Nos últimos textos venho batendo insistentemente na tecla da necessidade de todos serem inclusivos. Mercado consumidor, arte, mercado de trabalho, mas o fato é que todos esses setores são compostos por pessoas, sem e com deficiência.

Quando falamos de inclusão é comum que nossos olhos sejam direcionados para as pessoas que não possuem deficiência e cobrem delas um olhar mais inclusivo, medidas de acolhimento e aceitação do público PCD nos mais diversos espaços e discussões da sociedade.

Essa cobrança é pertinente e justa, afinal precisamos nos fazer ouvir para ter a tão sonhada representatividade que, mais que um merecimento, é um direito. No entanto, hoje, quero convidar você, pessoa com deficiência, à autocrítica: você é uma pessoa inclusiva?

Sim, nós do público PCD esperamos esse “aval” da sociedade para nos sentirmos parte integrante lá, mas também temos oportunidade de demostrar que somos inclusivos. A questão é: quando temos essa oportunidade, a usamos de maneira adequada ou caímos no senso comum.

Explico: pessoas têm diferentes deficiências e por isso diferentes necessidades de apoio, acompanhamento e cuidado. Quando você tem deficiência pode incorrer no erro de achar que dada a sua condição de enquadramento, qualquer outra pessoa com deficiência pode alcançar as mesmas metas, ter os mesmos resultados e realizar as mesmas coisas que você.

E pior, pode ser vítima daquele discurso preconceituoso que oportunistas usam: se você consegue, ele ou ela também consegue, só não faz porque não quer.

Além de preconceituoso, esse discurso é mentiroso. Cada deficiência tem a sua particularidade e exige atenções diferentes. Soma-se a isso o fato de que cada indivíduo foi constituído a partir de suas vivências e experiências, a partir das condições que a vida lhe impôs, ou seja, cada um de nós lida de uma forma com nossas dores e desafios cotidianos, estejam eles direta ou indiretamente ligados à nossa deficiência.

O que quero trazer aqui é a atenção para o fato de que mesmo uma pessoa com deficiência pode ser promotora da inclusão nos mais diferentes ambientes, sobretudo no trabalho, no entanto, deve entender que cada indivíduo, por mais semelhante que suas deficiências possam parecer, precisa de uma atenção diferenciada.

Resolvi trazer essa questão aqui depois de começar a refletir sobre como eu poderia ser um agente de inclusão ao invés de só esperar que outros façam isso por mim.

Embora eu tenha hipóxia neonatal e conheça muito da vida de alguém com alguma limitação motora, me vi preocupado por não saber muito sobre outras comorbidades e sobre como as minhas experiências poderiam ou seriam úteis quando se trata da inclusão do outro.

Começo a pensar que mesmo que tenhamos deficiência, não olhar para nós e sim para o outro e buscar entender a necessidade do outro é o passo mais importante nessa relação.

Esse texto convida você, PESSOA COM DEFICIÊNCIA, para autocrítica, uma reflexão e uma constante e permanente avaliação de como você está trabalhando a favor do mundo mais inclusivo que tanto sonha!

*Vinícius Fonseca é pessoa com deficiência, jornalista, tecnólogo em gestão de Recursos Humanos com especialização em assessoria em Comunicação e MBA em Gestão de Pessoas. Também é escritor de poesias e contos, além de um eterno curioso.

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