Ser pessoa com deficiência impõe muitos desafios ao indivíduo. Cada limitação, física ou mental, tem a sua particularidade, uma atenção especial, um tratamento ou cuidado.

Por vezes, dentro de um mesmo diagnóstico, você pode ter diferentes quadros. Meu caso mesmo, a hipóxia neonatal (falta de oxigenação do cérebro durante o parto), tive um quadro que me ocasionou um pequeno abalo na coordenação motora e dificuldades para marcha, há casos da mesma doença, no entanto, em que o paciente vive quase que em estado vegetativo.

Outra deficiência que apresenta uma infinidade de variações é o autismo.

Eu poderia fazer um texto focado nesse grupo e exaltar “Dia Mundial da Conscientização do Autismo”, comemorado no último dia 02 de abril.

Exaltar a relevância dessa data, celebrar pais e mães que dedicam suas vidas à melhoria da qualidade de vida de seus filhos, falar dos avanços civilizatórios, como leis e a própria criação de um dia de conscientização ao autismo, mas a verdade é que acabei esbarrando em uma série de vídeos semanas atrás, vídeos que me tiraram o sono e me provocaram um profundo amargor no peito.

Trata-se de vídeos feitos em vagas exclusivas para autistas, que têm um símbolo diferente dos convencionais às pessoas com deficiência. São mais coloridos e de fácil identificação e que em razão disso são confundidos com símbolos LGBTQIA+ e viram piada na voz da pessoa que está filmando.

As imagens captadas pelo usuário, que além de falar besteira não tem coragem de se identificar, já são problemáticas apenas pela homofobia destilada nas piadas que nem o “tio do pavê” teria vontade de fazer, mas, para além disso, ainda geram desinformação.

Confira o vídeo que circulou nas redes:

Na era das redes sociais, em que conteúdos correm léguas, imagine quantas pessoas não foram infectadas por esse ódio, esse preconceito e, principalmente, essa desinformação.

Por sorte, encontrei entre os vídeos um em que uma pessoa com deficiência interrompe os absurdos ditos na gravação e explica o real significado do símbolo e a importância de sua existência naquele espaço.

Veja o vídeo:

Nós, PCDs, já temos que lutar contra diversos preconceitos no dia a dia, aliás, cada dia é uma superação só pelas dores físicas que algumas de nossas limitações nos causam e agora isso, lutar contra esse ódio destilado junto a tanta desinformação.

Esse texto poderia ser um texto de celebração ao dia de conscientização ao autismo, como se fosse toda uma semana especial, mas não, ele é o compartilhamento de uma angústia, a angústia de uma pessoa entre tantas que vê todo o seu esforço de promoção ao empoderamento da pessoa com deficiência e também de combate à Fake News ir pelo ralo por causa de gente com um celular na mão e nada na cabeça.

Se você chegou até aqui tenho esperanças de que seja diferente, façamos, então, um trato: quando vir um conteúdo duvidoso não o compartilhe, pesquise mais sobre o tema e só leve para frente aquilo que tem certeza de estar correto.

Use as possibilidades que as novas tecnologias nos dão para engrandecer o outro e não para colocar mais pedregulhos em seu caminho.

*Vinícius Fonseca é pessoa com deficiência, jornalista, tecnólogo em gestão de Recursos Humanos com especialização em assessoria em Comunicação e M.B.A. em Gestão de pessoas. Também é escritor de poesias e contos, além de um eterno curioso

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