O capacitismo volta a ocupar estas linhas tortas em razão do discurso do mesmo Lula, outra hora aqui elogiado
Por Vinícius Fonseca
Essa coluna já falou sobre a importância de se combater o capacitismo; essa coluna já falou sobre a esperança de um Brasil mais inclusivo e próspero. Essa coluna até mesmo elogiou o atual governo por colocar um representante das Pessoas com Deficiência (PCDs) para subir a rampa no dia da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 1º de janeiro de 2023.
Há quem goste dos pontos aqui abordados, há quem “torça o nariz”, mas há uma coisa da qual essa coluna nunca se furtou: colocar o dedo na ferida em alguns assuntos. Desta vez o capacitismo volta a ocupar essas linhas tortas em razão do discurso do mesmo Lula, outra hora aqui elogiado.
Há um provérbio bíblico que diz: Palavras impensadas são como os golpes de uma espada, mas a língua dos sábios é uma cura. (Provérbios 12:18). De fato, tendo a concordar com isso, afinal, como golpes de uma espada, palavras impensadas do Presidente feriram a esperança de um País mais inclusivo.
No último dia 18 de abril, em discurso para autoridades, o chefe máximo da nação fez uma ilação ao dizer que no Brasil deveriam existir cerca de 30 milhões de pessoas com deficiência mental e que isso indicaria um alto número de “pessoas com um parafuso a menos”, o que, segundo ele, aumenta a chance de episódios que choquem a sociedade, como ataques às escolas.
Trocando em miúdos, pessoas com deficiência mental seriam responsáveis pelas atrocidades, e como existe um grande número de brasileiros nesta condição, há chance desses fatos se tornarem comuns. Errou por muito e errou duas vezes.
Primeiro porque o número de pessoas com deficiência no Brasil, segundo as pesquisas mais recentes, gira em torno de 17 milhões. Segundo, porque nem todas as deficiências são de cunho mental – e ainda que fossem, não têm nenhuma relação direta com acessos de fúria ou violência.
O que o Presidente fez foi apelar para o bom e velho capacitismo, sem base alguma na realidade. Isso é triste!
Imagina se eu resolvesse pagar nessa mesma moeda e apelasse para o etarismo, dizendo que ele está velho e velho às vezes fala o que não deve. O que me lembra outro provérbio, este mais popular: Olho por olho, todos ficaremos cegos.
A mim só resta lamentar a fala de Lula e aguardar com a minha ferida esperança que ele ao menos tenha a decência de se retratar publicamente.
*Vinícius Fonseca é pessoa com deficiência, jornalista, tecnólogo em gestão de Recursos Humanos com especialização em assessoria em Comunicação e M.B.A. em Gestão de pessoas. Também é escritor de poesias e contos, além de um eterno curioso.
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