Programação segue com roda de conversa sobre literatura, quizomba e mostra de arte indígena, plantio de árvores e lançamento de autobiografias

Mariana Guerin

O Abril UEL Indígena 2023 começa nesta quarta-feira (5), com a mostra do documentário “Este é o nosso Tekoha: Memória e Resistência Ñande Kera no Oeste do Paraná”, às 8h30, na Sala de Eventos do Centro de Educação, Comunicação e Artes (Ceca).

As histórias de vida, luta e resistência dos Tekoha Avá-Guarani da região Oeste do Paraná são os temas centrais do documentário de 32 minutos produzido, em parceria, por dois projetos de Pesquisa e Extensão da UEL.

O roteiro e a direção do documentário foram feitos de forma colaborativa, por meio de oficinas e rodas de conversa com as comunidades. As lideranças e os membros de cada povo indígena apontaram os nomes dos entrevistados, os temas a serem abordados e de que forma gostariam de ser representados pelas lentes.

“Foi um processo muito importante. Quem aparece no vídeo são as lideranças, nossos Chamoî (mais velhos) e nossas Chari’y (mais velhas), que estão passando seu modo de ver para os mais jovens e, também, para os não-indígenas entenderem esse contexto.”

“O projeto em si fala sobre memórias, conflitos, resistência, fala de fortalecimento da liderança”, comenta o estudante de medicina Avá-Guarani, Rodrigo Luís, responsável pela mediação e tradução das conversas. As imagens e entrevistas foram coletadas em 2018, durante visitas às comunidades nos Tekohas.

O documentário é uma parceria entre os projetos de pesquisa “A produção audiovisual como articuladora de sentidos de identidade e interculturalidade” e de extensão “O audiovisual para o fortalecimento da identidade indígena no processo educativo”, coordenados pela professora Mônica Kaseker, do Departamento de Comunicação.

Conta ainda com apoio do projeto “Conflitos e resistências para a conquista e demarcação de Terras Indígenas no Oeste do Paraná: os caminhos e as expressões do fortalecimento das lideranças e da cultura Guarani”, coordenado pelo professor Wagner Roberto do Amaral, do Departamento de Serviço Social.

Após a exibição do filme, haverá um debate com as pesquisadoras Ana Lúcia Ortiz e Gilza Ferreira Kaingang. A atividade será promovida pela disciplina Clínica do Social: políticas de subjetivação.

Gilza foi a primeira estudante indígena a obter o título de mestre na UEL. Ela pertence à etnia Kaingang e foi aluna do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Política Social da UEL.

Ela explica que a situação do povo Ava-Guarani é bastante diferente dos demais povos que contam com áreas demarcadas, pois eles lutam diariamente pela sobrevivência. O documentário investiga justamente os conflitos que os indígenas passam pela questão da terra.

“Sou uma parte deste processo de luta. O mestrado foi uma conquista individual, mas também de todo o povo Kaingang, Guarani e Xetá. Entendo que é um momento para contar nossa história. Até hoje narrada somente por não-indígenas”, diz Gilza.

Abril UEL Indígena tem programação extensa

A programação do Abril UEL Indígena segue na terça (11), com a roda de conversa sobre literatura indígena “Mulheres que inspiram”. A escritora indígena Eliane Potiguara, que falaria sobre sua obra “Metade cara, metade máscara”, não participará mais do evento de forma presencial. A conversa será na Sala 483, do Centro de Estudos Sociais Aplicados (Cesa), às 16h30, e se repetirá no dia 25 de abril.

Eliane Potiguara escreveu sete livros, além de ter textos publicados em sites, antologias, e-books nacionais e internacionais. Ela é Embaixadora da Paz pelo Círculo de Escritores da França, premiada pelo Pen Club da Inglaterra e Fundo Livre de Expressão, dos Estados Unidos, e participou da elaboração da Declaração Universal dos Povos Indígenas pela Organização das Nações Unidas.

No livro “Metade cara, metade máscara”, publicado em 2018, Eliane discute como a poesia indígena resiste na tradição oral, enraizada nas vivências de inúmeros povos originários. Este foi o primeiro livro individual publicado por uma mulher indígena no Brasil.

Eliane nasceu num contexto social fora das terras tradicionais da etnia Potiguara, que precisou migrar da Paraíba para o Rio de Janeiro por conta das invasões de terra. O livro narra a história vivida pelas mulheres de sua família ao longo do processo de colonização e utiliza a escrita poética como forma de libertação, seja pelo expurgo da dor ou pelo resgate da espiritualidade indígena, outrora repassada pela sua avó.

Quizomba com arte e apresentações culturais

No domingo (16), a Quizomba, das 15h às 21h30, reunirá exposições e mostras de arte indígena e apresentações culturais na Vila Cultural Canto MARL, no Centro de Londrina.

A programação segue na terça-feira (18), com o lançamento das autobiografias produzidas durante o Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica dos Estudantes Indígenas da UEL. O evento será na Sala de Eventos do Ceca, a partir das 19 horas.

O Abril UEL Indígena terminaria na terça-feira (27), com plantio de árvores em homenagem aos povos indígenas próximo ao Cequinha, às 18 horas, e com o lançamento do documentário “Terra sem Males”, com a presença do cacique da Terra Indígena Pinhalzinho, Reginaldo Aparecido Alves Guarani. Esta programação foi postergada para maio, conforme informou a organização.

No filme que seria exibido na Sala de Eventos do Ceca, a partir das 19 horas, três viajantes percorrem o caminho que os liga ao passado de suas origens. A aventura acontece nas ruínas das Missões Jesuíticas no Paraguai, Argentina e Brasil. Construídas entre os séculos XVII e XVII, hoje são Patrimônio da Humanidade.

A região foi palco da guerra entre os índios missioneiros contra Portugal e Espanha pela defesa da Terra sem Males. A Guerra Guaranítica dizimou a população indígena das Missões e definiu a fronteira sul do Brasil, nesse que foi um dos episódios mais sangrentos da história da América Latina. O filme de 50 minutos foi dirigido pela cineasta Claudia Dreyer e lançado em 2015.

Atualmente, há 38 estudantes indígenas estudando na Universidade Estadual de Londrina, em 15 cursos de graduação. Outros três estudantes estão em cursos de pós-graduação. Consideradas as sete universidades estaduais, o número de estudantes indígenas em cursos de graduação no Paraná soma 240 alunos.

(Atualizada às 14h57 do dia 05/04/2023)

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