Por Beatriz Herkenhoff*
O que escrever quando estamos no paraíso? O que falar e o que calar?
É preciso silenciar para admirar. Deixar que a beleza impactante da natureza nos transporte para um mundo em que tudo se relaciona harmonicamente.
Não existe competição. Não existe desejo de aprovação. Tudo se complementa e dialoga.
Estou no Parque Nacional da Chapada Diamantina, BA.
As inúmeras quedas d’água, nascentes, rios, poços e cachoeiras exuberantes colocam-me em contato com o momento em que fui gerada e acolhida no útero da minha mãe. Confortavelmente protegida, relaxada e segura na bolsa d’água, minha primeira morada.

Quando deixo-me lavar pelas águas das cachoeiras e rios da Chapada, volto a ser criança.
Indefesa diante da grandiosidade da natureza e, ao mesmo tempo, forte porque reativo a minha energia vital.
Sinto-me privilegiada por estar vivendo essa experiência com quatro jovens vibrantes, amorosos e entusiasmados com a vida: Stefano, Marcelo, Felipe Maia e Babi.
Saímos de carro de Seabra em direção ao Vale do Cercado, inesperadamente fomos surpreendidos com um visual fantástico, nos deparamos com os Morros do Pai Inácio, do Camelo e dos Brejões.
Pura emoção! Afirmamos que é uma das estradas mais lindas do Brasil. As palavras ficaram limitadas para expressar os sentimentos e as sensações. O olhar tornou-se pequeno para registrar tamanha beleza.

Fizemos a linda trilha da Cachoeira do Pai Inácio. A cada passo, a natureza se impõe.
Eu oro e agradeço a Deus por manifestar o Seu amor de forma tão delicada e potente.
Amo relaxar nos poços com águas cristalinas e, também, escuras. É um presente que me dou, um carinho, um auto cuidado.
Uma parada necessária para seguir na jornada da vida.
Os jovens pulam, mergulham, nadam. Expressam sua alegria e gratidão por esse momento único.
A água gelada é transformadora, arranca tudo que está sobrando. Solta, limpa, libera, cura, renova…
Da janela do nosso chalé avistamos os morros do Camelo e dos Brejões.
Dormimos e acordamos admirando essas rochas impactantes.
O que elas nos falam sobre a nossa força e potência interior?

À noite sentamos em torno do fogão à lenha e a lua cheia nos invadiu com sua beleza.
Que linda companhia! Veio para nos avisar que a sua luz está sempre nos conduzindo e guiando.
Numa roda de conversa ficamos imaginando o poder da lua cheia antes da luz elétrica.
Num lugar totalmente escuro, a lua cheia tudo ilumina, permite deslocamentos e dá segurança.
Mais uma surpresa, o morro dos Brejões capta e absorve a luz da lua e se torna iluminado, como se fosse um farol. Um belíssimo visual para encerrar à noite.
No meu livro “Legados: crônicas sobre a vida em qualquer tempo” (2022) escrevi sobre a Chapada Diamantina, e hoje reafirmo as sensações registradas naquele momento: “Conhecemos um dos lugares mais lindos do mundo. Descobrimos um oásis em pleno sertão nordestino. O silêncio da natureza me virou do avesso. O confronto entre sua imensidão e minha pequenez gerou muitos questionamentos.”
E para completar comemoramos o aniversário de Marcelo, com um delicioso café da manhã, com direito a bolo. E passamos o dia desfrutando os encantos do rio Santo Antônio, no Vale do Cercado.
Conte-me sobre suas experiências com a natureza.
*Beatriz Herkenhoff é assistente social. Professora aposentada do Departamento de Serviço Social da UFES. Com doutorado pela PUC-SP. Autora do livro: “Por um triz: Crônicas sobre a vida em tempos de pandemia” (2021) e “Legados: Crônicas sobre a vida em qualquer tempo (2022)
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