do trabalho”.

Defesa do aborto como questão de saúde pública

Erica Xavier, do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, destacou a necessidade de se debater a descriminilização do aborto no Brasil e pensá-lo como questão de saúde pública.

“No ano de 2022 a Organização Mundial da Saúde apontou que, anualmente, 39 mil mulheres morrem e milhões são hospitalizadas com as complicações causadas por abortos inseguros, atingindo mulheres das regiões mais precarizadas. No Brasil, a estimativa do Ministério da Saúde é que cerca de 1 milhão de abortos induzidos ocorrem em todo o país. No caso dos abortos inseguros não há estimativas, entretanto, segundo o Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis da Promoção de Saúde, eles levam à hospitalização de cerca de 250 mil mulheres por ano. E apontam uma morte a cada 2 dias”, pontua a ativista.

A maioria das vítimas são mulheres negras, indígenas, jovens solteiras, mulheres trabalhadoras e que estão em estado vulnerável. “Isso é o que mostram os poucos dados coletados, porém, sabemos que a conta é muito maior quando se considera os abortos clandestinos. Todos os dias mulheres arriscam suas vidas por não terem direito de escolha sobre a reprodução ou não da vida”.

Abortos são realizados, mas a criminalização vitima mulheres em situação de vulnerabilidade. Este é o ponto que a sociedade precisa compreender, defende Erica. “Ninguém é a favor do aborto. Eu acho que é importante que a sociedade entenda isso. A gente é a favor da vida das mulheres. A pauta do aborto deve ser tratada como uma questão de saúde pública e de classe social. É preciso pressionar os governos para a descriminalização”, finaliza.

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